Domingo 5 de Maio de 2024

Questão negra

Ferguson: Os jovens serão a chave de uma mudança social

02 Dec 2014 | O jornal digital 'La Izquierda Diario' da Argentina teve a oportunidade de entrevistar Javier Garay, integrante da organização Advance the Struggle de Oakland. Ele tem participado das mobilizações pelo caso de Ferguson, exigindo justiça por Mike Brown e o fim da violência policial. Em um dos últimos protestos foi detido; aqui nos conta sua experiência e como vê o processo na juventude.   |   comentários

"Necessitamos de uma organização revolucionária nova. O papel da juventude é importantíssimo. Isso foi fundamental: um grupo étnico totalmente diverso e muito jovem. Minha meta sempre foi formar um grupo jovem. Eu lecionei em colégios de ensino médio por sete anos e foi muito difícil, por isso estava emocionadíssimo de ver tanta gente jovem. Eu penso que eles vão ser o centro de uma mudança (...)

Pode nos contar como e quando começaram as mobilizações para exigir justiça para Michael Brown?

As mobilizações começaram na segunda-feira, 24, à noite, depois que se deu o veredito. A segunda-feira foi um dia incrível, onde centenas de pessoas saíram às ruas para manifestar sua indignação. Não só aqui em Oakland,como também em diferentes bairros de São Francisco. Logo seguimos na terça, 25, quarta, 26, quinta, 27 e sexta, 28. Na quinta, foram manifestações mais tranquilas, porque era Dia de Ação de Graças, um dos dias de festas mais importantes dos Estados Unidos. Esse dia, o “Thanksgiving”, é um dia muito particular, dia de união e família, mas na realidade é um dia onde se deveria comemorar a matança e ataques aos aborígenes. Aqui em Oakland, nos reunimos na Praça Oscar Grant* [emblemática praça do movimento Occupy Oakland]. Todas as manifestações acabaram na sexta-feira, 28, que também é um dia muito interessante porque é a "Black Friday”, um dia dedicado a fazer compras para a sociedade norteamericana. No entanto, muitos grupos da esquerda e organizações sociais se juntaram para enfrentar a injustiça do sistema.

Que setores da população se mobilizaram?

Bom, diferentes setores: por um lado, um grupo de ativistas de maior experiência que já tinham desempenhado um papel nas manifestações para exigir justiça pela morte de Oscar Grant e que em seguida também fizeram parte do movimento “Occupy”. Uma coisa que é muito importante destacar é a participação de uma juventude que sai pela primeira vez às ruas. A maioria dos manifestantes eram muito jovens, um grupo multirracial de afroamericanos, latinos, asiáticos e brancos. Isso é para mim uma nova geração, sem nenhuma experiência mas com muita visão. Eles já veem a injustiça do sistema em uma Corte que não pode deter os casos de extermínio às comunidades minoritárias.

Houve repressão policial nessas manifestações? Pode nos contar um pouco? Sabemos que você também foi preso.

Terça-feira,15, foi o dia mais intenso, quando se bloqueou a estrada 580. A polícia começou a empurrar os manifestantes. Cinco policiais empurraram um companheiro meu sozinho, caiu sobre ele o megafone que segurava e ali o prenderam. Eles o acusaram de resistir à prisão e agora temos que nos defender dessas acusações. A ofensiva policial foi muito forte.

Como foi sua participação, Javier? Você esteve presente toda a semana em cada uma das manifestações?

Sim, pois eu milito em um grupo que se chama Advance the Struggle [Avança a luta]. Nós nos formamos em 2009 durante as revoltas e mobilizações pelo caso Oscar Grant. Nas ações desta semana, o AS interveio de diferentes maneiras, mas nós não tivemos nenhum tipo de liderança. Todas essas marchas foram muito coletivas, algumas com mais intervenção e organização que outras.

Javier, poderia contar um pouco sobre sua experiência? Como foi o momento da detenção?

Sim; me prenderam. Eu trabalho num escritório de advocacia, então entendo um pouquinho sobre leis. Eu sou parte do National Lawyer Guild [Coletivo de advogados que lutam pelo direitos civis das comunidades minoritárias]. Me prenderam conjuntamente a outros quarenta e tantos jovens. A maioria dos manifestantes presos eram muito jovens, muitos deles não haviam sequer sido parte no movimento “Occupy”. Foi um momento de nervosismo e medo, senti que deveria lhes dar apoio: eu era o maior entre todos e tive que dar apoio.

Quanto tempo ficou preso? Como foi o tratamento?

Somente quatro horas, porque tinha minha identificação. Se você não tem identificação, te mandam à Santa Rita e lá deve permanecer 24 horas. A polícia acusa de violentos os manifestantes e ocorrem choques, onde alguns resistem. Alguns manifestantes foram espancados ao resistir. Um deles foi jogado no chão e ficou ferido. Fui acusado de bloquear a estrada.

Como vê o processo da juventude nos Estados Unidos?

Necessitamos de uma organização revolucionária nova. O papel da juventude é importantíssimo. Isso foi fundamental: um grupo étnico totalmente diverso e muito jovem. Minha meta sempre foi formar um grupo jovem. Eu lecionei em colégios de ensino médio por sete anos e foi muito difícil, por isso estava emocionadíssimo de ver tanta gente jovem. Eu penso que esses jovens vão ser o centro de uma mudança social.

*Oscar Grant foi assassinado por um policial de BART, o oficial Johannes Mehserle na estação Fruitvale Bay Area Rapid Transit (BART) em Oakland, Califórnia, no ano de 2009.

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