Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

A eleições européias

05 Jul 2004   |   comentários

Nas recentes eleições da União Européia (UE) o resultado mais importante foi a abstenção. No conjunto dos 25 países, ao redor de 60% não foi votar. Isto foi mais visto nos novos países recém-integrados do Leste, onde se alcançaram os picos de 80% de abstenção na Polónia e Eslováquia. Salvo em casos excepcionais como Itália, Bélgica ou Grécia (onde votou mais de 75%), na maioria dos países se registrou uma taxa de votação sensivelmente menor se comparado com as eleições mais recentes. A principal conclusão que se pode tomar é que a maioria dos europeus não pensa que o parlamento Europeu decida diretamente sobre suas vidas. É que pese a que o processo da União Européia goza de um importante consenso entre as populações, suas instituições estão muito longe de terem sustentação popular. Ainda nos países do Leste, onde a abstenção foi altíssima, as populações acabaram de ratificar a integração à União meses atrás com resultados altos de votação e de participação. Portanto, há um abismo que se abre entre o estendido sentimento de que a Europa deve estar unida, e as instituições que a representam. Em quase todos os Estados havia listas “eurocéticas” (da direita e contrários a União Européia), que em nível europeu se aproximaram de 20% dos sufrágios emitidos, mas isto não aumentou seu nível eleitoral em relação às eleições precedentes (e não chamaram à abstenção, mas a votar em seus partidos). A abstenção eleitoral coloca em evidência também a representatividade dos líderes europeus. Os principais líderes da UE, hoje estão sendo questionados, e indiretamente terminam questionando às instituições da União.

Os novos integrantes

Em todas as capitais européias se festejou com entusiasmo o ingresso de dez novos países na União, entre eles oito ex-Estados operários deformados. Nas capitais ocidentais isso apareceu como um triunfo da democracia capitalista. Porém, justamente, nestes países se registrou a mais alta taxa de abstenção das eleições européias”¦ Isto se deve, fundamentalmente, a dois motivos. O primeiro é que a restauração do capitalismo, longe de trazer um padrão de vida similar aos de países como Alemanha ou França, cria novas desigualdades sociais, aprofunda o desemprego e a miséria coletiva. O segundo é que os novos partidos políticos têm una base social débil entre as classes do novo capitalismo em gestação. Por isso que, mais além da simpatia que desperta entre grandes setores de massas a idéia da unidade européia, o fato de que não gozem de nenhuma das “vantagens” dos países capitalistas ocidentais, faz com que vejam a União Européia ainda como um ente “estranho” . Não têm ainda a possibilidade de instalarem-se livremente nos países ricos, não têm o euro, nem as conquistas sociais nem os salários do Ocidente: não são iguais nem o serão no futuro. O fato de que estes países formem um mesmo conglomerado político com os países da Europa Ocidental, pode trazer a estes últimos a instabilidade e a miséria para dentro de seus países.

Os países imperialistas

Na França houve uma importante taxa de abstenção (57%), e dentro dos que votaram, globalmente, a direita obteve 37%, a extrema direita 11%, a esquerda governamental 42% e a extrema esquerda 3%. O governo recebeu uma derrota parcial (o partido de Chirac e Raffarin teve apenas 16%, a coalizão direitista, de conjunto, 37%), mas ao não haver sofrido uma derrota contundente e ao não ter uma forte pressão do movi-mento de massas, Raffarin conta com uma força eficiente para implementar as reformas antioperárias. O conflito pela privatização das empresas de eletricidade e de gás, poderia provocar o nascimento de uma vanguarda operária mais radicalizada em empresas estratégicas para a economia do país, capaz de influir sobre o conjunto da classe operária e os setores populares. A “esquerda plural” se recupera da derrota de 2002, e se prepara para tentar suceder Chirac em 2007. Na baixa eleição da extrema esquerda, influi muito a abstenção, que expressa a apatia política dos setores mais à esquerda, já que esta perdeu 500.000 votos nas regionais de três meses atrás.

Na Alemanha, também ganhou a abstenção. O partido social-democrata de Schroeder teve a sua pior eleição desde 1953 (21,8%), e se somamos aos Verdes alcançam 33%. Os ex-comunistas do PDS totalizaram 6%. A direitista CDU conse-guiu 45%, e os liberais cerca de 6%. Diferentemente da França, onde todos os principais partidos compartilham a política exterior, se o governo fosse ganho pela direita, poderia se aproximar mais das posições norte-americanas. Neste país, a abstenção prejudicou mais sensivelmente à social-democracia, já que desde 2003 vem se registrando lutas operárias contra os planos da Agenda 2010 de cortes do setor público no qual, ademais, vem sendo questionada (e às vezes atropelada) a fortíssima burocracia sindical social-democrata.

Na Itália onde a taxa eleitoral foi alta (77%), o governo de Berlusconi conseguiu amortizar a sua queda. Tanto a coalizão de centro-direita oficial como a oposição de Olivo mais Refundação Comunista, obtiveram 46% cada uma. Nas eleições provinciais que se deram nos mesmos dias, a centro-esquerda que estava unida, ganhou a maioria das províncias de uma direita que estava dividida. Pese que a Itália atravessa um importante período de lutas operárias e populares, o que se vê é que a classe média e os pequenos proprietários mantêm a sua fidelidade na coalizão berlusconiana. A ultradireitista Liga Norte teve uma boa eleição, os cristãos também e a Força Itália baixou, no marco de uma leve queda da “Casa das Liberdades” . Mas ao mesmo tempo, os partidos mais à esquerda do centro-esquerda (Refundação Comunista, Comunistas Italianos, Verdes, etc), que se opuseram à guerra do Iraque, registraram um aumento de seus votos chegando a 13%, mostrando a polarização social na península. Na Grã-Bretanha, dentro de uma escassa participação eleitoral o partido de Tony Blair obteve uma modesta votação de 22%, e seus tradi-cionais rivais, os conservadores, 26%.

Conclusão

O projeto da UE acaba de realizar importantes avanços com a incorporação de 10 novos países. Mas, como vimos, não só incorpora novos países para colonizar, como também novos problemas políticos e sociais. Ao mesmo tempo, ainda que o sentimento “ europeísta “ seja majoritário, as instituições européias não gozam de sustentação por parte das massas.

Para alterar o curso de uma configuração da Europa de acordo com as principais empresas imperialistas, os trabalhadores devem dirigir suas lutas não só contra os seus governos nacionais, mas inclusive contra as instituições internacionais de Bruxelas. O que a burguesia organiza por cima, os trabalhadores devem aproveitar por baixo.

O fato de que a UE seja uma organização plurinacional obriga a vanguarda dos trabalhadores a ver a política de uma maneira mais internacional. O recostar sobre os velhos Estados nacionais (promovida pelos “eurocéticos” direitistas), não é mais que o outro lado da mesma moeda, igualmente reacionária e anti operária. A vanguarda dos trabalhadores européia deve por na ordem do dia a construção de um Partido Revolucionário quarta-internacionalista, que atravesse as fronteiras e lute pelos Estados Unidos Socialistas da Europa.

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