Domingo 28 de Abril de 2024

Nacional

REFLEXÕES SOBRE A GREVE DOS PETROLEIROS, APRENDENDO COM O PASSADO

Algumas lições para o futuro da luta operária

28 Mar 2009   |   comentários

A greve dos petroleiros, que destacamos em nosso jornal, aparece como um sopro de “ar fresco” nesta realidade obscura, onde o que prevalece são os índices de popularidade de Lula, a corrupção desenfreada no Congresso, a promiscuidade entre os partidos burgueses e conciliadores e os grandes monopólios capitalistas (vide caso da Camargo Corrêa, entre tantos). Toda essa realidade mascarada está montada pelo governo, pelos políticos patronais, pela imprensa e também pelas direções sindicais governistas e pelegas como uma nuvem de fumaça para embriagar a mente dos trabalhadores e do povo pobre, vendendo demagogias enquanto os capitalistas se aproveitam da crise económica para impor suas medidas de superexploração, demissões e redução de salários e direitos.

Por isso, a importância que estamos dando à atual greve petroleira, pois num país marcado pela “hegemonia” do petismo-lulismo neoliberalizado, sem luta de classes efetiva, com os trabalhadores amargando o atraso imposto pela estratégia de conciliação de classes das suas direções, independente do resultado da greve na Petrobras (que muito provavelmente significará mais uma traição da direção da CUT-FUP) nos parece razoável assumir ares mais otimistas sobre as possibilidades de que a luta operária retome um papel protagonista, enfrentando a crise capitalista, avançando para que a estratégia de independência política dos trabalhadores fortalece um plano de luta verdadeiro para fazer com que sejam os capitalistas quem pague pela crise gerada por esse sistema de exploração. Para começar, defendendo os empregos, salários e direitos de todos os trabalhadores, efetivos ou temporários, como primeiro passo para abrir os caminhos para que a fortíssima classe operária brasileira se coloque na cena política e conquiste hegemonia perante as classes subalternas, exploradas e oprimidas e consiga derrotar os capitalistas.

As lições da greve petroleira de 1995 precisam ser retomadas para reavivar na memória dos mais velhos e acender nas mentes dos operários e operárias jovens a grande força que podem dispender os bastiões proletários que controlam toda a cadeia de produção capitalista, sem os quais esse sistema não funciona. Os partidos que nos consideramos revolucionários temos a obrigação de tecer esses fios de continuidade para que os trabalhadores não tenham que começar tudo de novo, como se começasse sempre do zero.

A derrota da greve dos petroleiros de 1995 significou a abertura da cancela que fez entrar os planos neoliberais ’ flexibilização, precarização, reformas neoliberais, arrocho salarial, privatizações, imposição de um novo padrão produtivo superexplorador etc.
Fernando Henrique Cardoso, em aliança com o PSDB-PFL-PMDB e demais partidos burgueses e apoiado pelos pelegos da Força Sindical, enfrentou os 32 dias de greve petroleira com um plano para vencer os trabalhadores ’ os capitalistas são uma classe consciente da necessidade de ter uma estratégia para impor seu poder. Uma verdadeira operação de guerra que servisse para disciplinar toda a classe trabalhadora sob as botas do novo padrão de acumulação capitalista.

A greve petroleira em 1995 não era meramente uma luta sindical (salarial, económica), pois além de lutar pela reposição das perdas salariais (alcançavam 100%) e preservação de direitos tinha em seu programa o combate ao plano capitalista de quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações, tendo sido iniciada unificando eletricitários, telefónicos, Correios e funcionários públicos. Essas categorias, por traição dos dirigentes sindicais, abandonaram os petroleiros, que seguiram adiante isolados. Era, portanto, uma greve política ’ contra as medidas centrais do governo que visavam aplicar os planos imperialistas, conhecido como Consenso de Washingtong. Precisamente assim foi compreendida por FHC, os capitalistas e o TST (que na primeira semana julgou a greve ilegal e abusiva).

