Segunda 6 de Maio de 2024

Internacional

CONFECH ACEITA "DIÁLOGO" QUE É PARA DESARMAR O MOVIMENTO

CONFECh em Temuco: reuniões de costas às bases

29 Aug 2011   |   comentários

Depois de dois dias de paralisação nacional convocados pela CUT, com uma manifestação no dia 25 com 600.000 pessoas nas ruas e um fechamento que trás consigo a morte pelas mãos da polícia, de um companheiro em luta, de 16 anos de idade, é que a CONFECh se reúne. Em uma comunidade mapuche de Temuco começa a reunião onde os dirigentes das distintas universidades do conselho de reitores, a FEMAE e a U Central começam a debater sobre o contexto nacional e a continuidade da mobilização estudantil.

Dias depois de que já ficou clara a cara de um governo de direita que demonstra sua ligação direta com a ditadura pinochetista, com uma brutal repressão por parte da polícia, forças especiais e a PDI, com o assassinato de nosso companheiro Manuel Gutiérrez, o ânimo ali não é o mesmo que é palpável em nossas faculdades e nas ruas, não é um ânimo de ódio contra o governo e os cães fieis dos empresários mas o que trás dúvidas a nossos dirigentes é o final do semestre e debatem por longo período sobre isto. Nenhum de nossos dirigentes é capaz de colocar sobre a mesa o contexto nacional, em nenhuma das palavras se sente o mínimo de preocupação pelo ocorrido.

De fato, quando interviemos os questionando e dando importância e urgência a outros temas como a repressão e a criminalização, a mesa de diálogo proposta por Piñera, a maioria rie, como se fosse uma piada, somente os estudante de base presentes (aproximadamente 60) e as federações do extremo do país se mostram de acordo conosco. Depois de mais de uma hora discussão sobre o fechamento do semestre, por fim procedem a dar conta da mobilização nacional e a um balanço das jornadas.

Como Filosofia e Humanidades interviemos fortemente, destacando nossa participação durante toda a semana e nossa participação contra a repressão e em denúncia da polícia. Demonstramos quem os policiais realmente são, pois, para defender os interesses dos empresários estão dispostos a tudo. E, ao mesmo tempo, a Concertación não pode ficar impune, durante seus 20 anos de governo, assassinou a companheiros mapuche por defenderem sua cultura e suas terras contra os empresários que tanto a Concertación como a direita defendem. E, hoje, na sala onde foi velado Matias Catrileo, e com sujeitos como Alex Lemun entre os presentes, estão militantes da Concertación que querem embaralhar a mobilização estudantil. Dias depois da morte de Manuel Gutiérrez a CONFECh, agora (!) começa a tirar uma declaração de repúdio ao ocorrido.

A partir da Filosofia fazemos um chamado a formar comissões contra a repressão que convoquem concentrações e atos em denúncia dos assassinos de ontem e hoje, e julgamento e punição para os assassinos de nossos companheiros. Chamamos a formar uma comissão independente que investigue o assassinato, ao mesmo tempo que exigimos que a CUT convoque uma nova paralisação nacional, desta vez que não seja de tempo limitado e desde as bases.

Pelas federações oficiais estavam, Jackson da PUC (independente pó-Concertación), Vallejo da FECh (da JJCC – juventude do PC), Ballestero da USACh (JJCC) etc. Eles se dedicaram a comentar o número de participantes ao invés de remarcar os combates nas ruas, como na defesa da USACh onde 1000 estudantes estivemos enfrentando a polícia por 5 horas, ou os golpes e a excessiva brutalidade dos “pacos” (polícia) nas jornadas, sua invasão das universidades, as balas de borracha, as bombas de gás lacrimogêneo atiradas contra os estômagos de nossos companheiros, etc. Graças a nossa intervenção decidiram fazer uma conferência de imprensa que fosse dirigida pelos nossos companheiros Mapuche e que tivesse o objetivo denunciar e repudiar a repressão que não foi impulsionada somente pelo atual governo de Direita, mas também pela Concertación.

O ponto seguinte na mesa foi o que todos estávamos esperando, qual será a resposta da CONFECh frente à proposta de Piñera de uma mesa de diálogo? Ainda que pareça surpreendente as Juventudes Comunistas (JJCC) e a Concertación se esforçam com tudo para que fosse aprovada, passando por alto qual a opinião das bases, pois a maioria das federações sequer as consultaram. O argumento que usam é que “deslocamos” o executivo, e que seria contraditório não nos somarmos aos convite e que não devíamos nos preocupar pois é somente para conversar, não se trataria de uma mesa de negociação. Os estudantes de base presentes ficamos boquiabertos já que, não é graças ao nosso deslocamento do executivo que esta mesa foi apresentada, é porque o que o governo quer é nos tirar das ruas, impedir que as mobilização sigam crescendo e colocar panos frios ao assassinato de nosso companheiro secundarista. Não se trata de dizer não a negociação como um voto de intransigência mas que esta deve ser baseada em nossas reivindicações, a educação gratuita, o co-governo das estruturas, o acesso irrestrito à educação superior, e não em base às propostas da Direita. Além disto não pode ser de portas fechas, deve ser uma negociação aberta, com delegados mandatados e revogáveis, pública, onde as bases tenhamos a decisão em nossas mãos. O discurso de que seria somente um diálogo e não uma negociação já escutamos várias vezes. O próprio GASE foi isto, prometia ser somente um rascunho, nada resolutivo, e por isto os meios de comunicação tiveram acesso ao mesmo antes que os estudantes, e terminou sendo entregue a Bulnes, desatando o GANE quase intacto, que era o projeto educativo da Direita desde antes.

Estudantes que se apresentam desde as bases de distintas federações saem junto de nós a repudiar esta decisão burocrática que tomaram as direções da confederação (CONFECh), enquanto isto os “coletivos populares”, fazem o jogo do reformismo aceitando a mesa de diálogo e, além disto, colocam que deveríamos estar somente os estudantes, deixando de fora o Colégio de Profesores (sindicato de professores) e com isto aos trabalhadores deste sindicato, dividindo nossas forças. Desde já só se debate o dia e a hora do debate. Está definido, a CONFECh aceita a mesa de diálogo.

Uma vez mais fica demonstrado que o baixo grau de representatividade de nossos organismos, onde as decisões são tomadas pelos dirigentes de costas às bases. Cada vez que avança a mobilização mais se vê a necessidade de refundar nossos organismos em base à democracia direta, com delegados em cada espaço, mandatados pela base e revogáveis.

Beatriz Bravo conselheira da Fech Filosofia e Humanidades- militante da Las Armas de la Crítica e do Pan y Rosas

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