Terça 7 de Maio de 2024

Nacional

20 DE NOVEMBRO – DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

A luta pela libertação do povo negro é revolucionária por natureza

16 Nov 2011   |   comentários

Em homenagem a Zumbi dos Palmares, o grande líder dos escravos insurretos do Brasil colonial, nesse dia 20 a luta do povo negro será reconhecida no dia da Consciência Negra. Para todas as negras e os negros desse país, assim como para todos os trabalhadores conscientes da luta contra a exploração e a opressão, este deve ser um dia de combate e de organização. Não temos nada a comemorar.

Já é ponto pacífico que o racismo no Brasil existe por meios abertos e velados. As estatísticas que a própria burguesia é obrigada a divulgar mostram claramente, em todos os índices, que são as mulheres negras, e em seguida os homens negros, os que padecem as piores condições de saúde, de educação, de emprego, de salários, e são as maiores vítimas da violência policial.

Porém a mesma burguesia quer que nos resignemos com a ilusão de que através de melhorias graduais em nossa situação, através do acesso de uma pequena minoria de negros a cargos superiores em empresas e no setor público, na universidade, na mídia, a situação do conjunto do povo negro poderá ser transformada. E quer que a sua “tolerância” para com as manifestações culturais de origem africana ou afro-brasileira seja comemorada como um passo decisivo para o fim do racismo.

Não podemos ceder e não cederemos um milímetro dos terrenos que com nossa luta conquistamos nessa democracia dos ricos e da “elite branca”. Mas não podemos nos enganar: o caminho que nos foi legado por Zumbi é o dos escravos insurretos, e é como um povo insurreto que temos que varrer não só o que resta de “vestígios” do período escravista – impregnados na carne e na alma da sociedade de classes que temos hoje no país; como também os novos pilares da escravidão assalariada que seguiu à abolição, e cujas fundações lançam novamente sobre o negro a parte mais dolorosa da exploração.

Lutar contra a repressão policial é lutar contra um projeto de país que se assenta na desigualdade e na superexploração dos negros e das mulheres

Poucos dias atrás, mais de 4 mil homens invadiram a Rocinha, maior favela do Rio de Janeiro com um verdadeiro aparato de guerra. A mega operação na favela de mais de 120 mil habitantes, faz parte do grande projeto ao redor das Olimpíadas, e significa o começo de mais uma grande batalha do Estado capitalista contra o povo pobre, com o pretexto do “combate ao tráfico”, que mais tarde retorna em acordo com as “milícias” e com o próprio Estado.

Esse tipo de “solução” para o problema da violência e do tráfico faz parte de uma nova estratégia que os governantes encontraram para dar “cara nova” à velha repressão estrutural que já se tornou conhecida mundo afora.

Como sabemos, as UPPs vêm acompanhadas de grandes obras “faraônicas” que servirão também para mostrar um país que se pretende potência e que cuidaria de seus pobres. No entanto, nas mesmas favelas com grandes obras e com UPPs e/ou ocupadas pelo Exército faltam serviços básicos como saneamento, escolas e hospitais.

Nesse projeto, o que sobra para os moradores dos morros e favelas é uma brutal repressão, humilhações e abusos, sendo cerceados no seu dia a dia em direitos fundamentais, como de ir e vir, de se reunir ou organizar festas.
A repressão sistemática a serviço de garantir a superexploração capitalista

Com um papel renovado para a repressão policial que sempre se abateu sobre o povo negro no Brasil, que agora tenta ganhar nova legitimidade com projetos como as UPPs no RJ e na Bahia, torna-se muito mais fácil a manutenção de uma população disciplinada e a garantia de uma enorme força de trabalho disponível para os exploradores a baixo custo, pois são nesses locais onde se localizam os trabalhadores mais precários. Para os capitalistas é fundamental que esses setores se mantenham “na ordem”, não se organizem e não se reconheçam enquanto sujeitos capazes de lutar pelos seus direitos.