Como no Brasil a burguesia o que mais teme é a força da classe operária, ou seja, quando os trabalhadores avançam da luta sindical (campanhas salariais e ações defensivas) para o enfrentamento político radicalizando seus métodos (piquetes, controle das unidades de trabalho, enfrentamento à repressão etc.), um plano de guerra à altura foi preparado. Para derrotar uma greve política desta magnitude, munidos da estratégia de concentrar forças para vencer e impor seus planos, os capitalistas, capitaneados por FHC e Cia., lançaram uma operação de guerra, endurecendo nas negociações e utilizando também muita “política” (com a ajuda inestimável da imprensa e dos partidos burgueses) para ganhar apoio popular e isolar os petroleiros para abrir caminho ao golpe de misericórdia ’ a repressão da polícia e dos tanques do Exército. Assim a burguesia e o imperialismo puderam, derrotando esta categoria e sua luta política, alçar voo com seu plano neoliberal. [1]

Os petroleiros deram tudo de si, os ativistas mais combativos foram abnegados e corajosos (piquetes, refinarias ocupadas, como em Cubatão, que resistiu só). Mas FHC e a patronal não poderiam haver vencidos os petroleiros se não contassem com a ajuda imprescindível das direções sindicais e políticas que diziam “representar” a classe. Contaram com a ajuda de Lula, do PT e da CUT, aproveitando-se da simpatia que os trabalhadores lhes dedicavam, iludidos de que esses dirigentes eram “opositores” às medidas neoliberais, já que a maioria da classe trabalhadora não enxergava na esquerda ’ principalmente os trotskistas do PSTU, que dirigiam importantes sindicatos petroleiros ’ uma alternativa classista e independente concreta, construída nos anos que estiveram à frente dos sindicatos. A verdade apareceu, e esses dirigentes se mostraram como são: lobos em pele de cordeiro. Agentes dos capitalistas e do regime burguês no interior das organizações de luta. Burocratas que têm interesses próprios, que vendem os direitos dos trabalhadores para manter seus privilégios de dirigentes e seus planos políticos de se integrar como “interlocutores” entre os trabalhadores, os monopólios capitalistas e o estado burguês.

A greve dos petroleiros, então, foi derrotada contando com Lula e a direção da CUT que abertamente traíram os grevistas. Lula fez coro com o governo, a imprensa e a patronal declarando em entrevista no jornal Gazeta Mercantil que “ela -a greve- já deveria ter terminado” . A direção da CUT, num momento crítico da greve, onde se tratava de cercá-la com todo apoio gerando um movimento nacional democrático de defesa dos grevistas e contra o governo, se ofereceu para negociar com FHC (que preparava a repressão aos petroleiros) as reformas neoliberais. [2] Depois desta derrota, a classe trabalhadora comeu o pão que o diabo amassou com os novos tempos de neoliberalismo.

Faltou uma direção classista, independente de todas as frações burguesas, intransigente no combate à patronal mas também à burocracia sindical e às direções políticas conciliadoras. As organizações trotskistas ’ únicas capazes de almejar esse espaço por serem herdeiras dos métodos e do programa revolucionário acumulado na experiência proletária histórica ’ não estiveram à altura dos acontecimentos. Mesmo dirigindo sindicatos importantes ’ como o do Rio Grande do Norte, e tendo peso importante no Rio de Janeiro (centro petroleiro), o PSTU adaptou-se às estratégias conciliadoras da burocracia cutista-petista, criticando-a mas sem ter a estratégia de apresentar-se como direção capaz de “fazer a diferença” num setor tão fundamental como petroleiros, preparando uma camada de trabalhadores imbuidos da força da estratégia de vencer os capitalistas e seu Estado opressor e não apenas continuar “repondo perdas” e “resistindo” . Ainda que tenham atuado com abnegação, os trotskistas fracassaram, e foram derrotados junto com os petroleiros e a classe trabalhadora.

Os trotskistas do PSTU (as demais correntes eram mais débeis), na época, poderiam ter enfrentado a estratégia patronal e governamental denunciando a burocracia cutista-petista que nada fazia para dotar os petroleiros do apoio imprescindível para fazer valer a força da greve política. Contra a campanha burguesa de que a greve prejudicava a população, inclusive com as empresas distribuidoras de gás escondendo os botijões para gerar insatisfação contra os petroleiros, os trotskistas poderiam lutar por um plano efetivo de distribuição de gás à população, começando por aplicar esse plano nos sindicatos e locais que dirigia ou influenciava (Cubatão, Duque de Caxias, Rio Grande do Norte, entre outros). Essa seria a forma de forjar a aliança operária e popular, impedindo que os capitalistas utilizassem as carências do povo contra a greve. Assim a população saberia quem estava a favor dela, possibilitando ganhar a simpatia e o apoio popular que sem sombra de dúvidas enfraqueceria o governo e seus planos de repressão, e até mesmo permitiria as condições para preparar (com propaganda e propostas definidas) a necessária autodefesa dos grevistas, dos piquetes e das refinarias controladas pelos petroleiros.

