Segunda 6 de Maio de 2024

Nacional

Campanha salarial dos bancários

Direções governistas da Contraf-CUT impõem derrota aos bancários para beneficiar a reeleição de Lula

10 Oct 2006   |   comentários

Da mesma maneira que já havia acontecido nos anos de 2003, 2004 e 2005, os bancários mais uma vez passaram por cima das direções governistas da ex-CNB-CUT, rebatizada de Contraf-CUT, e protagonizaram mais uma importante greve na história da categoria. Mostrando enorme combatividade, os bancários desconheceram as direções governistas e iniciaram uma greve nacional que atropelou a burocracia sindical e colocou os banqueiros em xeque.

A burocracia governista da Contraf-CUT havia organizado a campanha salarial de forma a não prejudicar a reeleição de Lula, que para eles era dada como certa no primeiro turno eleitoral. Nesse sentido a greve nacional da categoria foi postergada ao máximo, através dos mais diversos artifícios para jogar a decisão da campanha para após o dia 1º de outubro. Para frear a greve nacional da categoria a direção da Contraf-CUT, percebendo o ânimo dos bancários, chamou uma greve nacional de 24 horas para dar uma satisfação à categoria, de forma a só retomar a greve após o primeiro turno.

O que se viu na grande maioria das assembléias dos bancários em todo o país foi mais uma rebelião das bases semelhante à de 2004, com os bancários passando por cima da burocracia governista e aprovando a greve por tempo indeterminado. No dia 26 de setembro estavam em greve por tempo indeterminado os sindicatos do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe, Espírito Santo, Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Apenas no Estado de São Paulo, a burocracia conseguiu aprovar a greve de 24 horas.

Para os governistas era vital quebrar a greve nacional dos bancários, e a não participação de São Paulo na greve enfraquecia a campanha, já que o estado agrupa 100 mil bancários, ou seja, 25% da categoria a nível nacional. A despeito da forte greve que acontecia no resto do país, a direção governista de São Paulo mostrou todo o seu caráter traidor e, ignorando a greve nacional, se recusava a chamar uma assembléia para decretar a greve em São Paulo.

A rebelião das bases mostrava a sua força com uma poderosa greve que abarcava a maioria dos principais sindicatos do país, abrindo condições para uma luta dura e radicalizada, avançando para parar o sistema bancário nacional, e não apenas os serviços das agências, pois somente assim os banqueiros e o governo poderiam ceder. Vendo que nem a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) nem o governo Lula lhe acenavam com alguma migalha que lhe permitisse o fim da greve, a direção de São Paulo chamou dez dias depois uma assembléia para decretar a greve em São Paulo.

A entrada de São Paulo na greve mesmo de forma muito atrasada a potencializou junto à categoria que rejeitava o índice de 2,85% e o PLR que os governistas insistiam em dizer que era um grande avanço.

Com o desenrolar da greve estava claro para os governistas que era necessário montar uma operação desmonte para encerrá-la, de modo a não prejudicar Lula. A burocracia negociou nova proposta com a Fenaban que "aumentava" de 2,85 para 3,5% o índice de reajuste salarial, na tentativa de acabar com a greve. Diante do repúdio nacional a essa nova proposta, a burocracia governista passou a trabalhar diretamente com as direções do Banco do Brasil e da Caixa Económica Federal, na tentativa de dividir e enfraquecer a greve nacional.

A Oposição Bancária dirigiu a greve em vários estados, mas não foi capaz de superar a burocracia governista

A Oposição Bancária de São Paulo, nucleada em torno do Movimento Nacional de Oposição Bancária (MNOB), dirigido na sua grande maioria pelo PSTU, esteve à frente da greve em diversas cidades e estados. Contudo, partindo de uma análise completamente fora da realidade nacional, o PSTU passou a ver uma "fissura" entre a Fenaban e o governo Lula, afirmando que os bancários poderiam aproveitar a suposta divisão e arrancar um aumento maior para a CEF e o BB. Assim, defendeu no sindicato de São Paulo a realização de três assembléias separadas: BB, CEF e Privados/Nossa Caixa. A burocracia não perdeu a chance e abraçou a proposta do MNOB, chamando assembléias separadas já no dia seguinte (10 de outubro).Montando uma operação conjunta com as direções do BB e da CEF, a burocracia governista levou dezenas de gerentes nas duas assembléias em São Paulo para votar pelo fim da greve, mas a combatividade dos ativistas acabou impondo uma nova derrota à burocracia, definindo pela continuidade da greve.

Vendo que a greve nacional poderia se prolongar, e até sair do seu controle, a burocracia montou novamente em conjunto com as direções do BB e da CEF uma nova operação desmonte para o dia seguinte, contando agora com a convocação ostensiva de centenas de gerentes para irem às assembléias em todo o país para votar o fim da greve. Assim, a burocracia traidora conseguiu a aprovação do fim da greve na maioria dos estados do Nordeste, em Brasília e em São Paulo. Ainda resistindo a mais esta manobra, permaneceram em greve no dia 13 de outubro os sindicatos do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre e Campo Grande, que só encerraram a greve ao final deste dia.

O balanço que deve ser feito da greve dos bancários é que mais uma vez a categoria mostrou uma enorme combatividade, permanecendo paralisada por cerca de 18 dias, passando por cima das direções da Contraf-CUT que prosseguiram em seu papel de cães de guarda dos banqueiros e do governo Lula, impondo a derrota aos bancários para ajudar a reeleição de seu "chefe". Os bancários mostraram que a despeito das traições das direções, o ânimo de luta não arrefeceu mesmo diante das derrotas de 2003, 2004 e2005, e que a burocracia só com muitas manobras conseguiu impor o fim dessa greve.

Por outro lado, a greve também mostrou a fraqueza política e organizativa do Movimento Nacional de Oposição Bancária. Este agrupamento parece não ter aprendido com as lições de 2004. Nesta ocasião após uma combativa greve de 30 dias, a burocracia, contando com a ajuda do MNOB, conseguiu impor o fim da greve já que a Oposição diante do impasse da greve capitulou as pressões do governo e dos banqueiros e saiu a pedir "ajuda" ao TST para chegar a um acordo com os patrões, não sem antes defender um rebaixamento do índice de aumento de 25% para 19%. Mostrava, assim, que não confiava na força dos bancários e na radicalização da greve, recuando do método combativo de ação direta dos trabalhadores para recorrer à intermediação (intromissão) da justiça burguesa.

Agora, em 2006, a oposição defendeu o fracionamento da greve dos bancários em assembléias especificas (BB, CEF, Privados), dando a chance que a burocracia esperava para dividir, enfraquecer e, enfim, levar ao fim da greve com a ajuda das direções dos bancos federais. Está colocada para a categoria bancária a necessidade de organizar um movimento nacional de oposição sindical de base, que agrupe os ativistas ao redor de um programa classista que intervenha nos sindicatos controlados pela burocracia da Contraf-CUT, organizando um forte movimento nacional que combata a burocracia em todo o ano e não só nas épocas de campanha salarial, organizando os ativistas para disputar palmo a palmo esta burocracia em cada reunião, em cada assembléia e em cada eleição sindical.

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