Por isso a denúncia e o combate à repressão policial estão longe de esgotar nossos motivos de indignação. Ao contrário: queremos o fim das ocupações militares e da repressão policial justamente para que o povo negro possa se organizar lado a lado com os sindicatos e organizações operárias para travar a verdadeira luta pela sua total libertação: a luta contra a exploração capitalista e o Estado que existe para garanti-la pela força das armas.
A opressão permanente e a superexploração são a realidade dos negros ao redor do mundo, e não apenas no Brasil

Mesmo nos EUA de Obama, onde o primeiro presidente negro despertou fortes ilusões de uma mudança histórica, a realidade é que nos EUA são os negros os que mais sofrem com a crise capitalista, os primeiros a serem expulsos de suas casas e morar em abrigos, as vítimas das enchentes, e são os que compõem a enorme maioria da população carcerária; há pouco mais de um mês Troy Davis, acusado de matar um policial branco, foi assassinado pela Justiça racista num caso notoriamente irregular.

Enquanto isso, Obama mantém as suas guerras imperialistas no Oriente Médio e mundo afora, e conta com o vergonhoso apoio brasileiro para manter a ocupação militar no Haiti, onde por obra de Lula e Dilma o Brasil tem o triste papel de chefiar as forças de intervenção. E ainda por cima nesse país, que será sempre um símbolo para a luta revolucionária do povo negro, pois foi o primeiro onde a escravidão foi enterrada pela luta negra, é onde se mostra mais claramente que os “sonhos de grandeza” de uma burguesia vil como a brasileira só podem se manifestar em grandes atos de vassalagem e de barbárie.

A mobilização dos estudantes na USP mostra: é necessário e é possível lutar pela retirada da polícia das periferias, morros e favelas!

A luta que os estudantes da USP estão travando atualmente para expulsar a PM do campus universitário não deve ser vista como algo alheio aos interesses e aos combates históricos do povo negro. Ao contrário, ela deve ser vista com um exemplo para todos aqueles que, como nós, vemos as mazelas do capitalismo nas favelas como parte constitutiva da violência. A luta dos estudantes pela retirada da polícia das universidades que ganha a massa dos estudantes, bem como a denúncia de seu papel nas periferias, morros e favelas, feita por uma ala minoritária significativa, é um grande passo adiante, pois contesta o lado oculto do “projeto de país” lulista: o trabalho precário, as privatizações e a repressão violenta contra os pobres e moradores de favelas.

Chamamos todas as organizações do movimento negro, organismos de direitos humanos, as entidades estudantis, sindicatos e partidos de esquerda, a lutarmos com todas as forças em defesa irrestrita dos 73 presos políticos da USP. Sua perseguição política é funcional à continuidade de uma polícia assassina e repressora nos morros e favelas.

 Retirada imediata das tropas brasileiras do Haiti! Chega dessa “escola de repressão” ao povo negro! Abaixo as guerras do imperialismo!

 Pela imediata reversão das centenas de milhões de reais gastos com as tropas no Haiti e com as operações militares nos morros do RJ em um plano de obras públicas controlado pelos sindicatos e associações de moradores para garantir emprego, moradia, educação, transporte, saúde e lazer dignos.

 Pela retirada imediata de todas as tropas policiais e militares dos morros e favelas! Abaixo às UPPs! Que os sindicatos, centrais sindicais e organizações populares assumam essa campanha e organizem comitês de autodefesa contra a violência policial e do tráfico!

 Efetivação de todos os trabalhadores terceirizados, temporários e precários! Salário digno para todos! (Piso estimado pelo DIEESE 2300,00)

 Reforma agrária e urbana radical para garantir terra e moradia digna para o povo negro!

 Retirada imediata dos inquéritos aos 73 presos políticos de Rodas na USP! Abaixo o convênio USP- PM! Universidade pública para todos: Fim do vestibular!

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