Sábado 27 de Abril de 2024

Movimento Operário

DEBATE

Bancários: mais uma greve traída pela burocracia governista da Articulação/CUT

16 Oct 2011   |   comentários

Por Edison, delegado sindical da Agência Sete de Abril da Caixa Econômica Federal

Após 20 dias de greve, que a direção do Sindicato de SP classificou, mais uma vez, como “a maior dos últimos vinte anos”, a luta dos trabalhadores bancários foi enterrada na noite de 17/10. Para isso, a direção petista-cutista usou de uma manobra já conhecida da categoria: dividiu a assembleia final em três, e trouxe em peso os gestores dos bancos públicos (BB e CEF) para lotarem suas respectivas assembleias.

Enquanto isso, as correntes de Oposição, em particular MNOB/Conlutas (PSTU), mas também a minoria da Intersindical/PSOL (a maioria da Intersindical é parte da direção atual junto com o PT), não ofereceram qualquer alternativa concreta frente a essa manobra. Adaptou-se como um “fato consumado”, e se limitou a tentar estender a greve nos bancos públicos, deixando os bancários dos privados pelo caminho.

Porém esse desfecho não fez mais do que coroar o conjunto da obra. Desde o início da greve, o Sindicato trilhou um caminho conhecido, que um setor significativo da categoria já enxerga como um “teatro” ou mesmo uma “farsa”. Depois de passar dias e dias dizendo que o movimento está “fortíssimo”, que ele é “histórico”, etc., de repente os 8,4% sobem para 9%, e então o que era uma “proposta muito rebaixada” vira “mais uma conquista histórica”.

Graças à direção do PT no Sindicato, a derrota nos Correios serviu de exemplo para disciplinar os bancários e fazê-los engolir uma proposta que, ainda que não configure uma derrota aberta, é claramente insignificante perto da força da greve em todo o país. Tivemos mais uma greve dura, entregue à patronal por migalhas, enquanto o governo festeja o avanço de sua “política anti-crise”: achatar nossos salários e cercear nosso direito de greve para que não possamos resistir, enquanto os ganhos dos grandes empresários nacionais e estrangeiros são garantidos pelos cofres públicos.

Ao mesmo tempo, as correntes de Oposição não se colocam como alternativa real, pois não propõem uma estratégia independente clara. Tanto no caso do MNOB quanto no da Intersindical (com o acréscimo de que estes últimos ainda se reservam momentos de flerte com a direção petista), as respostas políticas da oposição se apresentam também estereotipadas, rotineiras. Nas questões cruciais, não se colocam como uma alternativa real de direção para o combate, se contentando com gerar experiências de que “com essa direção não dá”, buscando assim ganhar base para “tomar” o sindicato pacificamente em futuras eleições sindicais... (como vimos no Metrô de SP, onde a eleição do PSTU no sindicato se mostrou uma “vitória de Pirro”, pois o colocou numa correlação de forças que o impediu de sequer preparar uma greve séria contra a privatização e ataques do tucanato paulista).

Uma receita conhecida, que no entanto se repete...

O quadro dessa greve se desenhou como nos últimos anos: a burocracia governista da CUT dirige sozinha nos bancos privados, praticamente sem oposição. O despotismo patronal nesses bancos é, naturalmente, muito mais agudo, e dificulta enormemente a formação de ativismo de base. Do outro lado, também contribui para isso a “retirada” da Oposição, que foi se concentrando cada vez mais quase exclusivamente no BB e na CEF. Nesses, ela consegue ter um peso significativo, conseguindo às vezes polarizar com a direção nas assembleias e eleições sindicais.

Nos bancos públicos, fortaleceu-se a tendência de anos anteriores de diminuição do ativismo no BB (refletindo a transformação interna desse banco que vem buscando perder até mesmo a imagem de “estatal”) e o protagonismo da CEF na greve. Porém em algum sentido 2011 foi um salto de qualidade: não só o ativismo no BB diminuiu ainda mais, como a própria adesão à greve foi reduzida, caindo em muitos lugares a patamares inferiores à dos privados. Já na CEF, se a paralisação foi muito forte e até maior do que em anos anteriores, o nível de ativismo na base pareceu diminuir. A direção do Sindicato, em quem não se pode confiar, definia a greve desse ano como sendo “a maior dos últimos anos, porém mais ‘fria’ do que outras”.

No entanto, o que a direção petista e governista não poderia dizer, é que essa atitude da categoria expressa exatamente sua posição diante da patronal e do sindicato: se por um lado os trabalhadores repudiam os níveis de exploração a que estão submetidos e sabem que existe de onde tirar para oferecer condições dignas de trabalho e salário, e por isso aderem com facilidade à greve, inclusive nos bancos privados; por outro lado, não confiam realmente no Sindicato, e por isso não se entregam a um combate pra valer, não geram um ativismo real.

