Quarta 8 de Maio de 2024

Internacional

EGITO PÓS MUBARAK

A chave para o triunfo do povo egípcio e das massas do Oriente Médio está muito além da farsa das Forças Armadas

16 Feb 2011   |   comentários

“Em nome de Deus misericordioso e compassivo, cidadãos, durante estas muito difíceis circunstâncias para o Egito, o presidente, Hosni Mubarak, decidiu abandonar o seu cargo de presidente da república e encarregou o Alto Conselho das Forças Armadas de administrar os assuntos do país. Que Deus ajude a todos”. Esta foi a declaração do facínora da ditadura egípcia, o garantidor da manutenção do “estado de emergência” mesmo após a queda de Mubarak, Omar Suleimán, que dessa maneira encomendava-se ao céu. Mal conseguiu completar a notícia, afogado numa explosão de urros. O regime sentiu o golpe.

Com esse pronunciamento, o carrasco sanguinário do povo egípcio queria-se mudar num humilde conselheiro paroquial (ignorando que as duas figuras mais se interpuseram que se distanciaram na história). A renúncia de Mubarak à presidência do Egito, após aferrar-se despudoradamente ao poder mesmo em vista de três semanas de multitudinárias mobilizações populares contra o regime ditatorial capitaneado pelo general militar desde 1981, trouxe à luz não só o seu desprezo pelos trabalhadores e o povo pobre egípcio, mas a atitude desprezível de todos aqueles que o apoiaram, direta ou indiretamente, até o próprio momento de sua fuga. Não há dúvida que essa concessão miserável do regime foi uma cartada de efeito para – através de inflar demasiadamente esse triunfo parcial das massas egípcias como se fosse o último objetivo a alcançar – tratar de empobrecer ao máximo o conteúdo deste triunfo; que esse “golpe de efeito” serve de tempo extra para que o regime, sustentado pelo Conselho Supremo das Forças Armadas, recomponha suas forças; para que com isso se imponha uma situação de repouso (as massas voltam à “normalidade de suas vidas”); para que, enfim, se reconquiste capacidade de iniciativa por parte da burguesia nacional, do regime e do imperialismo.

O regime retrocede armado. O inimigo segue no poder: mas hoje o triunfo é das ruas.

Suleimán não pôde precisar as causas da renúncia de Mubarak, por ser parte de uma junta militar que, se as massas não recrudescem – principalmente, se o proletariado egípcio não endurece para varrer com seus métodos de classe a farsa do Conselho Supremo reacionário – estará à cabeça de um governo que garantirá a continuidade de todos os privilégios da Alta Cúpula das Forças Armadas; manterá o Exército como a instituição que terá a última palavra na política nacional (e, portanto, o vetor dos desígnios imperialistas na região); manterá uma passagem segura à marinha norte-americana no Canal de Suez; seguirá com o cerco genocida ao povo palestino na Faixa de Gaza em aliança com a Jordânia, a Autoridade Nacional Palestina e com o estado terrorista de Israel; e continuará exportando gás natural a Israel sob taxas subsidiadas. Mas o que não pode Suleimán, às custas de atentado à incoerência de classe burguesa, o periodista trotskista egípcio, Hossam el-Hamalawy, a 12/02, conseguiu definir politicamente:

“Foi apenas quando as greves de massas começaram há três dias atrás que o regime começou a se esfarelar e o Exército teve de forçar a saída de Mubarak porque o sistema estava prestes a entrar em colapso [...] Hoje, comecei a receber notícias de que milhares de trabalhadores do Transporte Público estão encenando protestos em el-Gabar e el-Ahmar. Os trabalhadores temporários na indústria metalúrgica de Helwan também estão protestando. Os técnicos ferroviários continuam paralisando os trens. Milhares de trabalhadores da fábrica de açúcar de el-Hawamdiya protestam e os petroleiros começarão uma greve amanhã acerca de demandas econômicas e para expulsar o Ministro Sameh Fahmy e estancar as exportações de gás para Israel. Mais informações vêm de outros centros industriais.”

