Segunda 29 de Abril de 2024

Movimento Operário

OS GRANDES BATALHÕES OPERÁRIOS DESPERTAM

Burocracias da CUT, Força Sindical e CTB impedem um processo amplo e profundo de lutas de um milhão de metalúrgicos

07 Nov 2009   |   comentários

O mês de setembro desse ano foi marcado por um processo de greves operárias em setores estratégicos da produção capitalista. Historicamente os trabalhadores da categoria de metalúrgicos[1] faz sua campanha salarial nesse período do ano, porém o que vimos nesse último processo foi diferente, mesmo cumprindo o calendário imposto pelas lutas reivindicativas das datas-base, os trabalhadores romperam com a lógica antes colocada.[2]
Os patrões sabem que a crise está apenas começando e desejavam lucros ainda maiores do que os que conquistaram nesse ano, portanto diziam que não dariam nada além da reposição da inflação. O discurso da CUT no início da campanha era que se devia manter o pacto de antes: reajuste da inflação e uns 2% de aumento real.

A estratégia da burocracia sindical

A CUT e a Força Sindical nada fizeram por um plano de luta unificado com a Conlutas e a Intersindical, que mobilizaia um milhão de metalúrgicos, com uma pauta comum de 14% como exigia a Conlutas, pela revogação dos acordos regressivos que foram negociados com a patronal no início do ano passado, readmissão dos demitidos, salários e direitos iguais aos terceirizados e contratados, entre outras reivindicações fundamentais que essa força operária com atos, paralisações e greve geral dos metalúrgicos poderia impor à patronal, aproveitando o momento de recuperação económica parcial.
A burocracia agiu para dividir os metalúrgicos das montadoras dos demais trabalhadores, negociou por fábrica e impediu iniciativas mais combativas. As direções sindicais queriam apenas pressionar a patronal para manter o pacto dos anos anteriores, traindo abertamente os interesses e a disposição de luta dos trabalhadores para favorecer os patrões e impedir uma luta exemplar para todas as demais categorias que entravam em campanha salarial e que poderiam se unificar, como os bancários, petroleiros, correios, químicos, etc.

A crise capitalista e os ataques aos trabalhadores

Desde o começo da crise, os trabalhadores tem acompanhado uma série de ataques. Vimos muitas demissões acompanhadas pela precarização das condições de trabalho. Diversas fábricas que demitiram no primeiro semestre voltaram a contratar, porém essas novas contratações são com salários menores e perda de direitos. Para manter a produção a todo vapor os trabalhadores são obrigados a fazer horas extras em ritmo intenso.
A surpresa das direções sindicais e governistas foi que a disposição de luta dos trabalhadores não era por apenas migalhas e o que vimos foram fortes mobilizações que chegaram a organizar setores operários que há muito tempo não se colocavam em luta.
No ABC, a direção cutista levou a luta salarial a uma conquista de 6,53% de reajuste, sendo 4,2% de reposição da inflação e 2% de aumento real, mostrando que é uma direção governista e que se nega a elevar o nível de reivindicação e disciplina os trabalhadores a aceitarem o mínimo.
Porém, não foi sem crise que os trabalhadores aceitaram esse acordo, o sindicato foi obrigado a estrangular a greve nos seus pólos mais avançados, como foi, por exemplo, no setor de autopeças, segregando a categoria por acordos por fábricas e reprimindo as livre organização dos trabalhadores e seus métodos. Em algumas pequenas fábricas do ABC, como a Detroit os trabalhadores se estavam dispostos a fazer barricadas e piquetes para impedir que os gerentes entrassem na fábrica e o sindicato atuou como polícia, impedindo a radicalização da greve. No final esse setor acabou tendo que amargar acordos por fábrica menores do que os das montadoras, além de serem obrigados a repor os dias paralisados e ficarem expostos a repressão patronal.
Essa crise gerada na base da CUT se deu justamente porque em outras empresas do setor automobilístico o reajuste conquistado foi superior ao imposto pelo pacto social governo, patronal e centrais sindicais. Em São José dos Campos os trabalhadores da GM, dirigidos pela Conlutas, conquistaram um reajuste de 8,3% e um abono de R$ 1.950,00.[4] Essa conquista ajudou os trabalhadores da GM de São Caetano a passarem por cima da direção da Força Sindical que reivindicava apenas a reposição da inflação, exigindo o mesmo que os companheiros de São José. Em Taubaté, os metalúrgicos exigiram que a direção cutista renegociasse com a patronal outro acordo com referência no da Conlutas.
No Paraná, base da Força Sindical, houve greves na Volvo e na Renault, conquistando 7,44% e 8,44% de reajuste além de R$ 2 mil de abono. Em Campinas o saldo da luta operária foi ainda maior: os trabalhadores da Honda e da Toyota, organizados pela Intersindical, conseguiram 10% nos salários.
Essa onda de greves metalúrgicas foi acompanhada por um processo radical dos trabalhadores do Correios, um setor extremamente precarizado que mais se enfrentou com a direção do PCdoB/CTB e do PT que aceitavam os 4,5%, diante da reivindicação de 41,03% de perdas salariais. Os ecetistas conquistaram 9%, mas o sindicato negociou com o governo o acordo por dois anos, justamente para evitar luta salarial no ano que vem, preservando a candidatura de Dilma.
Entraram em greve, também, os bancários (430 mil no país). A Febraban propunha 4,5% de reposição da inflação, e os bancários, que reivindicavam 10%, conquistaram 6,0%, mais algumas concessões específicas, como no Banco do Brasil onde a direção da empresa concedeu mais 3% como revisão do plano de carreira e na Caixa Económica Federal os trabalhadores conquistaram R$ 700,00 de abono. Nesses dois bancos a promessa patronal é de novas contratações. Terminou assim, pelo papel burocrático da CUT.

