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Movimento Operário

BANCÁRIOS - ENTREVISTA

Sobre a greve dos trabalhadores bancários no Brasil

06 Nov 2013 | Entrevista concedida para o boletim de La Marrón Bancaria, agrupação impulsionada por militantes do PTS e trabalhadores independentes na Argentina, publicada em 23/10/2013.   |   comentários

A organização dos trabalhadores é fundamental para que possamos romper a barreira imposta pela burocracia sindical e responder aos ataques do governo e dos patrões e banqueiros; lutamos pela construção de um alternativa combativa e independente que realmente possa conquistar as reivindicações mais sentidas pela categoria.

1 - Qual é a luta, quais são as suas principais reivindicações?

Estamos em greve desde o dia 19/09/2013 exigindo reajuste salarial, aumento do piso, benefícios e melhores condições de trabalho, fundamentalmente através de mais contratações, já que a política da patronal vem sendo de grandes demissões nos bancos privados, e no caso da Caixa Federal, de expansão da rede de agências num ritmo bem maior que as contratações - em ambos os casos aumentando ano após ano a sobrecarga de trabalho a pressão e o assédio moral, que fazem da categoria uma das campeãs de adoecimento no Brasil.

2 - Como se organiza e qual a política do sindicato para os bancários?

Nosso sindicato é um dos principais bastiões da CUT, Central Única dos Trabalhadores, que é dirigida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mesmo partido da presidente Dilma e de Lula. Trata-se de uma burocracia que há anos busca controlar as lutas da categoria e impedir qualquer tentativa de auto-organização por parte dos trabalhadores, garantindo os acordos com a patronal que mantêm os lucros recordes dos bancos brasileiros ano após ano (só o Banco do Brasil lucrou mais de R$ 10 bilhões no primeiro semestre de 2013, por exemplo), que é parte essencial da estabilidade conservadora do Brasil de Lula e Dilma.

Apenas o nosso sindicato, que compreende a região da capital e Grande São Paulo, possui cerca de 150 mil trabalhadores na base, e é dos mais poderosos da CUT, ao lado dos Metalúrgicos do ABC (berço de Lula) e dos professores do Estado de São Paulo (que é a categoria mais numerosa).

3 - Que tipo de apoio e solidariedade tem alcançado?

Ao longo da greve, que durou 23 dias, sentimos cotidianamente o apoio popular à luta, pois apesar de que ainda existe certa percepção de que nossa categoria seria relativamente "privilegiada", muitos sabem que as condições de trabalho estão cada vez mais precárias, enquanto a raiva com relação aos banqueiros é bastante generalizada. Podemos dizer que esse apoio popular só não se materializou em um impulso à radicalização da luta devido a política consciente da direção sindical colaboracionista, que procurou isolar a luta bancária das demais lutas em curso no país, e das reivindicações populares levantadas em junho.

Nessa greve, nós, membros da oposição bancária e ativistas de base da categoria, conseguimos organizar importantes piquetes e ações independentes da direção do sindicato. Pra isso contamos com o fundamental apoio dos estudantes, organizado principalmente através da Juventude às Ruas. Além disso, tivemos o apoio de outros sindicatos e ativistas de outras categorias, entre eles o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo que, junto com Jorge Luis Souto Maior, professor da Faculdade de Direito da USP, nos ajudaram a construir uma atividade contra a terceirização e o Projeto de Lei 4330, que prevê a expansão da terceirização no Brasil. Nos piquetes, também contamos com o apoio de diversos trabalhadores terceirizados, isso só é possível porque temos a questão da efetivação dos terceirizados como aspecto central do nosso programa.

4 - Qual é a relação entre a sua luta e as manifestações de massa que ocorreram há alguns meses, que a voltam agora, com os trabalhadores da educação ?

