Terça 23 de Abril de 2024

Movimento Operário

NOSSA ATUAÇÃO NO INÍCIO DA GREVE BANCÁRIA

Bancários: rompendo os limites impostos pela burocracia

25 Sep 2013   |   comentários

A greve dos bancários em São Paulo foi marcada em seus primeiros dias por diversas demonstrações de que a base da categoria também está sendo percorrida por novas tendências que expressam o Brasil pós-junho.

Ainda que a categoria tenha se mostrado relativamente mais distante do espírito das mobilizações do que diversas outras, em particular dos setores mais jovens e nos trabalhos mais precários, o desenvolvimento da greve em seu início dá pistas de que os bancários também não estão alheios ao novo momento político.

De um ponto de vista mais geral, essa mudança se expressa na linha do Sindicato de fazer paralisações mais contundentes do que de costume, desde o início da greve. O grande destaque foi o “trancaço” da Cidade de Deus, a matriz nacional do Bradesco, situada em Osasco, com mais de 12 mil funcionários, questão que não acontecia desde o início dos anos 1980.

Uma nova dinâmica na Oposição... e um novo protagonismo da base?

Nos dois primeiros dias de greve, pelo menos duas ações significativas ocorreram totalmente por fora do controle do Sindicato: na quinta-feira, uma paralisação muito forte na Ag. Sete de Abril da Caixa, que fechou até o auto-atendimento da agência, e frustrou uma tentativa da PM de romper o piquete a pedido de uma “cliente” reacionária, que logo mostrou estar mais interessada em desfazer o controle dos trabalhadores do acesso a seu local de trabalho, do que em qualquer operação financeira (que estava disponível a poucos metros dali, em outros canais).

A vitória política e moral que obtivemos ali (sob forte chuva em diversos momentos) foi decisiva para um desafio superior no dia seguinte: parar o prédio central da Caixa na Praça da Sé, onde funcionam a Ag. Sé, a Superintendência Regional e outros departamentos (num total de mais de mil trabalhadores, sendo centenas de terceirizados de diversas empresas).

Fechamos totalmente o prédio da CAIXA na Sé

A ação na Sé, na sexta-feira, foi ainda mais importante do que a anterior, e até podemos dizer “histórica” em um duplo sentido: não somente porque o prédio não era fechado desde “sabe-se lá quando”, mas também porque foi uma ação bancada de maneira totalmente independente da direção do Sindicato. Num piquete encabeçado por trabalhadores da própria agência e um conjunto de ativistas de base ligados à oposição, e com o apoio decisivo de estudantes organizados pela Juventude Às Ruas e de trabalhadores de outras categorias, como metroviários e o diretor do Sintusp Marcelo Pablito. Esses apoios não só foram vitais para viabilizar a ação, mas expressaram algo superior, de caráter estratégico: a solidariedade entre categorias e a concretização da aliança operário-estudantil.

A força de um programa correto

Mas não foi só o número de ativistas que conseguimos reunir, o que garantiu o sucesso do “trancaço”, que deixou até os terceirizados do lado de fora e impediu a entrada da própria superintendente. Outro fator de enorme peso foi a relação que pudemos estabelecer naquele contexto com os terceirizados que trabalham no prédio.

O apoio moral dado ao nosso piquete pelas trabalhadoras e trabalhadores terceirizados foi decisivo para elevar nosso espírito de combate e dissuadir qualquer tentativa séria dos fura-greves, principalmente gestores, que pudesse tentar quebrar o piquete.

Mas esse apoio moral é fruto de uma combinação: uma disposição progressista das trabalhadoras de ver a nossa luta (inclusive o método radical) com simpatia, e um programa concreto de defesa dos terceirizados, que defendemos publicamente no microfone desde o início do piquete.

A formação de uma frente única

Ao mesmo tempo, o importante passo à frente que a Oposição bancária deu com a ação de 20/09 na Sé não caiu do céu. Estamos orgulhosos da contribuição que vimos dando para a reconstrução de uma alternativa antiburocrática na categoria. Desde o Piquete da Sete de Abril iniciamos, desde 2011, a constituição de um polo de vanguarda na luta pela auto-organização dos trabalhadores, em defesa dos terceirizados e contra a burocracia sindical. A partir daí, na atuação concreta nas greves, e especialmente no processo de luta contra a demissão do companheiro Messias da Caixa (Ag. B. Coutinho – Osasco), fomos realizando um processo de aproximação a partir de intervenções comuns com o coletivo Bancários de Base, e depois com os coletivos Avesso e ASS (Intersindical). Discutindo abertamente as diferenças que possuímos com esses coletivos, com o método da crítica mútua fraternal, pudemos constituir uma frente, Avante Bancários, que está fazendo sua primeira atuação prática nesta greve.

Diferenças e unidade com o MNOB

A partir daí, nos lançamos a construir uma alternativa concreta de oposição frente ao estancamento e retrocesso político e organizativo do MNOB (o movimento de oposição do PSTU/CSP-Conlutas), que já constituiu uma força de oposição muito mais importante no Sindicato, porém hoje vem de atuar de forma muito aparatista e auto-proclamatória (como se fosse “A Oposição” única), e ao mesmo tempo adaptada à burocracia cutista com seus calendários e seus ardis para conduzir as assembleias e as greves.

Com isso, pudemos pressionar os companheiros do MNOB, que continua sendo a principal força de oposição à direção pelega da Articulação Bancária (ArtBan), a romper essa postura, e isso se expressou no maior diálogo e na construção comum de ações como a do dia 20/09, que se repetiu numa importante ação em 24/09 na Superintendência do Banco do Brasil na Av. Paulista. Ali obtivemos um êxito no trancamento do prédio e conseguimos impor um piquete mais combativo, frente à pressão da burocracia, que foi obrigada a comparecer para não perder de vez o controle, e queria impor a entrada do principal executivo. Depois, no mesmo dia, na passeata da tarde, o acordo do Sindicato com a PM fez que cerca de mil bancários não pudessem fechar totalmente a avenida, enquanto após junho ela foi parada por grupos de centenas ou até de dezenas. Foi uma ação melhor do que as passeatas desmoralizadas de anos anteriores, mas não esconde o objetivo do Sindicato: fazer uma ação “para constar”, e depois usar esse pretexto para tentar apressar a vinda de uma proposta que possa encarar como “final”.

O destino da greve ainda está em aberto, mas pode ser definido nos próximos dias (escrevemos este artigo durante a greve, e nada melhor do que ir avançando no próprio curso da luta de classes).

As perspectivas da greve...

No novo contexto do país, no marco da existência de outras greves importantes como nos Correios e em metalúrgicos, e frente à possibilidade que o antagonismo de interesses entre banqueiros e governo, de um lado, e trabalhadores, de outro, fale mais alto do que a política de colaboração de classes da direção pelega, não se pode descartar que a greve saia do controle da burocracia. A confluência de uma Oposição fortalecida e dotada de uma política classista, com um possível ressurgir do ativismo de base nesta enorme categoria, poderia constituir salto à frente na reorganização da classe trabalhadora no país.

Em todo caso, mesmo que esse cenário mais favorável não ocorra agora, as tendências mais profundas continuarão a empurrar nesse sentido.

...e a questão do partido

Esse tipo de ação, ao mesmo tempo em que é um “elogio à frente única”, pois evidentemente só poderia se dar pela confluência de diversas forças, como expressamos neste artigo, é também um “elogio ao partido”.

De nosso ponto de vista, tudo isso que estamos fazendo não é uma ação em si mesma, mas é parte da inserção no movimento operário, da busca pela aliança dos trabalhadores com outros setores (como a juventude), a construção de frentes únicas capazes de potencializar nossa estratégia, o enfrentamento com a burocracia sindical; tudo isso enfim, combinado a uma teoria e um programa revolucionários, é parte da construção do partido.

A nova realidade, nacional e internacional, vai mostrar a cada vez mais ativistas e trabalhadores que entre suas lutas e a construção do partido para a revolução, existem muito menos barreiras, muito menos distância, do que pareceu até então. A luta por um partido revolucionário que possa unir todas demais lutas numa única torrente, capaz de guiar as massas até o triunfo final contra seus inimigos, com a tomada do poder pelos trabalhadores e o início da construção de outra sociedade – essa luta pelo instrumento da emancipação vai surgir, cada vez mais clara, no seio das demais lutas dos trabalhadores e do povo pobre e oprimido. É também para isso que nos preparamos.

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