Quarta 8 de Maio de 2024

Nacional

Eleições municipais

As greves e o resultado eleitoral reafirmam: A falta de uma alternativa operária independente fortalece a burguesia

10 Oct 2004   |   comentários

Estas eleições acontecem numa conjuntura nacional marcada por uma série de mobilizações de trabalhadores e de jovens em todo o país. O maior alívio para a burguesia nessas eleições foi ver que esses enfrentamentos de vanguarda e de setores das massas com o governo Lula no âmbito sindical não tiveram expressão de protesto no âmbito político eleitoral. A burguesia, com seus partidos tradicionais e com o PT, tenta pintar o primeiro turno como uma verdadeira “festa da democracia” . Não podemos deixar que se dissemine essa farsa.

Quais são as principais lições que os trabalhadores devem tirar desse primeiro turno? A primeira é que se provou mais uma vez que as eleições são o maior instrumento de engano da burguesia. A segunda é que a inexistência de um partido que expresse a independência política dos trabalhadores e que tenha influência de massas abre espaço para o fortalecimento do governo e do regime de domínio.

O PT, ainda que ameaçado de perder em São Paulo e Porto Alegre, se fortalece

O PT sai do primeiro turno das eleições municipais como o partido mais votado do país, dando um salto de 187 prefeituras em 2.000 para 400 no dia 3, avançando principalmente rumo ao interior. Nas grandes cidades, apesar de também ter crescido, destaca-se o fato de que já tenha sofrido importantes derrotas em cidades que até então vinha governando ou que possuem um peso político e económico central no país, como Rio de Janeiro, Campinas, Ribeirão Preto e Piracicaba. Os partidos pró-Lula (principalmente o PL, o PPS e o PcdoB) se fortaleceram nas eleições se comparamos seu desempenho com os demais partidos oposicionistas (com exceção do PSDB).

O governo Lula conseguiu alimentar as ilusões das massas com os indicadores de recuperação económica, apesar de que esta é pouco sustentável e não se reflete no bolso dos trabalhadores e do povo pobre. Esse fortalecimento do PT e dos partidos do governo em geral era o aval que o governo buscava para continuar com os ataques à classe trabalhadora nos próximos dois anos, principalmente com a implementação das reformas universitária, sindical e trabalhista. O governo, vai se apoiar na aprovação eleitoral das massas, para se enfrentar com a vanguarda que vem se mobilizando em todo o país.

No entanto, essa vitória eleitoral do PT pode ser em grande medida ofuscada caso seja derrotado no segundo turno em São Paulo e em Porto Alegre, cidade onde governa há praticamente 16 anos.

O PSDB se consolida como a principal oposição burguesa

No dia 3, o PSDB foi o segundo partido mais votado do país, aumentando sua influência sobre os grandes centros urbanos e tornando-se o principal competidor do PT. Nesse resultado destaca-se São Paulo, onde o PSDB aumentou em grande medida sua importância em redutos eleitorais que até então vinham sendo dominados pelo PT, e onde Serra ameaça derrotar Marta no 2o turno da capital com uma importante margem de diferença. O PMBD, assim como em 2.000, continua sendo o terceiro partido mais votado, com a particularidade de ser o de maior presença nos 5.652 municípios do país em função de seu domínio no interior. O PFL, apesar de ter caído em número de votos e de prefeituras, ganhou no 1º turno a segunda maior capital e o segundo maior colégio eleitoral do país ’ o Rio de Janeiro ’ o que lhe permitiu arvorar a candidatura de Vice-presidente em uma possível coligação com o PSDB em 2006.

Esse resultado mostra que, apesar de nas eleições presidenciais de 2002 a classe trabalhadora ter em sua maioria se oposto às candidaturas que expressavam continuidade em relação ao governo FHC, a transição sem maiores conflitos entre FHC e Lula garantiu a preservação dos partidos que sustentaram o último governo.

O PT e o PSDB contra a classe trabalhadora

Diversos analistas burgueses, apressados, disseram que o PT se consolidava como o “partido dos pobres” e o PSDB como o “partido dos ricos” . Descontando os erros de análise estatística nos quais não vamos nos deter aqui, o principal erro é político. A verdade é que do ponto de vista da classe trabalhadora os dois partidos têm um mesmo projeto político: mais reformas reacionárias, mais desemprego, menos salários, e apenas mudanças cosméticas de uma dose maior ou menor de demagogia populista. É necessário que a classe trabalhadora construa uma saída independente e em confronto com a burguesia brasileira, o reformismo e seus partidos políticos, que têm levado o país a uma subordinação cada vez maior ao imperialismo e à miséria cada vez maior da maioria esmagadora da população.

A esquerda mostrou sua impotência nessas eleições

No primeiro turno, chamamos o voto crítico no PSTU porque eram candidaturas independentes da burguesia e porque para nós seria muito importante que se expressasse nessas eleições o processo de descontentamento com o governo Lula e o PT que se desenvolve em amplos setores de vanguarda. Nosso voto foi crítico porque opinamos que o PSTU não levanta um programa capaz de responder às reais necessidades da classe trabalhadora no país.

O fracasso eleitoral do PSTU

Chamamos os militantes do PSTU a refletirem sobre os motivos do fracasso eleitoral. Não basta a direção do PSTU dizer que o número de votos “não importa” para os “partidos revolucionários” . Esse número expressa, ainda que de forma distorcida, a influência do partido sobre a vanguarda e as massas, seu estado de ânimo e o grau de desenvolvimento de sua consciência. Ou isso não importa? Será que o PSTU diria o mesmo se tivesse arrebatado 1 milhão de votos, ao invés de 183 mil? [1] Na última eleição presidencial o PSTU festejou seus 400 mil votos com enorme entusiasmo e uma grande manchete na capa do seu jornal.

Mesmo podendo utilizar diariamente a propaganda eleitoral televisiva, o PSTU conseguiu apenas 0,19% dos votos válidos em todo o país. Em São Paulo, onde seu candidato a prefeito tornou-se uma referência para os grevistas bancários como oposição à direção traidora da CNB nas assembléias diárias que reuniam cerca de 2.500 bancários, o PSTU não conseguiu mais que 8,4 mil votos, apenas 2 mil a mais do que no último pleito municipal. Em Minas Gerais, onde dirige a Federação dos Metalúrgicos de todo o estado, que está à frente do processo de desfiliação da CUT e tem em sua base cerca de 90 mil operários, o PSTU não conseguiu mais que 21,5 mil votos, 4 mil a menos que nas últimas eleições. Em São José dos Campos, onde seu candidato, Mancha, é o principal dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos da região (que também chama à desfiliação da CUT e tem 35 mil operários em sua base), o PSTU não conseguiu mais que 4,6 mil votos, a mesma quantidade em 2.000.

Apesar de corretamente ter dedicado seu horário eleitoral para a greve dos bancários e dos judiciários, que alternativa partidária o PSTU oferece às dezenas de milhares de grevistas que combateram a burocracia cutista atrelada ao governo e ao PT? Obviamente, não pode lutar nas assembléias para que esses trabalhadores entrem para o PSTU, pois significaria uma total desmoralização. A direção do PSTU não oferece nenhuma alternativa partidária aos milhares de grevistas, assim como não oferecem aos metalúrgicos de São José dos Campos e de Minas Gerais que recentemente romperam com a burocracia cutista.

O PSTU diz no Opinião Socialista n° 194 que nessas eleições “são os trabalhadores que perdem, por manterem suas ilusões no PT e na oposição de direita” . Correto, mas é hora dos revolucionários se responsabilizarem pelos rumos e pelos ritmos da ruptura das massas e da vanguarda com o governo Lula e o PT. Chamamos os companheiros do PSTU à levar suas conclusões até o final e refletir: as centenas de milhares de trabalhadores que estão mobilizados em todo o país, para não falar das dezenas de milhões de insatisfeitos com o governo Lula só vão “ganhar” quando entrarem para o PSTU? O resultado eleitoral mostra que isso é uma ilusão desproporcional e não uma política revolucionária para influenciar o movimento de massas.

O PSOL, “pendurado no ar” , semeia a conciliação de classes e a confusão

O fortalecimento do PT nestas eleições, ajudado em grande medida por sua ala esquerda que insiste em cobrir o PT pela esquerda, torna esse partido ainda mais amarrado por todos os lados ao Estado burguês. Essas amarras tendem a retardar grandes processos de ruptura de correntes organizadas que são parte desse atrelamento do PT ao Estado burguês. Nem mesmo a onda de greves no país, a luta de classes real, tem sido capaz de levar amplos setores à ruptura devido ao grau de enraizamento de correntes como a Democracia Socialista, a Ação Popular Socialista (antiga Força Socialista) e Articulação de Esquerda com o aparato do PT e do Estado com cargos variados e até mesmo ministros neste governo capitalista. O PSOL, que se projetou baseado na expectativa dessas rupturas, com esse estancamento do processo fica “pendurado no ar” .

O PSOL levantou uma política criminosa ao chamar o voto em qualquer candidato que “criticasse a política económica do governo Lula” , sem nenhum princípio classista, com Heloísa Helena à cabeça apoiando o PPS, um partido burguês. Nessas eleições, o PSOL cumpriu um papel nefasto ao orientar seus militantes, e aqueles ativistas que influencia, a não votar no PSTU, usando a desculpa descarada do não apoio do PSTU à legalização do PSOL, alimentando o apoio à esquerda petista e também a qualquer outro tipo de oposição burguesa ao governo Lula. É assustador o pisoteamento dos mais elementares princípios classistas, pelo menos daqueles que se reivindicam revolucionários no PSOL.

[1O PCO, por sua vez, recebeu apenas 42,8 mil votos (0,05%).

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