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Juventude

UNIVERSIDADE

Festas e trotes universitários, a serviço de quem?

25 Feb 2010   |   comentários

Mais um começo de ano nas Universidades! E muita propaganda da reitoria e dos Governos de como a Universidade no Brasil está se modernizando e que vivemos um período de “revolução da educação no país”! Lula com seus planos para a Universidade, como o ProUni e o Reuni, navega na sua onda de popularidade para falar que hoje o jovem pobre pode ter acesso ao Ensino Superior através das concessões que o Governo federal oferece, por trás também de muitos ataques e principalmente mantendo o filtro altamente elitista do vestibular e os monopólios da educação superior no país.

Por outro lado, fruto do elitismo que expressa o caráter do Ensino Superior Brasileiro atualmente (onde apenas cerca de 20% [1] dos jovens brasileiros tem acesso a cursar uma graduação) vemos trotes violentos, opressores, que obrigam aos novos estudantes passar por um ritual como o de algum tipo de clã, que possibilitará a ele reproduzir as mesmas atitudes quando ele for um veterano no ano seguinte. Os calouros são submetidos a penalidades absurdas, se humilhar em faróis, beber doses imensuráveis de álcool e atos que às vezes até resultam em mortes; além de serem furtados no início de sua vida acadêmica de refletir sobre ela e os principais problemas da sociedade. Para também justificar essa violência, tudo isso é conceituado no senso comum como algo normal, um rito de passagem do jovem. Até mesmo por parte de setores do movimento estudantil, que se colocam de palavra contra esse ritual de iniciação que é o trote, vemos ações que reafirmam essa estrutura elitista. Porém, esquece-se que se ainda existe esse um rito de passagem para quem entra na universidade, é por esta continuar sendo, ainda mais a pública, exclusividade de uma minoria.

Festejar o que?

A USP (10 mil), a UFRJ (8 mil) e a UFMG (6 mil) ofereceram ao todo um pouco mais de 24 mil vagas nesse ano de 2010. Se formos levar em conta apenas o número populacional de cada região, sem entrar ainda em toda a questão de classe social que envolve essas vagas, logo percebemos que o número de estudantes que podem cursar essas Universidades consideradas de excelência é baixíssimo.

Estes são obrigados a pagar mensalidades absurdas em Universidades Particulares, ou até mesmo forçados a fazer cursos sucateados a distância, a nova tendência dos capitalistas e dos governos para aumentarem mais seus lucros na educação e evitar investimentos em infra-estrutura nos campus privados. Por conta dessa condição estrutural da universidade Brasileira, o que acaba acontecendo é que a juventude pobre é majoritariamente impedida de fazer um curso superior, principalmente público e presencial, e de se formar. Lógica que possibilita a manutenção de grandes monopólios da educação como o Grupo Anhanguera e Estácio, que com o dinheiro de nossas mensalidades financeirizam suas receitas e especulam na bolsa de valores.

E apesar de toda a demagogia e da tentativa de mudar a forma para ocultar seu verdadeiro caráter, como no caso da implementação do SiSu em algumas federais, o vestibular continua cumprindo seu papel de maneira bastante eficaz: um filtro social elitista e racista, que serve para separar ricos de pobres. Aqueles que “podem” cursar o ensino público, ou aqueles que devem ir para as chamadas “Uni-Esquinas”, dividindo o movimento estudantil. Não à toa, no trote da USP desse ano vimos esse cenário, através de músicas desqualificando estudantes de Particulares, como ocorreu no curso da Letras com a seguinte cantoria: “Ô São Judas, pode esperar, dia 15 tem boleto pra pagar”;
Mas essa reprodução ideológica totalmente elitista, não é só fruto de setores “despolitizados”. Por incrível que apareça o próprio PSol, através da sua corrente MES, ao invés de combater o elitismo, se adapta a ele, pixando UNIP na camiseta dos calouros que entram na USP, como forma de “zoar” os ingressantes, perpetuando a separação que faz a burguesia entre os estudantes que podem e não podem entrar numa universidade pública. Este partido pode se dizer socialista e de esquerda, mas se adapta totalmente ao elitismo da Universidade de classes e não contribui em nada para que os estudantes possam nesse início de trajetória universitária questionar a ordem existente, em primeiro lugar se solidarizando com os colegas que não conseguiram e foram impedidos de entrar.

Acabar com o vestibular e estatizar as Universidades Privadas para que todos possam estudar!!!

Entendemos que, para muitos, passar no Vestibular - uma prova que faz competir todos contra todos e aprova uma ínfima minoria - representa uma felicidade muito grande e até um sentimento de etapa cumprida. Entretanto, temos que sair dessa lógica imposta de comemorar a sua vitória sobre o outro, ou simplesmente esquecer de nossos colegas, amigos e parentes que não tiveram a mesma sorte ou até a capacidade financeira de estudar num colégio particular e/ou fazer cursinhos. O vestibular não é uma prova onde todos competem por vagas em condições iguais, a maioria dos jovens que prestam são de escolas públicas, mas geralmente e em média, a maioria dos que passam tiveram condições de cursar colégios particulares.

