Terça 7 de Maio de 2024

Nacional

Contra o cinismo tucano e a demagogia petista

Voto nulo no segundo turno

10 Oct 2006   |   comentários

Na reta final a candidatura de Alckmin, que era desacreditada até dentro do próprio PSDB, recebeu apoios decisivos. Frente ao seu crescimento nas pesquisas parte da burguesia mais reacionária e racista do país, em especial de São Paulo e do Sul, viu em Alckmin a possibilidade de retomar o controle direto do Estado, que perdeu em 2002 com a vitória de Lula e do PT. Para alcançar este objetivo a dose de cinismo destilado pelo candidato tucano, agora com o apoio decidido dos principais jornais e emissoras de TV do país (em especial da Globo), aumentou em doses cavalares nas últimas semanas. O ponto alto do cinismo foi, até agora, no episódio da compra dos dossiês o noticiário distorcido a tal ponto que ninguém se perguntou qual é o conteúdo das denuncias contra José Serra e o PSDB.

Com Alckmin a burguesia paulista retomaria o controle direto do Estado. Retornaria à presidência com um discurso anti-operário e anti-popular, cujo um dos eixos é a suposta incompetência de Lula e o outro é a acusação de que este governa para os “companheiros” , isto é para o PT, e não para o país, isto é, a burguesia paulista. Alckmin é a promessa de um governo mais duro contra o movimento operário, e especialmente contra o movimento camponês. É a promessa de uma política externa de combate aos governos de Evo e Chávez na América Latina e de uma maior aproximação com os EUA.

Lula, no entanto, não é o candidato dos pobres. Basta ver que no seu governo os grandes bancos e as grandes empresas bateram recordes de lucros. Ou que Lula aplicou a reforma da previdência para atacar direitos do funcionalismo público. Ou então que ele sustenta com Alckmin um acordo de “não envolver a família” na disputa eleitoral. Enquanto a Sra. Lu Alckmin ganhou mais de 400 vestidos de presente da Daslu, a empresa do filho de Lula recebeu investimentos estatais de milhões de reais. Lula, de ex-operário, se transformou em novo rico. Em Mato Grosso acabou de receber o apóio do governador reeleito Blairo Maggi, conhecido como “o Rei da Soja” , em troca de cerca de um bilhão de investimentos federais para a agricultura do estado (para os grandes empresários do agro-business). Não é a toa que Lula tinha e tem o apoio de pesos pesados da burguesia brasileira e de políticos amplamente conhecidos como corruptos e parte das “elites que sempre governaram o país” e que com Lula continuam governando. Algumas figuras como Collor podem estar na base de apoio de um possível segundo mandato. Sarney, tradicional coronel do nordeste, segue com Lula e não abre. Sua filha, Roseana Sarney, está ameaçada de expulsão do PFL justamente por que apóia Lula.

A prova mais cabal dos interesses que estão por trás de Lula são as declarações de representantes do “mercado” , este ente abstrato que tem tido tanto destaque na política brasileira nas últimas décadas e que é apenas uma outra forma de dizer grandes banqueiros e investidores internacionais. O “mercado” só teme que a polarização cresça no segundo turno e que isso impeça o consenso que o próximo governo vai precisar para aplicar as “reformas que o país necessita” . A reforma trabalhista para retirarem direitos e a continuação da reforma da previdência atacando agora o setor privados, são agendas comuns aos dois candidatos.

Voto nulo no segundo turno. Por uma unidade classista e revolucionária da vanguarda dos trabalhadores

Ganhe quem ganhe, os trabalhadores necessitam se preparar para resistir a grandes ataques. Infelizmente Heloísa Helena e a Frente de Esquerda em nada colaboraram para essa preparação. Importantes figuras públicas do PSOL estão agora chamando a votar em Lula, tido como “mal menor” , enquanto Heloísa Helena chama o partido a não se pronunciar. O PSOL representa uma esquerda que se manteve fiel às posições que o próprio Lula defendeu até 2000, posições estas que estão na base, que são a origem, de tudo o que foi o seu governo. Com estas posições o PSOL e a Frente de Esquerda estão preparando os trabalhadores para novas derrotas históricas.

A “unidade da esquerda” nessas eleições, tão comemorada pelo PSTU, esteve a serviço de uma política de conciliação de classes, de apoio ao setor produtivo da burguesia, como quer Heloísa Helena e a direção majoritária do PSOL. Precisamos unificar sim a esquerda e a vanguarda dos trabalhadores. Essa unidade vai ser decisiva no próximo período, ganhe Lula ou ganhe Alckmin. Mas necessitamos de uma unidade classista e revolucionária, para chegar aos milhões de trabalhadores que estão votando em Lula novamente e organizar uma ferrenha luta de classes contra a patronal e o próximo governo seja ele qual for. Chamar a votar nulo nesse segundo turno é apenas um primeiro passo. Refletir sobre a trajetória do PT para fazer um balanço correto da Frente de Esquerda e das posições que esta levantou vai ser fundamental para avançar na direção de uma unidade classista e revolucionária da vanguarda dos trabalhadores brasileiros.

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