Sexta 26 de Abril de 2024

Juventude

JUVENTUDE

A luta contra o aumento dos transportes em São Paulo numa encruzilhada

20 Mar 2011   |   comentários

Desde o fim do ano passado, teve início a jornada de luta contra mais este ataque às condições de vida da juventude e do povo trabalhador. Convocaram-se atos pela internet e, rapidamente a jornada se massificou em plenas férias e demonstrou um potencial distinto daquelas ocorridas em outros anos. Logo de início, como era de se esperar, o tratamento de Kassab em relação a uma mobilização de milhares levantando uma demanda com tamanho potencial de apoio popular, foi o esperável: Uma brutal repressão policial, em que estudantes foram agredidos com balas de borracha, perseguidos pelo centro de São Paulo e espancados quando caiam ao chão.

A resposta das organizações como o PSOL, PSTU e os governistas da UJS/PCdoB E UNE/PT, no entanto, foi inversa ao espírito “árabe” que precisamos implantar à jornada. Houve um recrudescimento do controle dos atos, com cordões de isolamento e empurra-empurra por parte de tais organizações ao mesmo tempo em que as negociações com a Polícia Militar se desenvolviam de maneira passiva, implantando uma moral análoga ao conjunto do ato. Em essência, tal resposta desconsidera que a repressão é fruto de uma decisão política da PM e Kassab e não responsabilidade do movimento.

Num sentido parecido, e aqui se inclui a responsabilidade ao MPL, em mais de uma ocasião optou-se por não se constituir uma moral combativa e de enfrentamento político sendo que, frente a repressão, as organizações orientavam o conjunto do ato a se sentar para a polícia, demonstrando uma adaptação pacifismo social de nossos tempos. Tal concepção atingiu um ápice tão alarmante que, após um ato ocorrido em frente a prefeitura, em que um ativista foi brutalmente espancado por mais de 8 policiais e, assim, teve seu nariz quebrado, os dirigentes do PSTU propuseram no comitê de direção da jornada a organização de um “bloco de carnaval contra o aumento” e, mesmo não tendo sido aprovado, divulgaram-no.

Combinado a isto, se deu a opção por uma estratégia de pressão à prefeitura, buscando negociações de qualquer forma e alimentando ilusões de que pela via de vereadores do PT e PCdoB se conseguiria alguma vitória. Uma audiência pública e duas reuniões com os representantes da prefeitura aconteceram -sendo que em uma, eles não compareceram-, sem que obtivéssemos nenhum compromisso.

É preciso nos inspirar na primavera árabe, levantando não um “carnaval” ou confiança nos parlamentares em resposta, mas sim um repúdio a toda e qualquer forma de repressão aos que lutam e, a partir de uma moral combativa, sem medo de qualquer ataque e confiando nas forças do movimento, abalar a prefeitura.

Que estratégia é capaz de nos fazer avançar

O movimento chega a um momento decisivo. Com o prolongamento da jornada, que dura quase 3 meses e devido a falta de diálogo na base, começam a se demonstrar os primeiros sinais de desgaste e desmobilização.

Desde o início da jornada, nós da LER-QI e Bloco ANEL Às Ruas, discutimos acerca da necessidade da conformação de comitês por bairros e locais de estudo e de trabalho desde os quais se pudesse impulsionar a mobilização. Em São Paulo, a partir de nossa proposta, formou-se um comitê de direção com diversas organizações, cujo funcionamento, no entanto, ainda é débil e descolado da base. Haviam certos limites colocados pelo período de férias para a concretização de tal proposta, no entanto, agora, com a volta às aulas, surge uma oportunidade única e decisiva de ampliar a massificação.

Desde o comitê, temos feito chamados aos companheiros do DCE da USP, cuja gestão é do PSOL e aos companheiros do PSTU, para que coloquemos de pé tais comitês locais na USP e outras Universidades, bem como nas escolas, para garantir que a partir deles aprofundemos o debate e apaixonemos os jovens com esta luta. No entanto, apesar dos chamados, até agora se mantém as “promessas” de construção no comitê de direção, enquanto na prática não colocam suas forças na articulação conjunta.

Igualmente, frente a esta encruzilhada, criticamos como o MPL busca lidar com a jornada, pois os companheiros propõe a sua radicalização nos métodos. Acreditamos que este é um passo adiante frente ao que estava colocado, no entanto, é preciso que a radicalização nos métodos seja acompanhada de uma radicalização política; não é possível que a única inspiração vinda das mobilizações árabes, seja a ofensividade com que usam o Facebook!
É preciso se fazer uma escolha: Ou seguir a passividade e a confiança nas negociações “por cima”, ou, a partir dos comitês, ampliar a mobilização e consolidar uma moral combativa na juventude para que esta não tema o enfrentamento provocado pela repressão policial, confie em suas forças e, como os jovens árabes, gregos e franceses, nas ruas, abale a prefeitura, se radicalize nos métodos e avance nas conquistas.

É preciso encarar tal jornada como uma “trincheira” desde a qual dar exemplos que ajudem a juventude fazer frente aos ataques mais profundos que a crise nos reserva, abandonando qualquer confiança nos parlamentares do PT e PCdoB, os quais apesar de anunciar a construção desta jornada em São Paulo, “tiram o corpo fora”, mantendo as massas de estudantes da UNE e de trabalhadores da CUT na passividade, e escondendo o fato de que, em outras cidades, são os agentes diretos deste e de muitos outros ataques.

ÚLTIMO MOMENTO – REPRESSÃO DA SEGURANÇA DO METRÔ E DA PM

Quando fechávamos esta edição, em 17/3, o ato contra o aumento foi brutalmente reprimido pela segurança do metrô ao tentar fazer o tradicional “pula-catraca”, método tradicional e legítimo de manifestação, ainda mais frente ao absurdo valor das passagens. Bastou os estudantes se aproximarem das roletas para que os seguranças do metrô desatassem uma feroz repressão com cacetetes, pontapés, socos, ataques a estudantes no chão. Como se não bastasse, chamaram a PM que chegou reprimindo ainda mais os manifestantes com bombas de “efeito moral” e cacetetes. Denunciamos a empresa do metrô e a segurança que mostra sua truculência no tratamento com a população. Exigimos que o Sindicato dos Metroviários, que compõe a Conlutas, se manifeste urgentemente sobre este grave ocorrido.

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