As correntes que atuam no movimento estudantil não podem ficar caladas e omissas às práticas difundidas nos trotes, que ideologicamente estão a serviço da manutenção do conservadorismo das Universidades Brasileiras. A violência do trote e seu elitismo através das “festas pelas festas” devem ser combatidas numa campanha pela Democratização do Acesso e da estrutura de poder nas Universidades, questionando e denunciado o papel dos governos e as atitudes das Reitorias. É lamentável o papel que o Psol cumpre na USP de, a partir dos CAs que dirigem, fazer parte desse tipo de trote elitista, que joga o estudante da universidade particular contra o estudante da pública. Chamamos a ANEL e o conjunto do movimento estudantil, levante uma campanha nessa calourada que combata qualquer tipo de trote, e leve para os calouros uma alternativa de luta para democratizar a Universidade no país, estatizando sem indenização os monopólios da educação privada e pondo fim ao Vestibular, ampliando de fato o acesso e fazendo com que cada estudante matriculado no Ensino à Distância tenha sua vaga virtual transformada em vaga presencial, lutando contra o sucateamento da educação e pela entrada dos trabalhadores e da juventude pobre nas Universidades.

CASS PUC-SP

Na PUC, o trote violento divide espaço com a “calourada da reitoria”, na qual o reitor mostra sua cara mais democrática para os novos estudantes. Esse ano foi diferente. Nós do CASS, junto com o Mov. A Plenos Pulmões e o Grupo Pão e Rosas intervimos na aula inaugural do Reitor e do Deputado petista José Eduardo Cardozo sobre juventude e política denunciando o massacre das tropas de Lula no Haiti e a máscara do reitor caiu em frente a todos os novos alunos quando esse, numa atividade sobre “juventude e política” proibiu que os estudantes críticos da PUC tivessem direito a fala, tentando nos expulsar, mostrando que é esse o “diálogo” que tem com os estudantes.

Também estamos organizando, junto com outros CAs uma grande festa de recepção aos calouros, que terá seu lucro revertido às organizações populares e de trabalhadores do Haiti, além de um debate pela retirada das tropas ianques, de Lula e da ONU, como parte da campanha que queremos iniciar na Universidade.

CACH Unicamp

No Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp estamos impulsionando junto à Atlética uma calourada cujo tema é a ocupação do espaço público, ligando a discussão das sucessivas perseguições ao CA pela realização de festas, reflexo direto da antidemocrática estrutura de poder, com a importância de debatermos a questão do acesso à universidade e as vias para sua democratização. A questão do Haiti também estará presente a partir de atividades de discussão e participação ativa, ao exemplo dos dois atos pela retirada das tropas de Lula e ianques e em solidariedade ao povo haitiano que realizamos na cidade de Campinas. A partir da APP e do Pão e Rosas, estamos intervindo na construção de mais um ato na cidade que também vai contar com um bloco de mulheres para demarcar que a questão da opressão das mulheres haitianas, estupradas e assassinadas pelas tropas da “missão de paz” da ONU comandada por Lula, deve ser combatida com centralidade nesse 8 de março.

UNESP

Antes mesmo do início das aulas, a burocracia universitária da Unesp dá sinais de que está em fina sintonia com seus pares das outras estaduais e seu tutor Serra: abriu processo de sindicância contra três estudantes do campus de Araraquara e se esforça para controlar as calouradas, censurando e barrando as atividades e debates políticos cujo conteúdo não seja de seu agrado.

Frente a isso, entendemos ser tarefa do combativo movimento estudantil da Unesp se levantar mais uma vez contra as ingerências de direções e reitoria para barrar as medidas repressivas e levar junto aos calouros o debate acerca do caráter da universidade e a necessidade de sua democratização.

Passos importantes já foram dados neste sentido. Em Marília, o CACS rompeu com a calourada oficial controlada pela direção e está fazendo um chamado para a construção de um ato pela democratização da universidade e uma calourada paralela. Já em Rio Preto, os companheiros do DAF e outros estudantes estão se enfrentando com os setores mais reacionários do movimento estudantil e conseguiram transformar o pedágio deste ano em um ato-pedágio em solidariedade ao Haiti, aproveitando a oportunidade para combater a opressão dos trotes e denunciar o papel que as tropas imperialistas e brasileiras cumprem no país.

Para concretizar exemplos como esses e aprofundá-los e romper com a despolitização que em geral prevalece neste inicio de aulas na Unesp que estamos dando todo o peso a partir das entidades que estamos, como também o CAFF de Araraquara e o DA de Rio Claro.

[1Dados do artigo retirados do portalbrasil.net

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