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Quinta 2 de Maio de 2024

Internacional

A 70 ANOS DO ASSASSINATO DE LEON TROTSKY FRENTE A CRISE CAPITALISTA MUNDIAL

Grande Ato Internacionalista

17 Aug 2010   |   comentários

Publicamos abaixo texto do PTS Argentino

O 70º aniversário do assassinato de Leon Trotsky ocorre quando estamos atravessando um período marcado pela crise capitalista internacional, a três anos de seu início no meio de 2007 e a quase dois anos da quebra do Lehman Brothers(um dos maiores bancos do mundo), em setembro de 2008. Desde então, os governos de todo mundo realizaram bilionários resgates para salvar os lucros dos banqueiros e dos grandes monopólios, enquanto multiplicam os ´´planos de ajuste´´ e outras formas de ataque contra os trabalhadores e os povos, como temos visto nestes meses, especialmente em países da União Européia como Grécia, Espanha, Grã-Bretanha ou Alemanha. Enquanto os Estados tem multiplicado suas dívidas, cada vez mais difíceis de pagar(o que motoriza novas convulsões e quebras), o desemprego cresceu em numerosos países. Somente em 30 países da OCDE [1](integrada pelas principais economias capitalistas) existem 25 milhões de novos desempregados de 2007 até atualmente.

Mais do que as conjunturas e desigualdades com que a crise se expressa nos distintos países e regiões, vivemos uma etapa marcada por uma crise capitalista de caráter histórico. Neste contexto, nos reuniremos em Buenos Aires dirigentes e lutadores operários e socialistas da Europa e América Latina, para discutir qual é a estratégia que deve levantar a classe trabalhadora frente as convulsões políticas e sociais que a crise prepara(guerras, cracks econômicos, crises políticas, rebeliões e revoluções).

A burocracia sindical debilita a resistência operária

O principal limite que teve a resistência operária a estes planos de ajuste foi a complacência dos burocratas sindicais, que de nenhuma maneira querem desatar a força da classe operária. No máximo se limitam a fazer uma ou outra manifestação ou greve, porém de nenhuma maneira estão dispostos a encarar uma luta séria para derrotar a ofensiva capitalista. Esta é a principal trava que tem, entre outros, os trabalhadores gregos, espanhóis, alemães, franceses; nem falar dos norte-americanos. E é também o principal limite que temos os trabalhadores argentinos ou brasileiros, onde o principal ataque vem por parte do aumento inflacionário, com as centrais sindicais apoiando as políticas governamentais.

Se é posta em movimento, a força da classe operária é imensa. Isto é algo que os capitalistas querem ocultar. Inclusive chegaram a difundir teorias sobre o ’’fim do trabalho’’, quando nunca houve a nível mundial tantos milhões de assalariados.

Os limites da restauração e a ofensiva do capital

Depois dos levantamentos revolucionários em todo o mundo na década de 70, o capital imperialista lançou uma ofensiva sobre os trabalhadores e os povos oprimidos do mundo, liquidando conquistas alcançadas durante o século XX. Graças a colaboração das burocracias sindicais e das direções políticas reformistas que assumiram o discurso de que ’’não havia alternativa’’ ao neoliberalismo, não somente caiu de maneira generalizada os salários e precarizou-se o trabalho, senão que se restaurou o capitalismo na União Soviética, nos países do Leste Europeu e na China. Na América Latina, as privatizações e o endividamento externo reforçaram as cadeias de submetimento a dominação imperialista. Os apologistas do capitalismo se apoiaram nestas derrotas da classe operária para decretar que o socialismo estava morto e que o capitalismo reinaria sem oposição, deixando para trás a época das crises, das guerras e das revoluções.

Sem dúvida, o que estamos presenciando tem desmentido estas afirmações. O respiro conseguido pelo capitalismo mundial sobre as derrotas da classe operária mundia tende a esgotar-se. As massas operárias e populares vem acumulando experiências de luta e se desvencilhando das derrotas passadas. Uma nova geração operária em todo o mundo está passando pela escola da super-exploração e da crise do capital. Até na China, que foi o pulmão do capitalismo mundial nestes anos, começou um processo de greves e lutas operárias de magnitude.

A atualidade do legado revolucionário de Trotsky

O grande paradoxo que tiveram os triunfos revolucionários do século XX é que sobre as grandes conquistas que foram a expropriação dos capitalistas e que as fábricas, bancos e terras passem a ser propriedade nacionalizada, se montaram burocracias privilegiadas que usurparam o poder a classe operária. Na União Soviética esse processo se deu mediante uma série de golpes contra-revolucionários que levaram a prisão e a morte a centenas de milhares de revolucionários. A burocracia, liderada por Stalin, sujou o nome do socialismo e do comunismo aos olhos de milhões. Os capitalistas utilizaram o despotismo burocrático para desacreditar a luta pela emancipação dos trabalhadores. Trotsky, que havia encabeçado a revolução de outubro junto a Lenin, enfrentando inflexivelmente tanto o imperialismo mundial como a burocracia contra-revolucionária, se converteu no nome próprio da alternativa marxista ao estalinismo. Por isso foi enviado ao exílio e depois assassinado a mando de Stalin.