O inimigo ainda segue no regime e nunca foi tão perigoso

O nomeado vice-presidente Suleiman, que dirigiu o serviço secreto, e que tem laços estreitos com o imperialismo, contando com o apoio dos principais chefes militares, era quem assumia o papel ativo antes da queda de Mubarak. Rodeado de um novo gabinete, tencionava propor um “diálogo” com a oposição, tentando assim ganhar tempo, esperar o desgaste da mobilização e se recompor, o que permitiria impor uma solução claramente continuísta. Fiel a uma ambigüidade demagógica, própria ao Exército financiado por Washington, fez o gabinete sinalizar um retorno forçado à normalidade, com a reabertura parcial do sistema bancário e outras medidas similares, marchando a mesma linha do Conselho Supremo das Forças Armadas, que já havia anunciado à população que “suas demandas já foram ouvidas, a normalização da vida está em suas mãos; regressem às casas”. Era a partir dessa originalidade política que o maior inimigo do povo egípcio, o Exército, segurava a corda para que Mubarak sustentasse suas provocações com foros de monarca: “Temo pelo que sobrevenha ao Egito se eu sair”.

Toda a camarilha militar se interpunha entre as massas egípcias e Mubarak, em favor desse. O Alto Comando cansou-se de dar recorrentes provas de sua devoção à fome e à exploração dos trabalhadores egípcios: ainda na quinta-feira, 10/02, um dia antes da queda de Mubarak, Omar Suleimán disse que o Governo não toleraria mais o prolongamento dos protestos anti-Mubarak na Praça Tahrir ou na porta do parlamento, ameaçando os manifestantes a não se fundarem na “desobediência civil”.

Em um comunicado pronunciado pelo Conselho Supremo das Forças Armadas, presidido pelo Ministro da Defesa Mohamed Husein Tantawi, pouco antes do último desafio insultante de Mubarak, exigia o fim dos protestos para que a “normalidade” retornasse ao país. Com sua sede vampiresca, o imperialismo não renuncia a que o processo de valorização do capital sobre os ossos das massas ocorra nas trevas do segredo, ao invés de ter milhões nas ruas reavendo seus ossos e um pouco mais. Comprometeram-se a “levantar” o estado de emergência sempre e quando os manifestantes deixem as ruas livres para o exercício “democrático” da espionagem e do estado de sítio à domicílio. “O estado de emergência se levantará tão prontamente desapareçam as atuais circunstâncias”, reza o comunicado do Alto Comando, “e recuperar ordenadamente a normalidade para preservar os interesses e a prosperidade de nossa grande nação”. Esses “interesses” a preservar foram os mesmos que pavimentaram o despertar dos trabalhadores à vida política: o interesse de preservar a média salarial do trabalhador egípcio na faixa de 75 dólares mensais; de que 40% de uma população de 80 milhões viva com apenas dois dólares diários, e de que a taxa de desemprego seja de 90% entre a juventude; além da massiva precariedade dos contratos de trabalho de curta duração, como dos trabalhadores portuários de Port Said, no Canal de Suez, e os trabalhadores ferroviários da Autoridade Ferroviária Nacional, ambos em greve.

Ainda que tivesse rechaçado até há pouco os termos de Suleiman, a oposição outorgou “credibilidade”, participando do diálogo, no momento de extrema debilidade de Mubarak, semeando ilusões desmobilizadoras entre as massas. Essa atuação não é acidental; é subproduto de suas concepções políticas com profundo significado de classe, que para a sociologia marxista se define como: pressões da classe burguesa. Os cenários cambiantes não mudarão o fato de que continuar exigindo, durante o período agônico de Mubarak, que proclame os desejos democráticos do povo egípcio significa, na prática, enganar o povo, fazê-lo ter esperanças irrealizáveis, retardar o esclarecimento de sua consciência e deslegitimar sua iniciativa independente de transformação revolucionária imediata. Tanto El-Baradei, quanto a Irmandade Muçulmana – corrente islâmica que inclui setores burgueses cada vez mais conciliadores com o imperialismo, (porque tem as massas como inimigo comum), e que declarou que nenhuma mudança no Egito deve ser radical no que diz respeito ao vínculo que o país construiu com seus sócios, inclusive com o estado terrorista de Israel – partilham dessa posição oficial de Obama e dos EUA.