Construir uma nova tradição no movimento operário

Entendemos, que esses processos estão no marco de lutas reivindicativas e salariais, mas há um despertar de grandes batalhões de trabalhadores que se dispõem a lutar por seus interesses imediatos. Ainda que as direções burocráticas tenham impedido um processo amplo e forte de lutas operárias, não terá sido sem desgastes com as bases que viam ser possível lutar e conseguir mais. Na Volks de São Bernardo um setor dos operários gritavam nas assembléias que queriam o mesmo reajuste da Conlutas.
Essa influência parcial da Conlutas traz consigo a responsabilidade de superar as estratégias sindicalistas de campanhas salariais isoladas por categorias e fábricas, com greves de pressão para no fim negociar um pouco mais. Trata-se de ver na disposição dos trabalhadores as possibilidades de apontar um novo caminho, da unidade de todos os trabalhadores, incluindo os terceirizados e contratados, num plano de luta unitário com greves e paralisações coordenadas para colocar a patronal contra a parede e impor as reivindicações operárias.

Operário morto dentro da fábrica Responsável: Mercedes Benz

No último dia 22/10 Silvanio Pereira, trabalhador da Mercedes Benz morreu dentro da fábrica, vítima de uma descarga elétrica fortíssima. Silvanio tinha 35 anos e uma família para criar. Sua morte é a expressão mais cruel da submissão imposta aos trabalhadores de nosso país que sofrem cotidianamente com a opressão e a humilhação. No Brasil, só em 2008, 11 mil trabalhadores morreram em acidentes no local de trabalho. O país está em 4º lugar no mundo entre os que têm maiores riscos de morte no trabalho, além de ter uma das maiores jornadas do mundo, esticada pelas horas extras.
O operário tem acúmulo de tarefas e sempre é exigido a aumentar o ritmo de produção. Com essa pressão intensa, o trabalhador continua pensando no trabalho quando já está em casa, pois tem medo de perder o emprego, vive pensando como melhorar seu desempenho, não têm descanso saudável e assim vão desgastando sua saúde física e psicológica.
A morte de Silvanio se encaixa nesse quadro da superexploração capitalista. Operário de uma empresa multinacional, tentava responder à pressão de que a linha não pode parar e ele tem que ser polivalente, resolver problemas.
O Sindicato do Metalúrgicos do ABC reivindica que o caso seja apurado para que todos saibam qual foi a causa do acidente. Nós achamos que a apuração deve ir até o final, mas não podemos confiar nos investigadores da empresa, devemos impulsionar uma comissão de apuração independente, que possa responsabilizar os verdadeiros culpados por essa morte. Um importante exemplo de solidariedade, no dia do seu enterro, foi a paralisação dos trabalhadores da Mercedes para acompanhar o féretro. A comissão de fábrica e o sindicato têm que cumprir suas obrigações, convocando a Cipa para garantir uma investigação independente, punição dos responsáveis e medidas sérias para que a patronal garanta a integridade física dos operários.

[1] A FEM-CUT/SP representa 45 mil metalúrgicos das montadoras (ABC e Taubaté), sendo 96 mil metalúrgicos no ABC. A Força Sindical (Tatuí e São Caetano do Sul) junto com a CGTB (São Carlos), 13 mil. Nos outros setores metalúrgicos a FEM-CUT/SP representa mais 210 mil. Em todo o Estado de São Paulo, a Força Sindical representa cerca de 700 mil metalúrgicos, em 51 sindicatos.
[2] Na indústria, no primeiro semestre, apesar da recuperação econômica, as negociações com índices acima da inflação permaneceu quase inalterado: 77%, em 2008, e 78%, em 2009. Esses dados ainda não retratam as negociações do segundo semestre deste ano. Desde 2008 as greves no setor privado vem crescendo (54,5%) e superando as greves no serviço público.

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