Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

A crise histórica do PT atualiza a necessidade de um Partido Operário Independente

25 Aug 2005   |   comentários

Neste momento de crise política no país, que tem como epicentro a crise de “representação” do PT diante de amplos setores das massas, alguns declaram a “morte” do PT e outros reafirmam sua “trajetória histórica” negando sua “história” de conciliação de classes. Estas duas posições são simetricamente falsas.

Enquanto centenas de milhares de trabalhadores, jovens e lutadores sociais, desde o início dos anos 1980, dedicavam sangue, suor e lágrimas numa perspectiva de independência de classe que deveria se expressar na construção de um verdadeiro partido operário independente, os sindicalistas liderados por Lula e em aliança com intelectuais e setores pequeno burgueses e mesmo burgueses impunham seu controle político para impedir que a ofensiva operária que encurralava a ditadura militar e apontava para ações revolucionárias e independentes de massas pudesse encontrar seu lugar e sua efetividade. O movimento operário liberava o máximo de energia no sentido da independência política e da organização sindical combativa e classista, não corporativa. As direções burocráticas e pequeno-burguesas tomavam as rédeas para desviar este rico processo de luta para a “redemocratização” , pactuando com setores burgueses ditos “progressistas” (FHC, entre eles) a “transição negociada” . Como um dos resultados deste pacto, os militares foram absolvidos dos seus crimes e os exilados, torturados, mortos e desaparecidos pelas mãos da repressão foram “anistiados” e “igualados” aos torturadores, sendo que os políticos responsáveis seguiram atuando livremente, até os dias de hoje.

As “origens” do PT: pactos e negociações em defesa da legalidade burguesa

Uma breve mirada sobre os anos 1980, numa análise honesta, não deixa dúvidas do papel traidor dessas direções do PT e da maioria da CUT. De um lado, os trabalhadores e lutadores sociais mostravam sua coragem e firmeza nas oposições sindicais, lutas e greves, trilhando o caminho do classismo, da independência de classe, do ódio à burguesia, à patronal, ao imperialismo e ao peleguismo. Isso se expressava em programas, reivindicações, prática política e organização. De outro lado, as direções burocráticas e pequeno-burguesas procuravam ganhar tempo e manter seu controle sobre os sindicatos e o PT para aproveitar uma nova relação de forças que lhes permitisse barrar a rica experiência dos trabalhadores e das massas no caminho da independência política e sindical. Mantinham, às vezes, um discurso “radical” para esconder sua política de conciliação de classes ’ pactos e alianças com setores burgueses ’ e defesa do capitalismo e da democracia burguesa, ao mesmo tempo em que se viam obrigados a dirigir greves e ações para ganhar a confiança das massas e consolidar o controle sobre as organizações operárias e populares, combatendo todas as potencialidades de surgimento de novas direções que fossem a expressão real dos sentimentos classistas que se expressavam em cada momento.

Em 1986, por exemplo, Osvaldo Bargas ’ sindicalista metalúrgico do ABC, do PT, que hoje está se refestelando no governo Lula como Secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho ’ não escondia a estratégia conciliadora da direção majoritária da CUT e do PT: “A Central deseja um acordo nacional [pacto social] na forma como é praticado na França, na Itália e Espanha, onde empresários, trabalhadores e representantes do governo estabelecem parâmetros para a gestão económica e os direitos dos trabalhadores durante a vigência do acordo” [CUT ontem e hoje, pg. 96; Vito Gianotti e Sebastião Lopes Neto].

O PT continua seu papel histórico de impedir a ação independente e revolucionária das massas

O PT e Lula sempre cumpriram o papel de “freio” da luta operária e popular. Em todos esses anos o PT, com seus dirigentes controlando os sindicatos, a CUT, o MST e demais organizações operárias e populares serviram para domesticar as lutas operárias e populares e enquadrá-las na “legalidade” burguesa, defendendo como legítimo este regime burguês com suas instituições corrompidas, antidemo-cráticas e antipopulares.

Se alguma dúvida ainda restasse sobre isso, bastaria conferirmos as declarações do “novo” presidente do PT Tarso Genro no último dia 12 de julho na Folha de S. Paulo, quando este define o partido exatamente como é: uma mediação reacionária entre as lutas operárias e populares e o regime burguês. Ele afirma que “se as classes populares não tiverem um mediador democrático dentro do Estado de Direito, como o PT, que transforme suas demandas em lutas com qualidade dentro da legalidade, o Brasil pode entrar numa situação de anomia [falta de leis, de ordem] semelhante à da Colómbia” . Esta confissão basta para ver como a direção petista covardemente se colocou historicamente e agora, nesta crise, se coloca ainda mais como guardiã da “legalidade” burguesa.

