Quinta 2 de Maio de 2024

Debates

DEBATE COM O PCO

Cada vez mais distante do trotskismo

03 Oct 2009   |   comentários

Nos últimos dias o PCO tem soltado uma série de artigos e panfletos sobre a USP e de polêmica com a LER-QI, nos quais o que prima é uma falsa polêmica e argumentos que chegam a ser completamente falsos. Buscaremos responder o fundamental das questões colocadas.

Sobre a acusação de que não criticamos as adaptações do PSTU e que não denunciamos a política de conciliação de classes da frente de esquerda, simplesmente podemos deixar de lado essas mentiras, pois basta entrar em nosso site e ler qualquer edição do nosso jornal, buscar nossas declarações sobre o 1° de Maio, ou sobre a frente de esquerda em 2006 ou 2008, nossos artigos sobre a política do PSTU para a Embraer, para Honduras, e um longo etc., para ver que essa acusação não passa de mais um amalgama típico do PCO. Essa corrente muitas vezes se utiliza de métodos de polêmica mais próximos de seus parceiros maoístas que das correntes que nos reivindicamos trotskistas.
Vamos responder suas colocações não pela importância desta corrente na USP, onde o PCO tem presença insignificante, e sim para clarificar entre a militância da esquerda e a vanguarda operária e estudantil que segue estes debates, tratando de fugir do método charlatão das pequenas seitas que mais confundem do que contribuem para esclarecer.

O primeiro que chama atenção é quanto tempo e espaço dedicam aos debates com a nossa corrente que, segundo eles, a USP é o “único lugar do Brasil onde têm alguma importância política, uma vez que têm uma liderança no interior dos funcionários da USP através do diretor demitido Claudionor Brandão” . Mais adiante voltaremos a essa questão.

USP: não será com amalgamas e abstencionismo
que vamos derrotar a ditadura universitária

Sobre o balanço da greve do primeiro semestre não vamos nos estender aqui. Nós da LER-QI tivemos uma grande responsabilidade dirigente nesta importante luta que teve alcance nacional e acreditamos que respondemos à altura, superando a prática petista ’ sindicalista e coorporativa ’ buscando elevar a luta ao plano político, explorando ao máximo a possibilidade de frentes únicas com distintos setores, levantando uma política de unidade das fileiras operárias com os terceirizados, combatendo na linha de frente a repressão, sem secundarizar os aspectos jurídicos da campanha pela readmissão do Brandão e buscando a cada momento atuar de acordo com a correlação de forças dentro da universidade e em nível estadual e nacional. Os balanços que publicamos na época e que o próprio Sintusp publicou já dão conta de responder ao PCO, que pretende fazer política sem nenhuma avaliação da correlação de forças real, pois não tem nenhuma responsabilidade entre os trabalhadores da USP, nem entre os estudantes. Somente cobramos que o bloco com o MNN que o PCO mantém e vangloria tome alguma medida efetiva em defesa do Sintusp, que tem seus dirigentes perseguidos e demitidos e agora está sendo processado pela ocupação da reitoria no primeiro semestre. Até agora nem MNN nem PCO tomaram nenhuma medida efetiva sobre isso.

É importante nesse momento desfazer os amalgamas e as confusões que o PCO lança contra a anticandidatura de protesto de Chico de Oliveira, apoiada pelo Sintusp, APG e LER-QI, apesar das vacilações do DCE e do PSTU. É realmente uma lástima ter que despender energias nessa tarefa, dispersando um pouco das nossas poucas forças que estão concentradas em lutar contra a repressão da reitoria e do governo, organizar o boicote ativo da farsa eleitoral e desmascarar a política da Adusp e do PSOL, que apóiam a candidatura oficial de Chico Miraglia, e dessa forma corroboram pela esquerda o processo antidemocrático de escolha do reitor, que finalmente colocará no trono o reitor favorito da burocracia acadêmica (Grandino Rodas?), subserviente ao governador Serra.

Para polemizar com a política do Sintusp ’ a anticandidatura ’ e apresentá-la como parte de uma manobra em defesa do atual regime universitário e continuidade da política do mal chamado “bando dos 4” , o PCO acaba sendo obrigado a inventar um espantalho (ver “suplemento do jornal” USP n° 12, de 21/09/2009).

Ao contrário do que diz o PCO, a anticandidatura não é uma política de “propaganda” . Ao contrário disso, nossa tentativa é se apoiar no prestígio de um intelectual como Chico de Oliveira entre a massa dos estudantes para amplificar a denúncia deste regime e tentar reativar o movimento estudantil. De fato, como diz o PCO, se essa política tivesse sido “elaborada pelo setor que tem uma parcela de poder dentro da universidade” seria um engodo e uma grande traição ao movimento. Mas foi assim?

Ao polemizar com o programa da anticandidatura, o PCO se limita a discutir com a definição de “democratização” . Corretamente, afirma que sob esse conteúdo abstrato cabe qualquer política. Mas não discute com a política concreta da anticandidatura, que não se resume à “democratização” . Para nós o ponto principal levantado é o seguinte: “Boicote ao processo eleitoral antidemocrático de escolha do reitor. Não à reforma autocrática do estatuto da universidade. Dissolução do conselho universitário e igualdade dos direitos políticos.” Como já explicamos em nossos materiais, a presença da demanda de diretas para reitor foi fruto de um acordo para viabilizar a unidade com o DCE e o PSTU, que mesmo assim está vacilando entre boicotar o processo eleitoral ou se alinhar com a política da Adusp/PSOL. Para construir uma unidade que leve a uma ação conseqüente na luta de classes é preciso buscar ao máximo um acordo que envolva o maior número possível dos setores da universidade que se colocam contra as eleições fajutas em curso. Para isso é preciso se afastar dos dois pólos: seja a política de fazer concessões de princípio e ceder nas questões fundamentais às alas direitas e oportunistas do movimento (esse foi o conteúdo de nossa luta política contra a direção da ADUSP que terminou saindo dos acordos), seja a política sectária de levantar de antemão um programa que inviabilize qualquer unidade. Assim atua o PCO, que está conformado, apesar de seus mais de 20 anos de existência, em ser uma pequena organização testemunhal sem ter a pretensão de intervir na realidade fazendo política, intervindo na luta de classes e procurando a frente única como caminho para contribuir para uma prática combativa e revolucionária.

Por último, para não nos estendermos demais, é preciso mostrar como o PCO além de ocultar o programa de esquerda da anticandidatura de Chico de Oliveira diretamente distorce esta política concreta e os próprios fatos para poder dizer que ela se dá em conciliação com a burocracia acadêmica. O PCO diz que a anticandidatura de Chico de Oliveira vai fazer “uma consulta paralela à eleição” . Pura mentira! A consulta paralela, que realmente serve para corroborar o processo oficial, vai ser organizada pela Adusp e PSOL e não pela anticandidatura. O PCO não consegue ver que a Adusp e o PSOL estão com uma política de participar do atual regime, enquanto o Sintusp está por se enfrentar com este. E o PSTU, como sempre, ficou no meio oscilando entre os dois lados: seus parceiros estratégicos eleitorais ou os setores combativos. O bloco de “vanguarda” do PCO e MNN está paralisado sem saber o que fazer, para além de criticar, e como não há vazio em política, numa situação como a da USP o abstencionismo deste bloco acaba sendo uma forma de não combater o regime universitário. O PCO tem marcado posição de que é necessário “derrubar a ditadura” ’ só não tem a mínima idéia de como fazê-lo. O MNN também se pronunciou contra as ilegítimas “eleições” , mas sem uma política pela positiva ’ alguns dos seus militantes dizem que é necessário “organizar o duplo poder” (?!) - e também não sabe como fazê-lo.

Agora a pergunta fundamental, que explica tanta ofuscação:
para onde vai o PCO?

Como falamos no começo, é difícil entender por que o PCO gasta tanto tempo e tanta tinta criticando uma organização como a LER-QI, tão insignificante como eles dizem. A única resposta aceitável é que hoje o PCO é um grupo que perdeu totalmente o norte e se afasta cada vez mais do trotskismo, mas, no entanto, quer manter essa imagem. Então, tem que discutir com os trotskistas tratando de aparecer à sua esquerda. Sua insistência em criticar tão duramente a LER-QI, muitas vezes falsificando nossa política e distorcendo os fatos, responde ao fato de que cada vez mais nos destacamos perante setores de vanguarda no movimento estudantil e sindical como a principal corrente trotskista à esquerda do PSTU. Quanto mais o PCO nos ataca mais teremos a confirmação de que estão sentindo o golpe.

Seu abandono do trotskismo é fácil de comprovar. Basta entrar no seu site. A página começa com a imagem de Trotsky e a música da Internacional, porém a seção da IV Internacional permanece sempre do mesmo jeito: “em construção” . Seu curso nacional-trotskista pode ser verificado também porque depois de sua ruptura-expulsão (?) da CRCI (organização internacional que compartilhavam com o Partido Obrero da Argentina) não tem nenhuma relação internacional, nem evidencia qualquer preocupação neste sentido, porque abandonou de fato a luta pela reconstrução da IV Internacional.

Nada evidencia mais sua ruptura com o internacionalismo proletário e militante (questão fundamental de qualquer grupo que se reivindique trotskista) do que sua ausência em qualquer campanha pela derrubada do golpe em Honduras, uma questão crucial hoje na América Latina e que envolve diretamente o Brasil. O PCO não participou de nenhuma das atividades de solidariedade promovidas pela LER-QI (na USP inclusive) nem das de frente única que fizemos inclusive com os setores que eles gostam de chamar de “Bando dos Quatro” , como o PSTU. Se alguém procura Honduras no site do PCO só poderá achar análises. No seu site existem apenas notas sobre o golpe em Honduras, sem programa nem política, e não temos notícia nem informes de nenhum ato que o PCO organizou em apoio à heróica resistência hondurenha.

Nesse mesmo sentido, o PCO se torna cada vez mais orgânico da CUT e se afasta cada vez mais dos sindicatos organizados na Conlutas, constituída por sindicatos que se reivindicam antigovernistas e combativos, em sua maioria influenciados por correntes que se reivindicam trotskistas. A posição de não romper com a CUT poderia ser válida se o PCO tivesse a possibilidade de organizar no seu interior uma oposição ativa e significativa. Não é o caso. Mesmo assim, nada justificaria deixar de ter uma política de frente única, além das exigências e lutas políticas necessárias, também para os sindicatos organizados na Conlutas e até mesmo na Intersindical. Afinal, por que a defesa da unidade teria que passar somente pela CUT?

Como mostra sua política na USP, o PCO transforma o programa de transição ’ que diz defender, para manter-se como trotskista ’ numa mera saudação à bandeira que é apenas uma cobertura para uma política bem concreta de adaptação a setores semiautonomistas e semianarquistas ’ no caso da USP o MNN, agora promotores culturais. Com ações decididas de uma vanguarda é possível conquistar “territórios livres” (ocupação do DCE), mas é impossível implementar a maioria estudantil sem ganhar a maioria dos estudantes combativos para essa política, e nem preparar a vanguarda na perspectiva estratégica da tomada do poder. No movimento sindical, não temos sequer um exemplo de uma luta séria dirigida pelo PCO, na qual os trabalhadores levantaram demandas transicionais, ainda que pontuais. Para ser trotskista não basta lutar por aumentos salariais, denunciar as traições da burocracia governista e fazer propaganda do programa de transição. É preciso popularizar as demandas de transição entre os trabalhadores e colocá-las em prática nas lutas reais. Sobre esse ponto, recomendamos aos companheiros do PCO acompanhar mais de perto a política do PTS na Argentina e a exemplar luta dos operários de Zanon, um património não só de toda a FT-QI (organização internacional que integramos), mas do conjunto dos trabalhadores latino-americanos, pois com a atuação dos trotskistas do PTS em aliança com os operários e dirigentes sindicais combativos e classistas pode-se lutar por nove anos, ocupando a fábrica e colocando-a para produzir sob controle operário, e agora conquistando a expropriação, mostrando nos fatos concretos a possibilidade de uma saída à crise capitalista.