Mas a equação Mubarak-Suleimán-Conselho Supremo do exército não foi capaz de descomprimir a situação política de ebulição das massas, perdendo um de seus algoritmos para as ruas enfurecidas. Até agora, o Exército, pilar chave do regime, cujo papel será essencial para qualquer plano de transição, posicionou tropas e tanques nas ruas, mas sem reprimir. Com isso buscava preservar-se para cumprir o papel de grande árbitro nacional garantindo a ordem burguesa, bem como evitando os riscos de uma divisão ao enfrentar-se com os trabalhadores e o povo. Mas, se as ameaças dos oficiais do Governo se cumprem, ora encastelados no comando do Egito, que ainda essa semana divulgavam a ameaça iminente de caos se Mubarak saísse, e diziam que se os protestos arrancam haverá intervenção militar, o amadurecimento do elemento consciente no povo pobre e nos trabalhadores poderia se converter num contra-golpe com conseqüências imprevisíveis para o imperialismo, se se produzem enfrentamentos com militares na arena central dessa nova fase do processo.

O próprio Suleimán foi destituído do posto, agora assumido pelo subordinado de Mubarak, Ministro da Defesa, Tantawi. O grande “progresso” dessa junta militar continuísta constitui nos seguintes passos: o Conselho Supremo das Forças Armadas manterá integralmente o último Executivo que trabalhava sob Mubarak; a exigência de que tudo volte ao normal e que os manifestantes voltem ao trabalho – muito ao gosto dos setores burgueses que se mobilizavam timidamente e com receios, que agora depositam toda a confiança no Exército, cantando canções de cunho tão ridículo quanto “Vamos construir um novo Egito”, “Trabalhemos mais do que nunca”, os mesmos que sempre mantiveram uma fé suculenta nos generais de Mubarak – e tranquilizando os EUA e Israel dizendo que garantirá a paz de Camp David com Israel. E tudo isso na atmosfera do estado de exceção, que será mantido para todo o país.

Resposta operária foi o impulso ímpar ao salto da mobilização

A queda revolucionária de Mubarak significa também um tapa na cara de todos os céticos, o processo revolucionário mostra a capacidade de todo o povo explorado e oprimido contra os autocratas assassinos do capitalismo e revela a importância decisiva da classe trabalhadora. Mesmo com passeatas e mobilizações de milhões nas ruas do Cairo, foi a entrada decisiva dos trabalhadores de Suez em greve e das diversas outras categorias que os seguiram nacionalmente, colocando em pauta a ameaça de uma greve geral, que mostrou a Mubarak e ao mundo quem determina a produção. Temendo que o movimento operário entrasse como principal força protagonista, a burguesia egípcia teve que ceder à pressão das greves e das mobilizações das massas.

A agudização das tendências catastróficas impulsionadas pelos efeitos irredutíveis do terceiro ano da crise econômica mundial recebe esse primeiro contra-golpe profundo das massas, cuja consciência de classe cresce e amplia-se em paralelo com o controle que possuem de suas medidas de força. A classe operária, para reivindicar melhores condições de trabalho, entrara com estampido no cenário da luta, em amparo aos protestos anti-Mubarak. Mais de 2.000 operários se encontram em greve no setor petroleiro; 6.000 trabalhadores se declararam em greve nos arsenais de Port Said, à entrada do Canal de Suez (uma das principais fontes de ingresso do Egito e por onde passam mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia, oriundos da região do Golfo Pérsico com destino ao Mediterrâneo), assim como em várias empresas privadas que operam nesta passagem estratégica do comércio internacional. Trabalhadores ferroviários entraram em greve contra a rotatividade do trabalho e a curta extensão dos contratos precários, exigindo contratos mais estáveis (um motivo estrutural do capitalismo também presente no “Brasil potência” de Dilma). As paralisações se repetiram no aeroporto do Cairo, nas indústrias metalúrgicas, nas fábricas têxteis de Malhala (Delta do Nilo); greves na companhia de gás de Fayum e na grande cidade industrial de Helwan, além de trabalhadores ferroviários na capital e em várias outras regiões. Segundo a Al Jazeera, 20000 trabalhadores se encontraram ontem em greve e alguns sindicatos convocaram a greve geral, buscando impulsionar os protestos contra o regime.

