Sexta 26 de Abril de 2024

Questão negra

A luta dos quilombolas permanece viva

Dia da consciência negra: luta e resistência

14 Nov 2003   |   comentários

O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, é reivindicado pelo movimento negro e outros movimentos e setores em luta no Brasil pelo significado histórico de resistência e organização da população negra. No dia 20 de novembro de 1695 era assassinado Zumbi, principal líder do Quilombo de Palmares.

O seqüestro de milhões de africanos e sua escravização durante mais de três séculos foram condições intrínsecas à consolidação da exploração colonial e desenvolvimento do capitalismo. A mão de obra escrava foi o motor de sustentação da economia, tanto no trabalho agrícola quanto na mineração, produzindo as riquezas que se concentraram na metrópole e nas mãos dos senhores de engenho, os proprietários dos meios de produção.

Esse acúmulo de capital foi posteriormente utilizado no processo de industrialização no fim do século XIX e início do século XX, quando a escravidão já havia sido abolida.

O Brasil se localizou como maior importador do tráfico atlântico de escravos. Além disso, foi o último país ocidental a abolir a escravidão. Depois de muito suor e sangue derramado com a escravidão, a Lei à urea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, não passou de uma resposta às necessidades do capitalismo mundial naquele momento. O trabalho escravo já não era tão lucrativo quanto antes e já vinha sendo substituído gradativamente pelo trabalho assalariado.

É também nesse momento que o Estado passou a incentivar a imigração européia, sob a afirmação de que a mão de obra do (ex) escravo não era qualificada. Dessa forma, quase toda população negra foi excluída do trabalho assalariado, restando-lhe, quando muito, trabalhos informais e de pior remuneração. A imigração era, ainda, uma tentativa por parte da classe dominante de promover o “embranquecimento” da população no Brasil.

Ao contrário da idéia forjada em grande parte das elaborações acadêmicas do século XX, a relação entre escravo e senhor de engenho nunca foi e nem poderia ser harmoniosa. Para manutenção da escravidão, a classe dominante utilizou-se dos mais diversos meios de repressão e violência. O conflito permanente se revela nos levantes, fugas e organização dos quilombos, comunidades livres formadas por escravos fugidos.

O Quilombo de Palmares foi o maior quilombo formado no país. Localizado numa área que abrangia parte dos atuais estados de Pernambuco e Alagoas, ele atingiu uma população de 20 mil habitantes e manteve-se de pé durante quase um século, sendo auto-sustentável. Palmares tornou-se o maior exemplo de negação da ordem vigente colonial e foi alvo de cerca de 25 ataques que tinham por objetivo destruí-lo.

A resistência e organização da população negra no Brasil mostram o quanto é falsa a noção de que sua história teve como característica a passividade.

A data 13 de maio não significa mais que uma tentativa de convencer os negros e negras de que não podem ser sujeitos históricos, de que a única alternativa é esperar pelas concessões da classe dominante.

Nesse sentido é importante salientar o papel que cumpre o aparelho de dominação ideológico, instrumento utilizado pela burguesia até hoje a fim manter a opressão e exploração dos negros e negras.

A História Tradicional ainda nega esses fatos que trazem à tona a resistência e organização dos quilombos e tenta perpetuar a afirmação de que a História africana só se inicia com a chegada do europeu no continente.

O mito da democracia racial, baseado na farsa de que no Brasil já não existem desigualdades sociais entre brancos e negros, permanece nos discursos e é utilizado como resposta a qualquer tentativa de denúncia do racismo.

Não faltam dados estatísticos para demonstrar que os negros permanecem ocupando os piores índices de desenvolvimento humano, que os homens negros e principalmente as mulheres negras são quem recebem os piores salários mesmo quando ocupam os mesmos cargos, ou que o nível de analfabetismo é bem maior entre a população negra. O resgate do histórico de lutas contra a exploração e opressão é parte da luta contra o racismo hoje. A libertação do povo negro será conseqüência de muitas lutas e sua auto-determinação. Lutar contra o racismo é também lutar contra o capitalismo.

A luta dos quilombolas permanece viva!

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