Demonstração última de como o PCO avança em sua ruptura com o trotskismo podemos encontrar em sua parceria sistemática com a Liga Operária, organização maoísta que preconiza a conciliação de classes. Não esqueçamos que o maoísmo foi a corrente histórica que criou o conceito de “bloco das quatro classes” , a estratégia de conciliação da classe operária e dos camponeses à burguesia e à pequena burguesia. Como se vê, o PCO cada vez mais combate as correntes trotskistas enquanto se aproxima docilmente de correntes historicamente antitrotskistas como o maoísmo.

Uma palavra sobre o PCO nos Correios e sua debilidade estratégica

Partimos de assumir nosso exagero ao chamar o PCO de fura-greve, pois não reivindicamos que tendo tantos inimigos comuns reais da classe operária, os partidos e políticos burgueses, a igreja, enfim as burocracias sindicais, as correntes que nos reivindicamos revolucionárias vivamos nos xingando entre nós como costumam fazer os companheiros do PCO. Em 2009 o PCO não atuou mais uma vez como fura-greve, como tinha feito em 2007. Naquele ano, enquanto em São Paulo os ecetistas protagonizavam uma verdadeira rebelião das bases contra a burocracia governista do PCdoB, em Minas Gerais (que acabou entrando já no final da greve) e Espírito Santo ’ sindicatos dirigidos pelo PCO ’ sequer haviam entrado em greve, pois era uma “greve organizada pela própria empresa” na opinião do PCO. Eles, ao invés de ajudar a fortalecer a greve uma vez que tinha começado, colaboraram para enfraquecê-la ainda mais. Se isso não se chama furar greve não sabemos mais o significado político desta definição.

Como dizia Trotsky, os sectários se recusam a molhar os seus princípios no rio da luta de classes, mas quando a realidade os obriga a fazê-lo, se mostram como verdadeiros oportunistas. Assim toda a verborragia esquerdista do PCO nos lugares onde não tem nenhuma responsabilidade dirigente, esconde seu profundo oportunismo e sua adaptação a CUT e ao PT nos correios, onde são obrigados a ter uma política concreta para além do discurso vermelho. E qual é sua política concreta além de furar-greves (como em 2007) e propor todos os anos seu adiamento? Apoiar o PT, para enfraquecer o PCdoB, como fizeram nas eleições para o sindicato dos correios da Bahia no inicio do ano!!! “Estamos chamando o voto na Chapa 1, apesar de sabermos que a Chapa do PT, nem de longe expressa a defesa do interesse efetivo da categoria” . (“Votar na chapa 1 para impedir uma folgada maioria do PCdoB na Fentect” ’ 30 de março de 2009, retirado do site do PCO). Como se vê, algum fundamento deve ter a afirmação de seus antigos parceiros internacionais, o Partido Obrero da Argentina, quando afirmam que “duas organizações ”˜trotskistas”™ apóiam toda esta agressão do Estado contra o sindicalismo combativo: O Trabalho (lambertistas) e o PCO (ex membro da CRCI), provavelmente porque se beneficiariam com maiores verbas para os sindicatos que tem sob o seu controle” . (PO n.°1055 “Ofensiva contra el sindicalismo clasista en Brasil” . O artigo se refere à tentativa da CUT e do governo de criar um sindicato paralelo ao Andes, o que segundo o próprio PO, foi apoiado pelo PCO).

O PCO desnuda sua debilidade estratégica e o seu oportunismo: mantém-se como “partido” apenas pela legalidade conquistada no período anterior, tentando se encobrir com um multimeios para superar a ausência de parlamentares, mas está cada vez mais decaindo sem força no movimento estudantil e muito menos no movimento operário. É o retrato de um partido que está se desmilinguindo, evaporando, e sua raiva contra uma corrente pequena, mas dinâmica, como a LER-QI mais parece os movimentos desordenados e convulsivos de um paciente em crise crónica.

Thiago Flamé faz parte do conselho editorial do jornal Palavra Operária.
01/10/09

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