Sexta 3 de Maio de 2024

Internacional

Votar nulo é fazer o jogo da reação?

No que consiste e quem faz o jogo da direita?

10 Dec 2006   |   comentários

Há uma espécie de resposta automática que coloca que chamar a votar nulo é “fazer o jogo da direita” . Na boca dos burocratas que hoje dirigem o Estado, estes não são mais que argumentos para deslegitimar automaticamente qualquer crítica séria ou oposição pela esquerda ao governo de Chávez. No caso daqueles que dizem compartilhar de nossa caracterização sobre o projeto político de Chávez, é já uma desculpa para justificar seu oportunismo político. Mas no caso daqueles que honestamente apostam em uma transformação revolucionária da sociedade venezuelana, é uma sincera preocupação. É com estes que queremos dialogar.

No cenário nacional se projeta um quadro que apresenta toda a situação nacional reduzindo-a ao contraste entre dois campos, o de Chávez e o da oposição e do imperialismo, uma lógica de "bi-campista" que nega a possibilidade de uma política operária independente, a da classe trabalhadora. Esta é a verdadeira divisão existente no país, entre aqueles que vivem do trabalho alheio e os que só dispõem de sua força de trabalho para sobreviver, é uma divisão entre classes sociais. Esta questão básica, aparentemente tão evidente para todos, reveste primeiríssima importância aos que se colocam na perspectiva da luta de classes, pois ainda quando as classes exploradas e oprimidas do país tenham dado tudo de si na luta contra o «bando» da reação pró-imperialista, defendendo o «bando» do governo de Chávez, este, precisamente, devido ao caráter de classe de seu projeto, não moveu uma palha para pór fim ao poder e à exploração dos capitalistas, tanto nacionais como estrangeiros. Se concordamos em chamar de «direita» os capitalistas e os que os representam politicamente, podemos dizer com toda a certeza que Chávez «fez o jogo deles».

Por trás do golpe de abril e da paralisação-sabotagem estava não apenas o próprio Bush, como os generais golpistas e os partidos da «Coordenação Democrática», na realidade estes eram os expoentes políticos dos interesses económicos dos capitalistas. Foram as trás-nacionais e os empresários nacionais que promoveram ou apoiaram estes ataques. Porém, uma vez que estes foram derrotado pelo movimento de massas, mediante às tentativas reacionárias de tirá-lo do poder, Chávez não fez mais que conciliar com estes setores, deixando intactas suas propriedades e negócios. Como se isso não bastasse, após o referendo revogatório de 2004, ao voltar à «normalidade» em âmbito nacional, o governo póde lançar cheques em branco às suas negociações e acordos com os empresários nacionais, e às petroleiras estrangeiras. Inclusive foi Chávez que, sem tomar uma única medida, teria sido contra os responsáveis políticos por estes assaltos, e tendo a oportunidade, deixou tudo nas mãos dos tribunais, tendo a insolência de conclamar a decisão do TSJ ao absolver os generais gorilas; se Rosales, que apoiou abertamente o golpe de abril, está hoje livre e fazendo campanha para a presidência, é única e exclusivamente responsabilidade do governo. «A direita» sobrevive graças às negociações e acordos selados por Chávez.

As massas trabalhadoras derrotaram o golpe e a paralisação, derrotaram o revogatório, porém a política de Chávez permite que os capitalistas continuem vivendo da exploração e multipliquem os seus lucros, deixando em liberdade quase todos os seus dirigentes políticos golpistas; enquanto precisamente por esse motivo, as principais demandas operárias, camponesas e populares continuam sem respostas. Quem então faz o jogo de quem? Justamente se algo está pendente na política nacional desde uma perspectiva de esquerda, operária e verdadeiramente socialista, trata-se de lutar para que os trabalhadores e as trabalhadoras se armem com um programa e uma estratégia próprios, por fora da tutela e do projeto nacional-burguês de Chávez, para lutar conseqüentemente contra a exploração capitalista.

Supondo, como afirma o mesmo Chávez, que este viesse a perder as eleições, em nada teria sido responsabilidade daqueles que chamaram o voto nulo frente à ausência de uma candidatura própria dos trabalhadores, independente do governo. Caso essa hipótese se confirmasse, isto significaria que um grosso setor que apoiava Chávez teria deixado de apoiá-lo, conferindo-lhe plena responsabilidade, pois é por sua política de negociação e acordos com os capitalistas que a direita pró-imperialista está em vias de recuperação, deixando sem respostas os problemas mais alarmantes do povo trabalhador.

Por estes motivos, desde a Juventud de Izquierda Revolucionaria lutamos no PRS pela apresentação de uma candidatura própria dos trabalhadores que mais de uma vez se mostraram capazes de barrar a reação, para que o povo não tenha que decidir entre o candidato do imperialismo e o da negociação com os capitalistas.

A Juventud de Izquierda Revolucionaria (JIR), é a organização irmã da LER-QI na Venezuela, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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