Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

Eleições presidenciais na Venezuela

Frente à ausência de uma candidatura operária independente: votar nulo

10 Dec 2006 | No dia 03 de dezembro o povo venezuelano irá as urnas para as eleições presidenciais. Chávez que continua gozando de imensa confiança das massas, é apontado como o grande favorito. Além de seu discurso anti-Bush e de algumas poucas concessões dadas em 8 anos de governo, é responsável por este favoritismo a própria esquerda venezuelana em particular, e do continente em geral, que levam sistematicamente uma política de embelezamento deste como se realmente fosse uma alternativa de fundo aos trabalhadores e ao povo. Passam por cima, por exemplo,do fato de que Chávez buscou pactuar e fortalecer setores do empresariado daquele país, e tem reprimido através da Guarda Nacional setores da vanguarda operária e camponesa que sai a lutar por suas demandas[1]. Publicamos abaixo os artigos da JIR, nossa organização irmã na Venezuela que neste momento atua como fração pública do PRS[2] combatendo por uma saída revolucionária baseada na independência de classe dos trabalhadores para estas eleições, em oposição à política da direção majoritária deste partido, que se lançou a fazer campanha pela reeleição de Chávez.   |   comentários

No dia 03 de dezembro o povo venezuelano irá as urnas para as eleições presidenciais. Chávez que continua gozando de imensa confiança das massas, é apontado como o grande favorito. Além de seu discurso anti-Bush e de algumas poucas concessões dadas em 8 anos de governo, é responsável por este favoritismo a própria esquerda venezuelana em particular, e do continente em geral, que levam sistematicamente uma política de embelezamento deste como se realmente fosse uma alternativa de fundo aos trabalhadores e ao povo. Passam por cima, por exemplo,do fato de que Chávez buscou pactuar e fortalecer setores do empresariado daquele país, e tem reprimido através da Guarda Nacional setores da vanguarda operária e camponesa que sai a lutar por suas demandas [1].

Publicamos abaixo os artigos da JIR, nossa organização irmã na Venezuela que neste momento atua como fração pública do PRS [2] combatendo por uma saída revolucionária baseada na independência de classe dos trabalhadores para estas eleições, em oposição à política da direção majoritária deste partido, que se lançou a fazer campanha pela reeleição de Chávez.

No atual processo chamamos a votar nulo ante a ausência de uma candidatura operária independente que represente os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras do país. É evidente que a candidatura de Manuel Rosales não representa mais que os interesses diretos do imperialismo e dos setores da burguesia nacional mais pró-ianques; são os mesmos que derrotaram a sangue e fogo o Caracazo, os mesmos dos planos servis ao FMI e ao Banco Mundial, os do golpe de abril, da paralisação patronal e sabotagem petroleira. As maiorias trabalhadoras e pobres do país o sabem e faz tempo que lhe deram as costas a estes setores entreguistas e repressivos! No campo da classe trabalhadora a discussão se centra obviamente em torno do projeto e da figura de Chávez, que diz encabeçar uma revolução e representar os interesses dos explorados e dos pobres.

Desenvolvemos em números anteriores porque ainda que se enfrente no cenário nacional ao puntofijismo, ainda quando tenha sido objeto de tentativas de derrubada por parte da burguesia e do imperialismo, aos quais resistiu graças ao apoio das massas e da combatividade destas, Chávez e seu governo longe de representar uma proposta revolucionária, e por sua vez consequentemente antiimperialista e verdadeiramente anticapitalista. Dizemos que este encabeça um projeto de reformas que não vai mais além do impulso ao “desenvolvimento nacional” mediante uma aliança entre o Estado e setores do empresariado nacional. É um limitado nacionalismo burguês que não é capaz de ir até o final na luta pela libertação nacional, e muito menos contra a exploração capitalista.

Todos os partidos, agrupações e ativistas que se reclamam da esquerda no país, respaldam o chamado à reeleição de Chávez, inclusive todos os grupos que se reclamam trotskistas. Neste vendaval estão desde os que o fazem incondicionalmente, que formam parte integral e dirigente do projeto de Chávez, como os “partidos de mudança” , o Partido Comunista e a UPV, até os que o fazem “criticamente” , “taticamente” , para “derrotar a direita” , ou para “acompanhar as massas” , com é o caso da maioria das correntes que se reivindicam do trotskismo. Pareceria que independente de que seja chavista convencido, ou que se reivindique revolucionário “independente” ou “marxista revolucionário” não há problema algum em apoiar eleitoralmente Chávez.