Até quinta-feira, 10/2, o vice-presidente Omar Suleimán tentava manobrar as massas, com a criatividade política petrificada de um torturador, dizendo que “O Egito não está preparado para a democracia”, e que “se as reformas constitucionais começam a descarrilar muito rapidamente pode haver a possibilidade de um golpe de Estado”. Isso no mesmo dia em que as greves operárias estouraram.

É sintomático que, apesar de três semanas de duríssimos protestos, com centenas de egípcios assassinados pela polícia e pelo Exército no Cairo, Alexandria e Suez, e milhares de feridos; com a tomada de delegacias e apoderamento de um arsenal de armas pelos manifestantes em Alexandria; com a queima de vários edifícios governamentais, incluindo o do partido governante de Mubarak; com as massas obrigando o aparato repressivo policial a se esconder, com perigo de linchamento; com o número crescente de manifestantes nas ruas com o passar dos dias, chegando aos milhões; mesmo com a enorme compressão de massas em um curto período de tempo, em mais de três semanas, o regime de Mubarak ainda mantinha seus pilares praticamente intactos, tanto assim que não tinha escrúpulos em renovar suas provocações em cadeia nacional após cada dia de protesto. Mas bastou um dia, um único dia de explosões ainda esparsas de greves operárias (naturalmente combinadas à pressão popular nas ruas nas semanas anteriores), para que o complô das negociações pacíficas dos capitalistas se sentisse estrangulado, e fizesse com que o regime se obrigasse a descartar Mubarak.

No terceiro ano da crise econômica mundial em curso, é certo que, tomado do ponto de vista do movimento operário internacional de conjunto, o nível de resposta dos trabalhadores está ainda muito por trás do que exigem os ataques capitalistas, que se apóiam na fragmentação das fileiras operárias e na cumplicidade das burocracias sindicais, agentes da burguesia no movimento operário. Esses apoios do capital são os pilares que sustentam como um biombo a inconsciência da classe operária frente ao seu colossal peso produtivo e social, fazendo com que ignorem e até sejam céticos em relação às suas próprias forças como classe diferenciada na sociedade burguesa.

Apesar disso, o profundo processo revolucionário no Egito corrobora a imensa capacidade revolucionária do proletariado, em que pese não ter contado, nesse como na maioria dos seus outros combates, com direções à altura das tarefas políticas e de organização colocadas. O avanço da crise econômica mundial vai desbastando até as raízes a era da restauração burguesa, culminada nos anos ’90 com a ofensiva neoliberal e com trinta anos de ausência da revolução no mundo, e abre novas condições políticas para a recomposição do movimento dos trabalhadores. A hora da crise é também a da desagregação das condições e relações de força que haviam permitido ao capital assentar quase três décadas de reação econômica e ideológica contra os trabalhadores e o mecanismo da revolução, apoiando-se justamente nessa condição histórica excepcional, a saber: a aguda contradição entre a enorme força produtiva e social do proletariado e seu retrocesso subjetivo, situação que a burguesia agônica busca reproduzir e “naturalizar”, junto com as “vantagens” dos órgãos e mecanismos de dominação democrática do capital.

Os acontecimentos históricos no Egito demonstram encarnadamente que, em que pese o brutal retrocesso subjetivo fruto de décadas de derrotas parciais do movimento operário, não se liquida a potencialidade histórica da classe operária nem a possibilidade de reconstruir um movimento dos trabalhadores à altura dos desafios que impõe a crise. Pelo contrário, coloca em relevo a miserável incapacidade das alternativas burguesas, incluídas neste caso as direções islâmicas, em conduzir o povo pobre e trabalhador às mais irrisórias conquistas democráticas.