O reflexo disso é a fotografia do dia a dia do movimento. Inúmeras unidades de trabalho paralisadas, em geral mantidas apenas com uma grande quantidade de faixas e adesivos, ou nas regiões centrais com funcionários do Sindicato (às vezes permanentes, ou então “terceirizados” contratados apenas durante o movimento); nas grandes concentrações de cada banco, piquetes um pouco mais reais, muitas vezes bancados pelos diretores do Sindicato (e militantes da Oposição), com um volume maior em matéria de aparatos de som, carros e faixas.

Em particular nos bancos privados, a experiência mostra que a paralisação é garantida desde que o Sindicato ofereça um “álibi” frente à direção do banco (de modo a que o próprio gerente possa “acatar” a pressão do Sindicato).

A consequência é a famigerada “greve de pijama”, com os trabalhadores em casa sem qualquer postura ativa, enquanto o Sindicato “faz a greve” por eles. Um quadro cuidadosamente construído pelo sindicalismo petista, cujos dirigentes sindicais ainda têm a cara-de-pau suficiente para “cobrar” a participação da base em seus discursos.

É preciso dar um basta nessa situação!

Um debate com o MNOB e os militantes do PSTU

Existe um enorme espaço para a atuação das correntes anti-burocráticas entre os trabalhadores, organizando sua raiva contra a patronal de maneira independente, e denunciando a cada passo os limites que a direção do Sindicato impõe à luta. No entanto, a tática do PSTU não prioriza essa tarefa. Na prática, apesar de ter importantes referências na categoria, tanto na CEF como no BB (assim como, antes, na Nossa Caixa), a política do MNOB não busca construir um ativismo operário de base, auto-organizado, com trabalhadores conscientes e sujeitos da própria luta.

Se não fosse assim, um problema estratégico de concepção sobre como atuar nos sindicatos, nada justificaria que o peso significativo e a importante tradição que o PSTU possui na categoria, não se revertessem em uma política ativa para construir e fortalecer verdadeiros piquetes de greve, reunindo dezenas e centenas de trabalhadores, e que com uma política de coordenação da greve pela base pudéssemos fazer de algumas poucas agências e prédios determinados os centros nervosos do combate. De lá seria possível planificar e coordenar uma verdadeira mobilização que fugisse do “script”, com ações efetivas contra os lucros dos bancos, colocando também o governo contra as cordas.

Ao invés disso, a lógica do PSTU é a de uma “guerra de posição” superestrutural contra a direção do Sindicato, visando ganhar as eleições algum dia como objetivo central. Isso se reflete na falta de um plano efetivo para a greve, o que conduz a uma linha de passividade. Os militantes do partido e ativistas mais próximos reproduzem o modelo de greve do Sindicato, e não organizam a base dos trabalhadores numa greve de fato massiva e militante.

Além disso, essa dinâmica reforça a tendência da Oposição a um tipo de um corporativismo dos bancos públicos (um corporativismo dentro de outro).

De início, o PSTU e a CSP-Conlutas começaram a greve defendendo a palavra de ordem de “o lucro do Banco cresceu, agora eu quero o que é meu”. Em todas as reuniões e assembleias os militantes do partido repetiram como “lema”, uma palavra de ordem que no entanto é duplamente equivocada. Primeiro, porque é absurda do ponto de vista ideológico, ao permitir supor que o lucro patronal crescer é algo bom para o trabalhador. Segundo porque é muito perigosa do ponto de vista tático, pois frente ao agravamento provável do quadro econômico, desarma os trabalhadores frente aos ataques que virão quando os lucros caírem.

No decorrer da greve, a tática principal do partido, via MNOB, foi a proposta de carta ao governo exigindo abrir negociações específicas com os bancos públicos, o que na prática dividiria a categoria antes mesmo dos planos do Sindicato. E depois fica apenas a briga para que a greve se estendesse mais apenas nesses bancos, num momento em que a chave era lutar até o final pela unidade de toda a categoria, para impedir o Sindicato de concretizar mais uma vez a mesma manobra da divisão das assembleias. Tanto o MNOB como a Intersindical disseram que “não havia o que fazer”. Mas isso só revela a impotência da sua política. Unindo todas as forças de oposição e os ativistas de base, seria possível realizar uma forte denúncia da manobra do Sindicato, impedindo-a de se concretizar, ou no pior dos casos abrindo um conflito que aumentaria e muito os custos de insistir nesse método para a direção petista. Mas a falta desse último combate é apenas o último elo de uma cadeia, e ilustra bastante bem duas concepções de atuação no movimento operário.
Já havíamos visto a mesma adaptação no caso dos Correios. Na assembleia fajuta de São Paulo que a direção do Sintect/sp convocou no feriado para acabar com a greve, Geraldinho tomou a palavra em nome do PSTU e da Conlutas. Criticou a direção do sindicato, mas já falava da greve no passado, isto é, dava por favas contadas que a manobra dos pelegos seria vitoriosa. Em nenhum momento da greve dos correios a oposição levantou uma política alternativa à da direção pelega, apesar de ter força suficiente para fazê-lo. Prevaleceu, como em bancários, a política de apostar no desgaste da direção esperando obter dividendos eleitorais nas próximas eleições sindicais.

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