Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Construir um pólo antiburocrático nacional

10 Sep 2004   |   comentários

Alguns setores da classe trabalhadora têm começado a romper com a burocracia cutista e lutar contra a política do governo Lula. Já fazem parte desse processo a Federação Metalúrgica Democrática de Minas Gerais, que reúne em sua base cerca de 90 mil operários, o Sindicato Metalúrgico de São José dos Campos, que reúne em sua base cerca de 35 mil operários, entre vários outros sindicatos que já se colocam nessa perspectiva ou encontram-se em fase de discussão nas suas bases.

É necessário um Pólo Antiburocrático Nacional com um programa e de uma forma organizativa capazes de dotar esses setores que começam a romper com o governo Lula de um instrumento para fortalecer, coordenar e generalizar as lutas em curso, expulsando a burocracia dos sindicatos e passando a dirigir os milhões de trabalhadores que ainda estão sob sua influência.

Esse Pólo Antiburocrático deve lutar pela derrota das reformas sindical, trabalhista e universitária, que além de significarem um brutal ataque direto do governo aliado à burocracia sindical contra o conjunto da classe trabalhadora, têm mostrado um enorme potencial de mobilização.

Junto a isso, é necessário responder aos principais problemas que atingem a maioria esmagadora da população do país: o desemprego, a superexploração e o aumento permanente do custo de vida. Historicamente, a burocracia cutista sempre tem respondido a estes problemas negociando migalhas com a patronal. Frente às ameaças de demissões, a burocracia tem se contentado em “melhorar as condições das demissões” , conseguindo a demissão de alguns poucos milhares ao invés de muitos milhares e conseguindo rescisões um pouco maiores para que o trabalhador possa sobreviver alguns meses a mais antes de cair na miséria do desemprego; ou então se contentando em “trocar demissões por bancos de horas” , conquistando para o patrão o fim da jornada fixa de trabalho para que ele possa pagar os salários de acordo com o nível da produção sem precisar gastar com contratações e demissões a cada ciclo económico de crescimento ou recessão. Frente aos valores miseráveis dos salários e ao aumento permanente do custo de vida a burocracia se contenta em quando muito fazer campanhas salariais uma ou duas vezes por ano; e todo ano pede para o governo um salário mínimo um pouco menos miserável (que este ano não precisava ser mais que R$ 300,00!).

A classe trabalhadora tem que lutar para que todos tenham trabalho. Só existe uma forma de garantir trabalho para todos: é necessário impulsionar permanentemente uma campanha nacional pela divisão de todas as horas de trabalho existentes entre todas as mão disponíveis com um salário capaz de suprir as necessidades básicas de uma família. Não podemos mais permitir que ocorra nenhuma demissão. Não somos os trabalhadores que geramos a crise e não somos nós que devemos pagá-la. Se a burguesia não consegue administrar suas empresas deve ficar sem elas. Toda empresa que feche ou demita deve ser imediatamente retirada das mãos dos patrões, colocada para produzir sob o controle dos trabalhadores e colocada para abastecer um plano de obras públicas para atender às necessidades da população, financiado com o dinheiro que Lula usa para pagar a dívida do Estado aos banqueiros milionários e com o aumento progressivo dos impostos às fortunas dos capitalistas. Não podemos permitir que a inflação reduza permanentemente o valor dos salários. Temos que lutar para que toda empresa imediatamente passe a reajustar os salários mensalmente de acordo com o aumento do custo de vida.

Para lutar por um programa como esse, é impossível fazê-lo com o tipo de sindicatos que foram construídos pela tradição petista. A maioria dos sindicatos do país são verdadeiras “cascas vazias” , isolados de suas bases, nos quais os dirigentes sindicais permanecem anos a fio em seus cargos, desligando-se dos problemas reais da categoria e passando inclusive a depender economicamente do sindicato. Para lutar conseqüentemente pelos interesses da classe trabalhadora, é necessário revolucionar os sindicatos, fazendo com que eles sejam repletos dos mais combativos ativistas da base. Para garantir a unidade dos que lutam, esse Pólo Antiburocrático não pode ser apenas uma “coordenação dos dirigentes sindicais” , mas deve ser organizado pelas bases, para que essas decidam e controlem tudo através de plenárias regionais e estaduais com delegados mandatados e revogáveis eleitos nas assembléias de base. Só assim poderemos constituir sindicatos classistas, antiburocráticos e militantes capazes de derrotar a burocracia.

A luta por um programa que responda aos principais problemas da classe trabalhadora e por revolucionar os sindicatos é que tornará possível retirar a influência da burocracia sobre a enorme maioria da classe trabalhadora e construir uma alternativa de direção para o movimento de massas. Com um Pólo como este os setores que começam a romper com o governo Lula terão uma arma para se dirigir aos trabalhadores e aos sindicatos que ainda estão sob a influência política da burocracia cutista e do governo, e inclusive aos trabalhadores que estão na base da pró-patronal Força Sindical.

Entrar na Conlutas para transformá-la nesse Pólo Antiburocrático

No dia 16 de junho, ao levar para Brasília mais de 15 mil pessoas para um ato contra as reformas do governo, a Conlutas deu um importante passo no sentido da construção de um Pólo Antiburocrático Nacional. No entanto, o programa da Conlutas não responde ao problema do desemprego, da super-exploração e do aumento permanente da carestia de vida, e os dirigentes sindicais que compõem a Conlutas não têm se colocado numa perspectiva de revolucionar os sindicatos . Por isso chamamos os setores que rompem com o governo Lula a transformar a Conlutas em um verdadeiro Pólo Anti-burocrático Nacional.

A esquerda cutista e o PSOL impedem a unidade na luta contra as reformas

Dentre os setores que hoje se opõem às reacionárias reformas promovidas pelo governo encontram-se as correntes da esquerda cutista, dentro da qual destacam-se as correntes Alternativa Sindical Socialista (ASS), a Articulação de Esquerda (AE), o Movimento de Unidade Socialista (MUS) e o P-SOL.

Esses setores hoje chegam ao absurdo de hoje defender a “reforma da reforma” em nome das “bandeiras históricas da CUT” , capitulando aberta-mente ao reacionário Congresso Nacional e abrindo mão da independência política dos trabalhadores na luta contra as reformas. É impossível lutar contra reformas sindical e trabalhista e ao mesmo tempo estar ligado por mil outros laços ao governo Lula e ao PT. Essas correntes possuem sindicalistas que ainda estão no PT e a AE possui inclusive um cargo de ministério no governo Lula. O P-SOL, apesar de ter rompido organizativamente com o PT, não rompe politicamente de forma conseqüente. Essas ligações são um obstáculo para a luta unificada contra as reformas .

Artigos relacionados: Nacional , Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo