Sexta 3 de Maio de 2024

Juventude

As eleições estudantis e o papel dos revolucionários

10 Dec 2006   |   comentários

Hoje no Brasil, onde a universidade é ainda mais elitista do que na maioria dos países da América Latina o papel que a universidade cumpre é de formar mão de obra qualificada por um lado e ideólogos da burguesia por outro. Para isso estão as universidades privadas que se proliferam cada vez mais, que tem um ensino técnico voltado para atender às necessidades do mercado com a qualificação de mão de obra. De outro lado, se encontram os chamados centros de excelência (que incluem algumas públicas e algumas privadas caríssimas) onde apenas os filhos da burguesia ou no máximo da pequena burguesia podem entrar, que buscam formar os “pensadores de elite” da burguesia. Por fora disso, o que temos é o sucateamento ainda mais aprofundado das demais universidades públicas onde não interessa à burguesia formar mais mão de obra qualificada, que vai ficar sem emprego.

Basta ver os diversos documentos dos órgãos imperialistas como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, para entender que o imperialismo tem um projeto para as universidades na América Latina, e especificamente no Brasil, que busca aprofundar este processo. Isso porque a universidade cumpre um papel ideológico fundamental, principalmente para a classe média, e é muito importante para os países imperialistas intervir nisso.

Como revolucionários, e partindo do papel que cumpriu e cumpre a universidade, achamos fundamental que se abra uma discussão sobre qual o papel que tem o movimento estudantil frente a isso do ponto de vista mais estratégico. Esta necessidade se fortalece num cenário de eleições estudantis, onde a discussão sobre qual papel devem cumprir as entidades estudantis no combate a este projeto e na luta por um projeto oposto pelo vértice se faz ainda mais fundamental.

O movimento estudantil deve escolher o lado dos trabalhadores

Em primeiro lugar é preciso esclarecer que para nós não é possível ter um conhecimento neutro, uma universidade que se coloque por fora das contradições de classe da sociedade. A todo instante, a academia burguesa busca esconder a história de lutas da classe operária e do próprio movimento estudantil e tenta nos convencer, de forma mais velada ou mais explícita, de que não temos nada a fazer a não ser aceitar o “fim da história” , a “vitória do capitalismo” e o “fim da classe operária” (ou, pelo menos, que ela não pode cumprir nenhum papel revolucionário). Não é de hoje que diversas organizações no movimento estudantil buscam se contrapor a isso defendendo uma “universidade crítica” de maneira abstrata.

Como movimento heterogêneo, composto por diversas classes e frações de classe, o movimento estudantil não tem, e nem poderia ter, uma ideologia própria. Ele está submetido às pressões ideológicas que vêm das duas classes fundamentais da sociedade: a burguesia e a classe operária. Hoje, a ideologia burguesa, por ser a dominante, exerce uma pressão muito maior sobre os estudantes. Por isso, o que vemos é que é necessário que os estudantes escolham o lado oposto: o da ideologia operária. Nossa atuação no movimento estudantil parte de que é preciso forjar uma fração que esteja disposta a se aliar aos trabalhadores e ser a voz deles dentro da universidade. Isso significa que estar com os trabalhadores em suas lutas e também disputar ideologicamente com a academia burguesa, lutando por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, para que o conhecimento que produzimos esteja voltado para responder às grandes questões que estão colocadas para os trabalhadores na sua luta pela transformação social.

A concepção de aliança com os trabalhadores que defendemos está longe de ser uma concepção sindicalista. O PSOL, partido que sempre defende a aliança com os movimento sociais, sem diferenciar o papel que tem os trabalhadores dentro disso, já que são eles quem controlam toda a produção, acabam tendo uma visão assistencialista desta aliança e não tem uma política para ligar organicamente um setor do movimento estudantil ao movimento operário. Por outro lado, o PSTU, que atua em diversas universidade do país, também fala de aliança com os trabalhadores, mas tem uma concepção que leva a que o movimento estudantil seja uma escola para formar sindicalistas que irão atuar no movimento sindical quando “crescerem” .

Para nós, a atuação no movimento estudantil é muito mais estratégica, pois acreditamos que uma fração que defende a ideologia operária na universidade, que esteja disposta a se aliar aos trabalhadores em suas lutas, pode facilitar muito o trabalho da classe operária de ganhar um setor da classe média ideologicamente para lutar ao seu lado contra a burguesia. Fazemos isso por ver que é fundamental para a construção do partido revolucionário no Brasil que a classe operária consiga aliados entre todos os setores explorados e oprimidos da população na sua luta pela revolução.

O papel das entidades estudantis

Frente a isso, as entidades estudantis hoje estão muito longe de ser um instrumento de luta dos estudantes e de impulsionar a aliança com os trabalhadores. O que vemos é que a concepção petista de lutar apenas pelo mais imediato e de alimentar ilusões de que é possível uma conciliação com os que controlam as universidades e o país, ainda permanece com tudo nas entidades estudantis. Além disso, esta concepção levou a que o movimento estudantil não tivesse um programa próprio, aliado aos trabalhadores, para passar à ofensiva na luta pelo nosso projeto de universidade. Pelo contrário, o que vemos dia após dia é que as direções do movimento estudantil impulsionam apenas lutas para se defender dos ataques que sofremos.

As entidades estudantis devem ser um organismo da mais ampla frente única, onde todas as posições do movimento estudantil estejam colocadas e onde se decida, a partir da democracia direta das assembléias, como ser os que melhor lutam pelas demandas imediatas e contra os ataques que sofremos. Temos que nos organizar e a partir dos nossos métodos, de greves, manifestações e ocupações, impor derrotas aos governos e reitorias que querem atacar. Mas só isso não basta! É necessário colocar no movimento estudantil na ofensiva e isso só será possível nos aliando aos trabalhadores e tendo um programa comum de luta por nossas demandas. As entidades estudantis podem cumprir um papel fundamental para organizar os estudantes nas lutas pelas demandas mais imediatas e, ao mesmo tempo, articular o movimento estudantil ao lado dos trabalhadores para intervir nas questões mais importantes que estão colocadas nacional e internacionalmente.

É desta perspectiva que atuamos hoje nas diversas chapas que construímos com os ativistas independentes em várias universidades no estado de São Paulo, buscando forjar uma fração do movimento que questione o papel da universidade e que se alie aos trabalhadores, colocando as entidades estudantis como ferramenta para isso.

Artigos relacionados: Juventude , Debates









  • Não há comentários para este artigo