Mesmo empantanado no governo e sendo muito difícil preservá-lo, até cair no abismo Mubarak conservou o apoio direto ou velado por parte dos países imperialistas e dos apodrecidos e corruptos governos árabes e do Estado terrorista de Israel. O representante da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, já havia declarado apoio à Mubarak desde o início das mobilizações populares; Benjamin Netanyahu, um genocida inconfundível, declarou repetidas vezes ue temia a queda de Mubarak pelos acordos de “paz” entre o Egito e Israel, em favor do continuado expurgo do povo palestino na Faixa de Gaza. Incluisve, o primeiro ministro israelense financiava a posição abalada de Mubarak. El Baradei, sustentado pela oposição da Irmandade Muçulmana, saiu em declaração solicitando socorro para as Forças Armadas intervirem, dizendo que “o Egito vai explodir”, logo após as greves se iniciarem em Suez. Barack Obama, num pronunciamento em que se lia a preocupação cristalizada na voz do presidente imperialista, dizia que nesse novo Egito ainda virão duríssimas lutas pela frente, e muitas questões ainda não respondidas, tentando maquiar a confusão da linha política a seguir a partir daqui. É um processo revolucionário árabe onde a espontaneidade da classe trabalhadora prima contra os interesses das direções nacionais burguesas à revelia do fundamentalismo islâmico.

O efeito contágio segue: Argélia, Líbia, Iêmen, Irã

Mais de 30 mil policiais e militares enxamearam as ruas da capital Argel, um dia após a queda de Mubarak no Egito, para impedir a escalada dos protestos contra o ditador Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no Executivo argelino. Os choques entre a polícia e os manifestantes já produziram centenas de presos, que reivindicam mudanças no regime argelino. Milhares de destacamentos anti-distúrbios, em meio de um dispositivo policial que conta com tanques, furgões, caminhões com canhões de água e sob o olhar de policiais que portavam fuzis, patrulham a capital para impedir as manifestações convocadas pelos partidos de oposição e proibidas pelo governo. Segundo a imprensa Efe, cerca de 30.000 policiais se mobilizaram e deslocaram de várias regiões do país para conter e controlar o possível terceiro ascenso de massas em um país, o segundo mais populoso, do mundo árabe.

Um excedente tremendo de cuidado para um Bouteflika que provocou, “uma manifestação com escasso eco”. Quando as palavras são escassas, raramente são gastas em vão. O governo argelino arranca seus proventos – para além da conivência com a extração de uma gota de mais-trabalho em correspondência com cada gota de trabalho de seus trabalhadores – das ricas reservas de hidrocarburetos (equivalentes a U$155 trilhões de dólares). Os social-democratas da Frente das Forças Socialistas, e a Aliança dos islamistas moderados, ambos partidos de oposição, se recusaram a convocar a marcha de sábado, proibida pelo governo.

Protestos na Líbia contra Gadafi, e no Irã, entre oposicionistas e partidários de Ahmadineyad, começam a irromper com ferocidade no seguimento da queda de Mubarak.

O processo revolucionário no Egito tem que triunfar

Alertamos que a passagem do poder ao exército egípcio é uma manobra para a manutenção do regime subserviente ao imperialismo estadunidense e ao estado terrorista de Israel. Não podemos esquecer que os EUA financiam o exército egípcio com 1,5 bilhões de dólares todos os anos para reprimir o povo egípcio. A junta militar que assume o poder continua emaranhado por mil e um laços à política expansiva do capital financeiro que sustentou Mubarak no poder durante os últimos 30 anos, e está tendo muito pouco elemento de "desvio", no sentido de concessões estruturais – muito além da dissolução do Parlamento e da Constituição – e está mantendo a política de Mubarak o quanto pode. O comandante do exército, líder desta junta, era descrito pelo embaixador americano no Wikileaks, como "o poodle de Mubarak". Não será de suas mãos ou de torturadores e assassinos como Suleiman, ex-chefe da polícia secreta, ou do marechal Mohamed Tantawi, que o povo egípcio se livrará deste regime opressor e pró-imperialista.

