Quarta 8 de Maio de 2024

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Até onde irá a ofensiva repressiva de João Grandino Rodas?

15 Aug 2012   |   comentários

Nas últimas semanas dezenas de novas intimações chegaram aos estudantes e trabalhadores da USP, que estão sendo processados por um fraudulento processo administrativo aberto pela Reitoria da USP em face da ocupação da Reitoria em novembro de 2011. Sem nenhum tipo de provas, o processo é montado com base num boletim de ocorrência de “autor desconhecido” e com um fichamento policial onde os delegados pediam para os estudantes apontarem “líderes” e responderem se faziam parte de “organizações políticas”. Digno dos métodos da ditadura militar, que se completam com a chamada “Sala de Crise”, sistema de espionagem dos movimentos estudantis e sindicais da universidade. Isso fica claro quando se conhece o processo aberto contra mais de 50 estudantes e trabalhadores: como na época do DOPS, há fotos tiradas por infiltrados com a legenda “líderes”.
Mas a Reitoria não contava com o fato de que, apesar do refluxo de estudantes e trabalhadores, a defesa dos 73 estudantes e trabalhadores que foram presos durante a reintegração de posse da Reitoria tem sido motor de uma importante campanha democrática, que se articula com todas as lutas contra outras perseguições dentro da Universidade e com a campanha por uma Comissão da Verdade da USP. Não é possível, a não ser que se queira fechar os olhos para a realidade, levantar as bandeiras da luta contra a ditadura ignorando os resquícios que permanecem vivos hoje. Isso porque a impunidade dos torturadores e civis responsáveis pela ditadura abre caminho para a repressão de hoje, e por isso está colocada a necessidade da CVU exigir a punição de todos estes setores.
Ao mesmo tempo, é necessário levantar fortemente a imediata reintegração de todos os estudantes expulsos, nos apoiando no parecer favorável ao estudante Yves, onde a juíza reconheceu que a Reitoria havia se baseado em um Decreto de 1972, plena ditadura militar. Esta luta também só poderá ser completa se levantar na primeira fileira a exigência da reintegração de Claudionor Brandão, demitido político do Sintusp pelo governo Serra. São sobre estes precedentes que a Reitoria se apóia para levar adiante mais uma onda repressiva. No último mês se está acelerando o procedimento referente ao processo da ocupação da Reitoria. Suas Comissões Processantes, imparciais apenas na “ideia”, na prática possuem membros que estão umbilicalmente vinculados à Reitoria. Como viemos dizendo há meses, trata-se de processo inquisitorial, não há investigação, você já está sendo processado, portanto já é culpado.
Mas até onde irá a ofensiva de João Grandino Rodas contra os estudantes e trabalhadores da USP? Já sabemos que esta não é uma ofensiva sua, mas de seu mandante José Serra, agora candidato à prefeitura de São Paulo. Este pequeno fato expressa o quão explosivo pode ser caso a Reitoria, como ao que tudo indica, finalize estes processos nos próximos meses. Uma expulsão e demissão de todos significaria recolocar o tema do movimento estudantil e de trabalhadores no centro do próprio cenário eleitoral no Estado de São Paulo, criando um problema para a candidatura de José Serra. Mas esta é a Reitoria que tem criado escândalos nacionais, como foi a própria reintegração de posse na Reitoria, ou quando sua polícia apontou uma arma para um estudante negro.
Mas a resistência tem avançado, os setores processados tem se organizado para repudiar qualquer punição “exemplar” a estudantes e trabalhadores. Por exemplo, na Faculdade de Educação onde trabalha Diana Assunção, diretora do Sintusp e uma das processadas, está havendo uma enorme organização de todos os setores em sua defesa. Desde uma manifestação da Congregação da Faculdade de Educação contrária a qualquer penalidade ou sanção e ressaltando que isso seria um grande prejuízo à instituição, até a organização de um abaixo-assinado entre funcionários, estudantes e professores contrários a sua demissão. Entre as dezenas de processados há um importante apoio de professores, intelectuais, diretores de Unidade, estudantes e funcionários que se dispuseram a testemunhar em defesa dos processados, denunciando também a anti-democrática estrutura de poder da universidade e a perseguição política a estudantes e trabalhadores.
É por isso que estamos desde o movimento estudantil impulsionando junto aos processados reuniões periódicas de organização e a partir daí estamos exigindo ao DCE da USP que seu XI Congresso expresse com peso a luta contra a repressão – que consideramos que está muito pra além da USP, como expressamos na contracapa desta edição. Desde a Juventude às Ruas e a LER-QI este será um dos eixos de nossa intervenção neste Congresso que tem como slogan “democratizar a USP”, mas que sem colocar na primeira fileira todos os companheiros processados, deixará seu slogan pairando no ar.

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