Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

GREVE PETROLEIRA

Entrevista com B trabalhador da Petrobrás de São Caetano do Sul.

28 Mar 2009   |   comentários

JPO ’ A Petrobrás tem muitos trabalhadores terceirizados...

B - Acho que seria interessante abordar mais amplamente o tema da terceirização. O terminal de São Caetano do Sul, por exemplo, conta com 350 terceirizados e 200 concursados. No sistema Petrobrás são 180 mil terceirizados para 55 mil próprios.

JPO ’ Qual a sua avaliação da greve?

B - Temos duas perspectivas para fazer essa avaliação. A da base, que teve ampla adesão à greve na maioria das unidades, colocando-se numa luta ofensiva contra a perspectiva de receber uma participação nos lucros e resultados menor dos últimos 7 anos (proporcionalmente ao resultado da empresa). Essa era a pauta mais sentida. Somadas a ela, vinham outras como
GARANTIR OS POSTOS DE TRABALHO NAS EMPRESAS CONTRATADAS PELA PETROBRà S; ACABAR COM A PRECARIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E OS ACIDENTES QUE MATAM TODOS OS MESES OS PETROLEIROS; GARANTIR O PAGAMENTO DAS HORAS EXTRAS DOS FERIADOS TRABALHADOS;
as duas primeiras muito importantes pois poderiam unificar a categoria e lançar para as demais categorias o exemplo correto de que não aceitaremos demissões. Além disso, temos pela primeira vez uma greve nacional unificada desde 1995, e a mobilização está sendo a primeira para muitos dos trabalhadores da Petrobrás.
Infelizmente do ponto de vista dos sindicatos, principalmente os ligados à Federação Única dos Petroleiros (FUP - CUT), aquelas eram pautas-fantasma, ou seja, serviam apenas para dar um verniz classista à luta que de fato eles estavam querendo levar contra a direção da empresa, visto que não era possível o sindicato ficar imóvel frente a uma proposta tão rebaixada. A crise mundial fez com que nossa parte que vinha relativamente sendo dada nos anos de crescimento económico fosse bruscamente surrupiada. Isso fez a FUP se reposicionar à esquerda, chamando à greve. Burocraticamente, a direção dos sindicatos levou a greve de forma verticalizada, procurando não envolver a base nas decisões (como com um comando nacional unificado desde cada unidade operacional e administrativa) - o que evitaria que o movimento fugisse do controle da direção, além de não buscar ampliar nossa luta para o conjunto da sociedade. Na maioria dos estados não houve atos de rua para dialogarmos com a população sobre qual a Petrobras que queremos, por exemplo. Ficou claro que do ponto de vista dos burocratas se tratava de utilizar o movimento como massa de manobra para sua disputa fratricida com da Articulação Sindical com a "Articulação gerencial" (os ex-sindicalistas que têm cargo de confiança na empresa).
Ainda falta o desfecho do movimento, mas a perspectiva é que ele acabe hoje, com aceitação de um termo em que avançaremos cerca de 13,3% no piso da PLR, teremos os dias descontados e reflexo nas férias, além de não se tratar da não punição aos grevistas.
Ou seja, em termos negociais um grande fracasso.

JPO ’ Como lutar pela demanda dos terceirizados?

B - Para os terceirizados seria importante colocarmos a efetivação dos que ganham até um certo teto salarial (salário mínimo do dieese, por exemplo) e estão a mais tempo no posto, com o enquadramento no plano de cargos e salários do Sistema Petrobras e criação de novas carreiras para as que não existem. Outra demanda seria a da unificação da representação sindical, com todos sendo parte do Sindicato dos Petroleiros, buscando especialmente a formação de comissões de fábrica em cada setor e local de trabalho.

JPO ’ Que resultados você espera da greve?

B - Como resultado negocial nenhum, mas como experiência da categoria com as direções sinto que se fizermos um bom debate com @s ativistas podemos avançar em desconhecê-los como aliados e passar a entendê-los como grande freio à mobilização. A FUP/CUT tem servido nestes anos de governo Lula como uma verdadeira "Gerência Sindical" da Petrobrás, aceitando acordos salariais espúrios e a retirada de direitos (em especial a longo prazo)
Agora é preparar para que a história não se repita na campanha salarial deste ano.

Substituindo a luta contra as demissões pela “orientação a patronal” ’ a burocracia sindical governista (FUP) abandona uma vez mais a sua sorte aos contratados

Segundo informações de última hora a FUP está orientando os trabalhadores a retornarem ao trabalho, pois a greve foi vitoriosa, tendo todos os pontos atendidos inclusive a “garantia dos postos de trabalho” . Viemos alertando aos petroleiros “próprios” e contratados do uso oportunista que fazia a FUP da luta por unificar as fileiras dos petroleiros divididos entre “próprios” e contratados. Ao invés de levantarem uma luta por “nenhuma demissão e nenhuma redução de direitos e salários” , levantaram o ambíguo “garantia dos postos” , que não informava quantos, sob quais condições e métodos.

Agora, mostra-se o que é esta “garantia” é uma palavra ao vento e tratava-se de oportunismo da FUP para angariar apoio dos contratados aos “próprios” . Segundo nota veiculada no site da FUP o acordo neste ponto seria o seguinte: “A empresa também se compromete a orientar as prestadoras de serviço, durante a renegociação de seus contratos, a garantir os postos e condições de trabalho, para por fim à precarização e às demissões” . Até terminarem os contratos o que acontece? Demissões, precarização e livremente. E quem orienta a empresa. A FUP quer que os contratados acreditem que a Petrobrás e seus gerentes estão preocupados com os terceirizados? A empresa orientará seguramente com um afinco semelhante ao que ela orienta a valorizar a vida e sempre os primeiros a morrerem são os contratados. Lutemos por unificar os trabalhadores “próprios” e contratados em uma luta comum por iguais condições de trabalho e salário através da organização em comitês de fábrica por unidade!

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