Trotsky dizia, em discurso à III Internacional em 1919, que “o exército está sempre estreitamente ligado ao caráter da autoridade que detém o poder”. O exército, os órgãos policiais, de repressão e coerção, não são organismos independentes ou neutros, não atuam por fora do Estado e do regime burguês. As leis, os regulamentos e as ações desses órgãos estão determinados pelo ordenamento estatal, cujo caráter social corresponde, portanto, àquele da classe dominante. Trata-se aqui, naturalmente, da alta casta privilegiada das Forças Armadas que possui laços empresariais com a burguesia nacional; os soldados rasos não estão atados por esses laços que amordaçam o ato mando aos caprichos do imperialismo, e não se beneficiam em nada pela repressão aos povo pobre e trabalhador egípcio, razão pela qual o Conselho Supremo das Forças Armadas é tão cauteloso em utilizar as tropas para, com armas na mão, investir contra os trabalhadores desarmados. É uma combinação que pode atirar potencialmente as tropas para o lado dos trabalhadores.

Portanto, a queda de Mubarak não significa uma vitória definitiva ao povo egípcio; caso o processo revolucionário não avance para destruir o atual regime e para a destruição do capitalismo egípcio, o imperialismo norte-americano e seus agentes saberão usar a boa localização do Exército para barrar as inéditas combinações entre os aspectos de organização sindical, reagrupamento político e de desenvolvimento da auto-organização como classe. Saberão fazer com que esse triunfo episódico da classe operária e do povo egípcio se volte contra eles através da confiança inconsciente no Exército. Tudo está dependente de como as massas reagirão, mas também do fato de que as contradições profundas - fome, desemprego, miséria, repressão, opressão imperialista e sionista etc. - seguem atuando. O processo não se encerrou, apenas estamos vendo uma "trégua", que como tal favorece quem estava "nas cordas" (a burguesia egípcia, o imperialismo e Israel). Ainda é cedo para dizer o resultado final. Muitas batalhas ainda virão.

Em acordo com el-Hamalawy, “Esses trabalhadores não retornarão à casa tão cedo. Eles inciaram as greves porque não podiam mais alimentar suas famílias. Foram encorajados pela queda de Mubarak, e não podem voltar para seus filhos e dizer-lhes que o exército prometeu-lhes trazer de volta a comida e os direitos em não sei quantos meses [...] Nesse ponto, é provável que a ocupação da Praça Tahrir seja suspensa. Mas temos de levar Tahrir às fábricas agora. Na medida em que revolução procede, uma inevitável polarização de classe ocorrerá. Temos de ser vigilantes. Não devemos parar aqui... Seguramos em nossas mãos as chaves para a liberação de toda a região, não somente do Egito... Adiante com a revolução permanente que apoderará o povo desse país com a democracia direta dos de baixo...”

Os trabalhadores devem seguir em luta através do aprofundamento de suas demandas estruturais postas à frente nas greves cravejam o território egípcio, e da consolidação de comitês de auto-defesa que encampem a construção de uma Assembléia Constituinte Revolucionária, onde, desde os sindicatos – os trabalhadores egípcios em greve lutam também pela construção de sindicatos livres da ingerência da ETUC, central ligada ao podre regime militar – e organizações populares sejam os trabalhadores e o povo os que determinem a transformação do país conforme suas necessidades de forma independente da burguesia e da oficialidade egípcia. Esta é a única forma de que se quebre o cerco à Faixa de Gaza, para terminar com a opressão que sofre o povo palestino e dar uma solução verdadeira às necessidades dos explorados e oprimidos de toda a região. Ontem foi a Tunísia, hoje o Egito e amanhã será a Argélia, Jordânia e todos os regimes pró-imperialistas do Oriente Médio.

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