Segunda 6 de Maio de 2024

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Não pagaremos os efeitos da crise

15 Nov 2008   |   comentários

No começo dos anos 90 a classe trabalhadora teve que suportar sob suas costas ferozes ataques capitalistas, arcando com o desemprego massivo, a inflação que corroía os salários e depois a estabilização monetária ’ baixa inflação ’ que também resultou em perda do poder aquisitivo dos assalariados. Durante o período em que os capitalistas se vangloriavam de que “o socialismo morreu” e o “capitalismo é o único regime económico e a democracia burguesa a única forma política da sociedade” , os trabalhadores pagaram muito caro: privatizações, demissões, PDVs, bancos de horas, férias coletivas, suspensões de contratos (lay off), jornadas de trabalho flexíveis com redução salarial etc. Esta foi a base do crescimento económico e do enriquecimento dos ricos nestes últimos anos.

Este ciclo de crescimento económico significou maiores lucros para as patronais e mais exploração para a classe operária, ainda que tenha havido alguma recuperação no emprego e nos salários (precários) desde 2005. Em 2007, quando se atingiu o maior crescimento do PIB (produto interno bruto) deste ciclo, os salários representaram apenas 40% da renda nacional, ficando abaixo de 1990 (45,4%). A minoria capitalista tem aumentado sua parte na renda nacional, sem contar a especulação financeira. Esta é a cara da desigualdade social no capitalismo. Agora, com a crise mundial os capitalistas já mostram o que preparam contra a massa trabalhadora e a sociedade para defender seus interesses.

A direção da CUT quer que os trabalhadores entre com o pescoço... e o patrão com a corda

Diante desse quadro, nos cabe perguntar como atuam os sindicalistas que dirigem os principais e mais importantes sindicatos do país. A CUT é reconhecida por milhões de trabalhadores como uma central sindical combativa, a favor dos trabalhadores. Porém, a CUT, na década de 1990, se aliou aos diversos setores burgueses, mesmo estando na oposição aos governos de turno, para defender um programa de “distribuição de renda” , “valorização do trabalho” e “justiça social” . Ou seja, uma forma política de defesa de um capitalismo com “cara mais humana” , “menos selvagem” , porém preservando as bases desta sociedade: a propriedade privada das terras e dos meios de produção e a submissão do país ao imperialismo. Com essa estratégia, a partir de 2003 a direção da CUT passou a apoiar incondicionalmente o governo Lula, integrando ministérios e órgãos governamentais.

Agora, nesta crise estrutural do capitalismo, que nos reserva catástrofes para o futuro, a direção cutista volta com sua velha estratégia de conciliação com a burguesia, propondo outra vez “distribuição de renda” e “valorização do trabalho” . Ora, se nos tempos das vacas gordas os capitalistas não distribuíram renda nem valorizaram o trabalho, como esses dirigentes podem manter esse programa numa etapa onde a crise capitalista prepara demissões, fechamentos de empresas, cortes salariais e de direitos, ao lado de muito dinheiro para salvar os capitalistas?

Ao lado dos burocratas da CUT está a CTB (central fundada pelo PCdoB), Força Sindical, UGT, CGTB e Nova Central Sindical preparando para o dia 3 de dezembro, em Brasília, a dita 5ª Marcha da Classe Trabalhadora pelo Desenvolvimento e Valorização do Trabalho. Obviamente, sem a participação direta e democrática da massa de trabalhadores. E, mais criminoso ainda, sem qualquer programa e proposta de luta contra os ataques patronais que já se configuram nas férias coletivas, suspensões de trabalho e demissões, muito menos contra a entrega de bilhões de dólares que Lula destina para “salvar” os banqueiros e os empresários. Ao contrário, esses dirigentes sindicais governistas e pró-patronais se apresentam, mais uma vez, como “gerentes de RH” dos empresários. É o que se pode concluir da proposta de Sidney Malaquias, secretário de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (CUT), que procurou o governador do estado (Eduardo Braga, do PMDB) propondo que “se confirmada alguma decisão empresarial sobre demissões, a proposta sindical é de suspensão temporária dos contratos de trabalho - conforme a necessidade da empresa” . Essa é a proposta dos sindicalistas pró-patronais diante da onda de férias coletivas e demissões, principalmente em Manaus onde empresas como Sony e CCE demitiram 600 funcionários e outras ameaçam o mesmo ataque.

Os trabalhadores podem impedir esse futuro sombrio

Se nesses últimos anos perdemos muito com a exploração capitalista e pela responsabilidade desses dirigentes sindicais conciliadores, daqui em diante não podemos nos deixar enganar outra vez: para enfrentar essa crise e os planos capitalistas, necessitamos completa independência política e programática perante todos os setores patronais e os governantes. A CUT (e os demais sindicalistas conciliadores) tudo farão para convencer os trabalhadores de que defender as empresas e os bancos (grandes, multinacionais, pequenas ou médias) garantirá emprego e salários. Nada mais falso! Já vimos esse triste filme nos últimos anos. Não podemos cair nessa outra vez.

Por que razão o governo entrega R$ 4 bilhões a essas montadoras quando elas enviaram para suas matrizes e ao exterior mais que o dobro (US$ 4,8 bilhões ou R$ 9,1 bilhões em dólar de 30/09)?

Portanto, os trabalhadores não podem se iludir com a mentira de que “se salvam os capitalistas nos salvamos” . Somente confiando em nossas próprias forças poderemos impedir que as conseqüências dessa crise capitalista sejam descarregadas sobre nossos ombros.

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