Unir as fileiras operárias, recuperar as organizações de luta e dar passos para construir um partido revolucionário

A classe operária necessita una ampla unidade para se defender dos ataques dos capitalistas. Superar a divisão imposta pelos anos de neoliberalismo entre efetivos versus terceirizados, temporários e contratados, assumindo as reivindicações fundamentais desses trabalhadores mais explorados e oprimidos, é um passo fundamental para essa unidade das fileiras operárias se tornar força real capaz de enfrentar inimigos poderosos ’ os capitalistas, suas corporações e o Estado e suas instituições.

Necessita, como um primeiro passo para recompor suas forças, recuperar as organizações de luta ’ como as comissões de fábrica e os sindicatos ’ hoje nas mãos da burocracia sindical que negocia e entrega na mesa de negociações os direitos e conquistas.
Os capitalistas querem escravizar a nossa classe, explorando-a ainda mais, fazendo com que os salários sejam cada vez menores, as jornadas de trabalho mais desgastantes, o ritmo de produção mais extenuante, pois com as demissões os que mantêm o emprego terão que trabalhar por dois ou três. A crise capitalista e os governantes burgueses desejam salvar seus lucros e propriedades às custas de jogar a classe operária numa situação de retrocesso histórico comparável aos primórdios do capitalismo no século pssado.

Os trabalhadores têm que preparar uma grande luta e um programa para que os capitalistas paguem a crise com seus lucros. Para isso precisam derrotar a burocracia sindical que se mantém no topo dos sindicatos e centrais para manter seus privilégios e agir como polícia patronal disciplinando os trabalhadores aos interesses do sistema. Eles são agentes do governo e das patronais nas fileiras operárias ’ levam os trabalhadores a apoiarem programas burgueses como a exigência de diminuição dos juros (reivindicação das indústrias e agronegócios) ’ e se tornando uma trava para desenvolver a luta de classe.

Para que a classe operária se prepare para derrotar os capitalistas e sua estratégia, defendendo os interesses da maioria da população, necessita tomar consciência de que deve construir um partido revolucionário para impor sua própria saída e seu próprio governo.
Já na década de 1970 a classe operária construiu o maior partido trabalhista da America Latina (PT), mas quem se impós na direção foram os reformistas e conciliadores que levou este partido a ser mais uma instituição do regime burguês, disciplinada pela ordem capitalista. Agora, diante desta crise histórica que se instala, a classe operária precisa organizar um grande partido de trabalhadores, mas que desta vez seja revolucionário, determinado pela estratégia de tomar o poder das mãos capitalistas. Essa é a perspectiva pela qual luta a LER-QI.

[1“Aqui no Brasil, o programa neoliberal adotado por Fernando Henrique Cardoso somente pode ser implementado após o confronto com a greve dos petroleiros, que durou meses e terminou com enfrentamento de piquetes por parte da polícia e do exército e, no final, com a demissão de milhares de trabalhadores da Petrobras.” http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/02/03/a-oligopolizacao-sob-thatcher/

[2“Minha análise é de que a entrevista do Lula tirou nosso poder de conseguir posições mais fortes para a negociação. Você chegava para discutir com o Inocêncio Oliveira ou Franco Montoro, eles falavam: ”˜Não. O Lula está correto, a greve já devia ter acabado.”™ Quer dizer, a declaração do Lula foi extremamente danosa. Quanto à CUT, não sei se pressionada pelo sindicalismo oficial da Força Sindical, houve um momento em que ela se viu pressionada a ”˜apresentar propostas alternativas”™ às emendas do governo.” Entrevista com Luciano Zica (trabalhador petroleiro, depois deputado federal petista e atualmente no governo Lula) na revista Teoria & Debate, da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, em 30/08/1995 (grifos nossos).

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