Terça 30 de Abril de 2024

Unicamp

Entrevista com Mário “Bigode”

02 Jun 2010   |   comentários

JPO: Qual a situação da greve na Unicamp?

Mário: Há alguns anos não víamos na Unicamp uma greve forte e com tanta gente com disposição para lutar. Mas mesmo assim, a nossa universidade é a que tem a menor mobilização dentre as três estaduais paulistas. Isso acontece por inúmeros fatores, dentre eles a acentuada precarização do trabalho, que foi cruel aqui, com a maior porcentagem de terceirização da categoria dentre as universidades, e o papel que cumpriram o PT e o PCdoB na direção do nosso sindicato nestes últimos dez anos, reproduzindo uma passividade entre os trabalhadores e a despolitização. Portanto, ver reuniões de unidades cheias como várias que ocorreram são avanços importantes. Ocorreram ações radicalizadas organizadas pelo Comando de Greve, como o fechamento da caldeira do Restaurante Universitário e um mega piquete nas duas entradas principais da universidade no dia 1º de junho.

JPO: Qual vem sendo a atuação do sindicato na greve?

M: O Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), depois da ocupação da reitoria da Unicamp, vem atuando com uma política para encerrar a greve. Eles tiveram uma postura criminosa nesta ocupação. Discordando do ato, desligaram o som, tentaram dispersar as pessoas, retiraram-se do local e correram para o sindicato para soltar uma nota acusando o Sintusp pela ocupação, municiando a imprensa burguesa e a reitoria para atacar este combativo sindicato. Esta é a maneira que a burocracia sindical governista do PCdoB atua. No entanto, essa política não teve respaldo na vanguarda que atua na greve. Na assembléia do dia seguinte, aprovamos pela absoluta maioria uma carta repudiando a nota do STU e afirmando nosso apoio a ação feita no dia anterior (ver carta no site da Ler-qi) e a greve segue forte.

JPO: Existe oposição a diretoria do Sindicato?

M: Há anos que os ativistas que participam das assembléias são em sua ampla maioria contra a direção do STU. Mas, nesta greve surgiu um movimento de oposição composto por correntes políticas e independentes, algo que há muito tempo não se via aqui. Um dos grupos que se coloca enquanto oposição é o “Rosa do Povo” do PSOL, que impulsiona o coletivo “Vamos à Luta”. Nós não temos acordo como realizam a oposição, pois priorizam ganhar as eleições e não discutem com a categoria a necessidade de um programa classista e de transformação da universidade. Para ver a contradição deste grupo, eles dirigem o DCE da Unicamp há dez anos e nesta greve pouco fizeram para impulsionar uma mobilização estudantil. Nós achamos importante constituir um grupo de oposição pautado num programa classista e anti-governista, cujo objetivo não seja construir aparatos que sirvam para objetivos eleitoreiros, mas que articule as lutas com os companheiros da USP e Unesp, e também rompa com o corporativismo e consiga se ligar as outras categorias. Por isso, estamos construindo aqui com independentes o Movimento Classe contra Classe. No movimento estudantil, os companheiros da LER-QI, que estão na coordenação do CACH, estão atuando muito ativamente na nossa greve. Infelizmente, do PSTU não podemos dizer o mesmo pois estão praticamente ausentes da greve como o DCE do PSOL.

JPO: Qual programa o movimento Classe contra Classe está defendendo na greve da Unicamp?

M: Além das bandeiras da própria greve, como a isonomia, a defesa do Brandão vem sendo nossa principal luta. Defender os lutadores é o princípio básico da classe operária. Mas também estamos pautando a luta contra a terceirização na universidade e a defesa ao direito de greve. Estamos também defendendo novas formas de organizar nossa luta pautada na democracia direta, através da constituição de representantes eleitos nas assembléias das unidades. Aqui, precisamos revogar todas as formas de burocratização e controle sobre o sindicato por parte da burocracia, para colocá-lo à serviço da luta.

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