Quarta 8 de Maio de 2024

Juventude

Mais de 70 alunas contra os trotes machistas no Instituto de Artes

26 Feb 2015 | Em 24 de fevereiro, primeiro dia da calourada do Instituto de Artes na Unicamp, ocorreu a primeira atividade realizada pela Comissão Contra Trotes Machistas do IA. Tomamos a iniciativa de organizar essa comissão devido à ausência de discussões a respeito do machismo dentro do instituto.   |   comentários

Em 24 de fevereiro, primeiro dia da calourada do Instituto de Artes na Unicamp, ocorreu a primeira atividade realizada pela Comissão Contra Trotes Machistas do IA. Tomamos a iniciativa de organizar essa comissão devido à ausência de discussões a respeito do machismo dentro do instituto.

Por ser um ambiente ocupado por artistas, é comum o discurso de que aqui é um local livre de opressões, e por isso existe certo descaso de alguns setores em relação a esses debates. No entanto, no IA já ocorreram casos de agressão que passaram impunes, em parte porque a própria instituição é conivente e frequentemente reproduz essas opressões, além de ser aliada a um governo igualmente conivente e opressor, pois tem em sua base eleitoral elementos conservadores como Bolsonaro e Eduardo Cunha.

A ideia da comissão logo se desenvolveu para a construção de um Núcleo de Resistência das Mulheres do IA, para não deixar passar nenhuma agressão, sabendo que esses ataques fazem parte do machismo estrutural que nos impede de usar a roupa que quisermos e nos relacionar com quem quisermos, mas não sem refletir mais a fundo sobre o machismo dentro e fora da universidade, das trabalhadoras e jovens que sofrem com assédio no trabalho, ônibus e mesmo em casa, para conseguirmos combatê-lo até o fim.

A atividade foi realizada dentro do estúdio da Midialogia e consistiu em uma roda de conversa para a qual convidamos todas as calouras do Instituto. Para nossa surpresa o estúdio ficou lotado, contando com a presença de 71 mulheres, sendo cerca de 60 delas calouras. Na abertura, deixamos claro o papel da Comissão e do Núcleo como locais onde todas têm voz e discutimos a presença do machismo dentro e fora da universidade, passando pelo histórico de agressões ocorridas no IA.
Importantes pautas foram citadas pelas próprias calouras, como o lugar da mulher trans* e da mulher negra dentro da universidade e do próprio IA, sendo este um ambiente extremamente elitista, resultado da segregação social causada pelo vestibular.

As calouras demonstraram-se muito interessadas em construir o Núcleo de Resistência, reflexo de uma vontade de se organizar para combater de fato o machismo. Do mesmo jeito mostraram-se positivas ao conhecer este novo espaço de luta, pois muitas delas nunca tiveram a oportunidade de se organizar.
Recentemente, um número enorme de denúncias de estupro e violência dentro da USP veio à tona e levou a uma CPI de apuração dos casos ocorridos dentro das universidades paulistas. Na Unicamp as denúncias também são muitas, principalmente na FCM. E para além de agressões físicas, somos também alvo de agressões verbais e psicológicas em todos ambientes, desde em festas até em aulas de determinados professores, casos que acontecem com frequência no IA.

Em um ano em que a gestão do DCE na Unicamp é composta por uma corrente que é base eleitoral do PT, (UJS), e por isso não vai estar disposta a dialogar até o fim com os setores oprimidos porque esse diálogo não é do interesse do governo e da reitoria, torna-se fundamental a criação de um Núcleo de Resistência de Mulheres para nos organizarmos em luta, em oposição a essas direções governistas, seja na recuperação de nossa história, que não é estudada na universidade (ou, quando é, não é aplicada para fins práticos, ficando só na teoria), seja para garantir um local onde as estudantes possam fazer denúncias e articular respostas a elas, e, mais importante, organizar todos os estudantes na luta contra o machismo estrutural e as opressões como um todo.

Convidamos todos os institutos para se juntarem à luta na formação de secretarias e núcleos de mulheres por toda a Unicamp! Pela construção de um 8 de março combativo contra os ataques do governo! Por uma universidade verdadeiramente pública e livre de opressões!

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