Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

Fraude da Parmalat

Contra o golpe dos capitalistas da Parmalat: confisco dos seus bens e cadeia aos fraudadores

15 Feb 2004   |   comentários

A Parmalat, na Itália, sofreu intervenção do governo. O governo Lula nada fez, reproduzindo o discurso de que a Parmalat no Brasil era uma empresa sólida e estava livre da quebra da matriz. Logo se descobriu que era justamente via a Parmalat no Brasil que os capitalistas desse grupo organizavam todas as maracutaias e desvios de recursos. Agora, a empresa, que processava 5% de todo o leite produzido no país, fecha unidades, dá um verdadeiro calote nos produtores de leite e demite centenas de trabalhadores. O pedido de concordata preventiva , há poucos dias, garantiu às empresas Parmalat Alimentos e Parmalat Participações dois anos de prazo para pagar suas dívidas ’ 40% no primeiro ano e 60% no segundo ’ com juros de 4%. Os capitalistas exploram os pequenos produtores, os trabalhadores e os consumidores, acumulam lucros extraordinários, sonegam impostos, deixam de pagar empréstimos concedidos graciosamente pelos órgãos financeiros do governo, remetem seus lucros “legalmente” . No fim, as grandes empresas que parecem sólidas mostram-se sacos sem fundo que escoam para as mãos dos capitalistas nacionais e estrangeiros os lucros obtidos da exploração do trabalho social. A Enron, a Xerox e, agora, a Parmalat desnudam a profundidade da crise estrutural do capitalismo e seu sistema anárquico, parasita e fraudulento que não consegue outra coisa que não seja a destruição de forças produtivas, primeiramente a força de trabalho via demissões, fechamentos e falências.

Os reformistas e a esquerda pró-burguesa costumam propagar em defesa das empresas nacionais e da capacidade de evolução do capitalismo nacional, como se o país não fosse um elo da cadeia económica mundial. Cada vez mais os países semicoloniais são submetidos à pressão da economia imperialista e não podem evitar os reflexos da crise estrutural capitalista e da dependência diante do capital estrangeiro.

Governo Lula defende os interesses capitalistas e do governo imperialista italiano

Escudando-se na “necessidade de defesa da empresa” o governo Lula, diante do golpe patronal na Parmalat, mandou uma comitiva à Itália, dirigida pelo ministro (da DS ’ Democracia Socialista) Miguel Rosseto, para acompanhar a intervenção do governo italiano na Parmalat e “fazer contato com o governo federal brasileiro para juntos traçarmos uma estratégia de ação e exigir dos controladores internacionais da Parmalat um subsídio para o Brasil” [1], nas palavras do sindicalista presidente da Contac-CUT. Numa atitude submissa, a comitiva foi à Itália para “descobrir quais são os planos traçados pela Parmalat italiana para a subsidiária brasileira” e “saber o que é que eles [italianos] querem para o Brasil. Qualquer decisão que for tomada no Brasil precisa estar em linha com a estratégia já desenhada pelo governo italiano, que já interveio na Parmalat” [2]. Uma prova cabal de submissão ao imperialismo italiano e aos interesses dos monopólios capitalistas.

Ao mesmo tempo, por pressão do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues (que bem sabe defender os interesses de sua classe capitalista), destinou R$ 200 milhões para que os produtores de leite estoquem o excesso de produção, evitando que esse leite excedente se juntasse à alta produção da safra normal e, com isso, rebaixasse o preço pago aos produtores. Após comprar mil toneladas de leite em pó dos estoques dos produtores, o governo liberou mais R$ 100 milhões para os mesmos.

Nesse sentido, o governo Lula foi mais amigo dos capitalistas da Parmalat que o próprio governo italiano que, para evitar uma quebra geral no país e uma crise social entre os trabalhadores e a população de diversas cidades, viu-se obrigado a intervir na empresa e seqüestrar os bens do presidente da empresa. Lula e os sindicalistas ficaram ouvindo as promessas dos fraudadores da Parmalat, sem qualquer medida efetiva para garantir os interesses dos trabalhadores, que foram demitidos e fábricas foram fechadas, com a desculpa de que se deve “salvar o complexo Parmalat” .

Por uma política independente dos trabalhadores para garantir emprego, salário, apoio aos pequenos produtores e combate à fome

A esquerda que se diz representante dos interesses dos trabalhadores não pode continuar calada diante dessa crise e do golpe que se está efetivando contra os trabalhadores, os pequenos produtores e os consumidores.

A política do governo ’ em conluio com os capitalistas da Parmalat, o governo da Itália, os médios e grandes produtores de leite e os governos estaduais e municipais ligados às cooperativas de leite ’ está em marcha e somente poderá ser barrada com a mobilização ativa e efetiva dos trabalhadores da Parmalat, contando com a total solidariedade dos demais operários. Apenas um programa operário, anticapitalista, pode permitir que a empresa seja expropriada-estatizada e a produção fique sob controle dos trabalhadores. Sem essa alternativa, a patronal da Parmalat receberá mais recursos públicos, preservará o património dos seus controladores e voltará a funcionar sob as regras capitalistas de exploração da força de trabalho e da apropriação privada do produto do trabalho social.

O controle operário da produção, através da eleição de conselhos em todas as fábricas da Parmalat, assim como o fim do segredo comercial e industrial que desmascare perante a sociedade as verdadeiras falcatruas cometidas pelos capitalistas e o roubo contra a nação, pode ser coordenado por um conselho geral dos operários da Parmalat. A produção sob controle operário deve ser organizada e planificada democraticamente de acordo com os interesses dos trabalhadores e do povo pobre, não mais para a exploração e apropriação do produto do trabalho. Com o programa de controle operário da produção, educando os trabalhadores e as massas populares nos princípios da planificação da produção económica e do trabalho, estaremos garantindo os empregos e abrindo as possibilidades de dar novas vagas aos desempregados, diminuindo as horas de trabalho ao máximo permitido pelo elevado nível de produtividade já alcançado. Ao mesmo tempo, o programa de controle operário mostrará definitivamente que a solução contra a fome está nas mãos da classe operária e não dos capitalistas e seus políticos demagogos.

Essa saída operária independente exige a mais ampla frente única entre as organizações de esquerda, entidades sindicais, populares e juvenis, sob a base da democracia direta e da liberdade para que todas as correntes revolucionárias ligadas à classe operária possam lutar por seus programas, podendo os trabalhadores confrontá-los com a experiência concreta. Assim, a classe operária poderá aparecer aos olhos do povo pobre como uma real alternativa contra a crise capitalista e o estado burguês.

[1Informe CUT Nacional ’ Parmalat: Contac e governo italiano possuem a mesma intenção ’ 23/01/2004. Contac ’ Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação e Assalariados Rurais.

[2Folha Online ’ 30/01/2004.

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