Trotsky havia feito o prognóstico que se uma revolução política(que mantivesse a propriedade nacionalizada mas também varresse com o regime burocrático instaurando uma democracia dos trabalhadores) não terminava com a burocracia governante esta impulsionaria a restauração capitalista, tal como terminou ocorrendo, já que os distintos levantamentos que protagonizaram as massas contra as burocracias governantes não terminaram em triunfos da classe operária. Algo similar ocorre hoje em Cuba, em que frente a pressão do imperialismo a burocracia do Partido Comunista está dando passos crescentes em favorecer a restauração do capital.

No momento que se aproximava a Segunda Guerra Mundial, Trotsky fundou a Quarta Internacional, buscando preservar o legado revolucionário das internacionais operárias anteriores. Esse legado recorria a experiência de mais de um século de luta pela emancipação da classe operária, assim como o combate dado contra a degeneração estalinista dos partidos comunistas e da Terceira Internacional. Em seu programa, a Quarta Internacional sintetizava uma estratégia para que a classe operária tomasse o poder e avançasse na construção do socialismo a nível mundial, terminando com a exploração capitalista e com todas as formas de opressão. Com as fábricas, empresas, bancos e terras nas mãos da classe trabalhadora, a economia poderia planificar-se de forma democrática em função de satisfazer as necessidades populares e assim terminar com todos os flagelos próprios do capitalismo, incluindo as desigualdades sociais que lhe são próprias.

Os desafios de nosso tempo

Ainda que hoje não estamos em vésperas de uma guerra mundial, estamos vivendo um período de crescentes convulsões. A classe operária em alguns países vem fazendo novas experiências de luta e organização, e em alguns casos reconquista suas organizações (corpos de delegados, comissões internas, sindicatos) das mãos da burocracia sindical. É fundamental que estas experiências se estendam. Porém para os novos lutadores o grande desafio é ampliar sua visão para além das lutas sindicais. Se trata de ter total clareza de que o capitalismo empurrará a classe operária e toda a humanidade por um caminho de barbárie se os trabalhadores não são capazes de construir uma direção revolucionária a nível nacional e internacional. Em meio a crise capitalista, o legado de Trotsky e a luta pela reconstrução da Quarta Internacional, adquirem mais vigência que nunca.

Em nosso país, mesmo tendo ocorrido uma importante recuperação econômica como nos últimos meses, não se pode perder de vista que qualquer estremecimento da economia mundial – como os que se anunciam – mostrará a fraqueza sobre a que se assenta o atual esquema econômico como já vimos no final de 2008 e durante a primeira metade de 2009. Durante esse ano se evaporaram 300 mil empregos, que o governo deixou correr. Este mesmo governo, apesar de se apresentar como defensor dos Direitos Humanos, não vacilou em mandar a ´´Policia Bonaerense´´ contra os operários de Kraft na grande luta de 2009 contra a multinacional norte-americana, e mantém mais de 4000 processados por lutar. A mesma luta de Kraft mostrou a potencialidade dos setores estratégicos da classe operária para enfrentar a patronal e a burocracia sindical quando existem direções anti-burocráticas e combativas, e um embrião de aliança entre operários, desempregados e estudantes, que se generalizasse seria decisiva. Também seguem vivas experiências que vem da crise de 2001, como a ocupação de fábricas e gestão operária, com Zanon como máxima expressão e mais recentemente a luta dos operários de Stefani, também em Neuquén. Nenhum operário ou estudante consciente pode deixar de lado estas lições e nem depositar a menor confiança no kirchnerismo, em seus opositores patronais ou na centro-esquerda.

Desde o PTS viemos intervindo ativamente em nosso país no processo de desenvolvimento de uma corrente classista dentro do chamado ´´sindicalismo de base´´ que luta no movimento operário contra a burocracia sindical e as patronais. Lutamos por organizar um movimento estudantil ativo, que lute por ligar-se ao movimento operário. Queremos por de pé um grande partido revolucionário da classe operária, que permita que sejam os trabalhadores que tenham o poder. Vemos a classe operária de nosso país como um destacamento da classe operária mundial, porque sabemos que sem terminar com o imperialismo a nível internacional não poderemos fazer com que a riqueza nas mãos dos grandes monopólios que dominam a economia mundial seja posta a serviço dos explorados e não apropriadas nas mãos de poucos.

Em homenagem a Leon Trotsky, a 70 anos de seu assassinato, te convidamos ao ato internacionalista, no domingo, 22 de agosto, as 15 horas, no Estádio Coberto do Racing Club, onde farão uso da palavra lutadores operários e dirigentes de organizações socialistas internacionalistas da França, Espanha, Alemanha, Brasil, Venezuela, Bolívia, Chile, México, Costa Rica, Uruguai e Argentina.

É um encontro de honra para todos os que lutamos por construir um mundo sem exploração nem opressão.

[1Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

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