Infelizmente, a categoria bancária não foi tão contagiada pelo espírito das jornadas de junho quanto outros trabalhadores. Havia uma percepção geral da categoria de que nossa greve ocorria em uma conjuntura política favorável. Se por um lado vimos uma enorme adesão da categoria nessa greve, muito superior a anos anteriores, contraditoriamente, o imenso rechaço à burocracia sindical faz com que tenhamos cada vez menos ativismo de base. Mesmo assim, nas ações independentes mais radicalizadas que fizemos durante a greve (como o trancamento total de prédios estratégicos dos bancos), sentimos que o clima "pós-junho" se expressava também no enorme cuidado dos bancos e do governo, de evitar acionar a repressão policial, seguramente com medo de que pudessem atrair a atenção das massas para o apoio político à greve.

No entanto, desde junho o país já não é o mesmo. Nesse momento vemos uma série de categorias de trabalhadores em luta, com destaque para a heroica greve protagonizada pelos professores no Rio de Janeiro que conquistou enorme apoio da população, sobretudo dos jovens, além de diversas lutas que começam a surgir no movimento estudantil. Estivemos com um pequeno bloco de bancários em greve em umas das manifestações de apoio à luta dos professores e fomos muito bem recebidos.

5 - Como a luta continua?

Infelizmente, como nos outros anos, apesar de estarmos em uma greve forte há 23 dias, a burocracia sindical enterrou nossa luta em troca de algumas migalhas. Desde antes da greve vínhamos atuando em frente única com outros grupos de oposição, buscando organizar um setor de base da categoria a fim de desafiar o controle da burocracia sindical. Após a greve, acreditamos que existe a possibilidade de darmos um salto na reorganização da Oposição bancária, podendo inclusive disputar seriamente a direção da associação de empregados da Caixa Federal no ano que vem.

Seguiremos buscando construir uma alternativa anti-burocrática, lutando pela unificação desde a base dos trabalhadores em diversas categorias, sejam eles efetivos ou terceirizados. A mudança política do país nos coloca a necessidade de unificar as diversas lutas em curso, para isso estamos construindo um grande encontro de estudantes e trabalhadores que acontecerá agora no início de novembro.

Conquistamos uma relação qualitativa com setores de terceirizados durante a greve, que nos permite pensar em lutas mais unificadas no próximo período. Um exemplo concreto é que, num dos prédios centrais da Caixa que trancamos totalmente com os bancários efetivos na greve, logo após a greve as terceirizadas do setor de telemarketing da Caixa voltaram a paralisar, desta vez com suas próprias forças, em discussão conosco.

6 - Qual mensagem vocês enviariam para os trabalhadores bancários na Argentina que também sofrem com trabalho precário, baixos salários e falta de pessoal?

Nossa mensagem é de que os trabalhadores bancários não podem se esquecer de que, apesar de não estarem na grande indústria, também movimentamos engrenagens fundamentais do mecanismo capitalista, e que se conseguimos combater a ideologia de "classe média" que é martelada na cabeça da categoria, os bancários podem ser um ponto de apoio muito forte para as lutas do conjunto da classe trabalhadora...

A organização dos trabalhadores é fundamental para que possamos romper a barreira imposta pela burocracia sindical e responder aos ataques do governo e dos patrões e banqueiros; lutamos pela construção de um alternativa combativa e independente que realmente possa conquistar as reivindicações mais sentidas pela categoria. A experiência da FIT é um importante exemplo de luta para nós. É através de uma unificação principista entre as organizações que esquerda e a vanguarda da classe trabalhadora que teremos forças para enfrentar os ataques tanto do governo de Cristina Kischner quanto do governo de Dilma, que enquanto fazem discursos bonitos e demagogos para os trabalhadores e o povo pobre, se submetem cada vez mais ao capital financeiro às nossas custas.

Saudamos os camaradas trabalhadores bancários na Argentina que também estão na luta contra os grandes capitalistas e constroem uma verdadeira corrente antiburocratica e classista.

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