A questão central é que nas eleições presidenciais o que se coloca em pauta são os projetos de país das formações políticas que representam determinadas classes ou setores de classes. O voto por alguma opção presidencial implica respaldar seu projeto político e os interesses de classe que representa. A partir desta perspectiva, ainda que não seja a do imperialismo ou dos setores mais concentrados da burguesia nacional, o projeto de Chávez não representa tampouco os interesses operários e populares, senão uma variante nacionalista. Para Rosales e companhia, o país deveria abrir suas portas para que o imperialismo explore nossos recursos e força de trabalho incondicionalmente, incluindo o petróleo com o Estado atuando só como garantidor da legalidade e estabilidade burguesas, assim como alinhar o país detrás de todas as iniciativas imperialistas ianques. É um plano de entrega completa, sem disputar sequer a mais-valia que os capitais imperialistas levariam, conformando-se com as migalhas que ficariam para os empresários que formam parte na engrenagem do capital transnacional e para os burocratas do Estado que favoreçam estes negócios. É o plano dos anos de decadência puntofijista.

Por sua vez, Chávez defende um papel central para o Estado na condução da economia, conservando este a propriedade e o controle da renda petroleira, negociando também com os capitais transnacionais, mas regulados estes pelo controle estatal; assim a renda petroleira em mãos do estado e os impostos cobrados aos capitais estrangeiros são usados para o desenvolvimento e a produção “nacionais” , isto é, a produção estatal e a privada; assim como para os planos de atenção social e desenvolvimento das cooperativas e microempresas. É um projeto que reivindica para “o país” a propriedade do petróleo e uma porção dos lucros imperialistas, com o que se propõe impulsionar o crescimento e desenvolvimento do empresariado nacional (não é casual sua aliança com os empresários agrupados na Fedeindustria e Confagan). Sua expressão no plano das relações com o imperialismo ianque é de maior independência, assim como aposta na formação de blocos regionais para melhor negociar com o imperialismo1, como o MERCOSUL, detrás do qual estão as burguesias dos países semicoloniais e as transnacionais que atuam nestes. Por outro lado, Chávez é respaldado por um grande movimento de massas que espera respostas a suas demandas. É isso o que traz a oposição tenaz do imperialismo ianque e a grande burguesia nacional.

Mas no projeto de Chávez ’ e após quase 8 anos de governo -: não vemos nada de expulsão das transnacionais e expropriação dos capitais imperialistas que tanto nos roubaram durante quase um século, nada de expropriação dos parasitas banqueiros e socialização de sua riqueza, nada de expropriação da exploradora burguesia nacional e posta da economia sob controle dos trabalhadores e do povo, nada tampouco de expropriação sem indenização de todos os latifundiários e entrega destas terras aos camponeses pobres. Com o projeto de Chávez e seu governo os empresários e banqueiros (nacionais e estrangeiros) seguem fazendo seus lucrativos negócios, vivendo da exploração e da pobreza da classe operária e do povo trabalhador. Em última instância é o normal funcionamento de qualquer economia capitalista. Certo é que, entretanto, o grosso dos trabalhadores e do povo pobre crêem em Chávez e confiam que este resolverá sua situação. O fato de que seja assim e não haja ainda importantes setores operários levantando uma política operária independente, é em boa parte responsabilidade daqueles que dirigem o movimento operário, particularmente aqueles que se dizem marxistas revolucionários, pois se negam a explicar com claridade qual é o verdadeiro projeto do governo e a aproveitar as numerosas lutas que setores de trabalhadores vêm dando para demonstrar como aqueles que não têm suas demandas fundamentais resolvidas é responsabilidade do governo. Neste sentido, é responsabilidade da maioria na direção do PRS que não haja uma candidatura própria dos trabalhadores, de luta conseqüente contra a exploração capitalista, existindo as possibilidades reais para levanta-la. É ante esta ausência de uma candidatura operária independente que chamamos a votar nulo.

A Juventud de Izquierda Revolucionaria (JIR), é a organização irmã da LER-QI na Venezuela, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

[1Ver www.jir.org.ve

[2Partido Revolución y Socialismo, seus dirigentes mais conhecidos são Orlando Chirino e Stalin Pérez Borges. O setor majoritário mantém relações internacionais com a CST, que no Brasil atua no PSOL. Para acessar o conjunto de artigos sobre a atuação no PRS, acessar www.ft-ci.org ou www.jir.org.ve

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