A luta classista e revolucionária impõe o combate ao PT e a construção de um verdadeiro partido operário independente

Por isso, não é possível nem sério falar em revolução e socialismo ’ derrota do capitalismo, da burguesia e do Estado burguês ’ sem um combate mortal contra a direção conciliadora, ou seja, contra o PT, Lula e a burocracia sindical que se encastela na direção dos sindicatos, da CUT, do MST e demais organizações operárias e populares. A esquerda petista, que tudo faz para “preservar” , “reformar” ou “refundar” o PT, caminha cada vez mais para o abismo, porque pretende conservar exatamente o principal obstáculo, a mais forte barreira que os trabalhadores e as massas têm que eliminar para avançar em sua luta contra a exploração capitalista.

A esquerda que já rompeu com o PT ’ PSTU, PSOL, PCO, Dissidência, NARS ’ também não pode continuar falando em classismo ou socialismo sem uma estratégia clara e definida para que a vanguarda se organize e se ligue às massas na tarefa inadiável e imprescindível de livrar o movimento operário e popular da influência e do controle das direções conciliadores do PT, num combate frontal e sem tréguas para expulsar estas direções conciliadoras e traidoras dos sindicatos e organizações operárias e populares, recuperando estas instituições das massas para a luta revolucionária, na perspectiva de construir um verdadeiro “partido operário” que leve nossa classe a completar sua experiência com a independência de classe.

A crise histórica atual do PT tem seu significado maior na perda de “esperança” e na frustração dessas massas com este partido e suas direções históricas. Para grandes camadas dos trabalhadores, essa experiência concreta com o petismo no governo será o alicerce que permitirá reerguer um novo partido, desta vez verdadeiramente operário e independente, sem patrões, sem burocratas, um instrumento para impor a força do proletariado e da aliança com os camponeses e as massas populares na luta revolucionária contra a exploração capitalista e a dominação burguesa.

Esta conclusão deve impedir que novas experiências de partido se reproduzam sem romper com o “modo petista” que marcou as duas últimas décadas. Um novo partido é necessário e imprescindível, pois os trabalhadores e as massas estão cada vez mais obrigados a “fazer política” para defender seus direitos e demandas contra a intensificação da exploração capitalista e a opressão imperialista.

Se no PT os sindicatos eram controlados por uma burocracia que dirigia o partido sem que os trabalhadores, em suas fábricas e organizações, pudessem ter o controle e a decisão, neste novo partido tudo deve ser controlado e dirigido por esses trabalhadores e os sindicatos e organizações de luta devem ser democratizados, revolucionados, com a expulsão dos burocratas petistas e conciliadores que estão ligados ao governo, ao PT e ao Estado capitalista, verdadeiros agentes da exploração capitalista. Um novo partido onde os dirigentes e parlamentares não tenham nenhuma autonomia para defender ou votar questões contrárias às deliberações dos sindicatos e organizações de luta.

Neste partido a esquerda revolucionária e todos os militantes e ativistas devem ter total liberdade para expressar e defender suas proposições, com democracia operária, na qual as decisões da maioria dos trabalhadores deverão ser de cumprimento obrigatório para todos.

Um novo partido realmente da classe trabalhadora, para milhões de trabalhadores atuarem na vida política, não apenas como eleitores e filiados. Um novo partido no qual as finanças venham da contribuição consciente dos trabalhadores a partir de seus sindicatos e organizações de luta, com controle efetivo destas organizações, impedindo o recebimento de recursos de empresários e empresas. Um novo partido que não permita aos parlamentares e funcionários ganhar mais do que o salário de um operário médio, pois a ação política e partidária não pode servir como profissão ou ascensão social. Um novo partido para impor um programa operário e popular em defesa das reivindicações da maioria da população e da defesa da Nação contra a opressão e espoliação imperialista, rompendo os acordos com os monopólios internacionais e o imperialismo. Um novo partido que tenha como estratégia acabar com esta podridão da democracia dos ricos, destruindo o Estado burguês e construindo uma nova sociedade, socialista, uma república operária e popular.

Num partido operário e independente os marxistas revolucionários lutariam por um programa revolucionário, no caminho estratégico de construção de um partido revolucionário de trabalhadores, internacionalista.

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo