Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

EDITORIAL PALAVRA OPERÁRIA 57

Uma perspectiva operária e socialista para enfrentar a miséria capitalista

13 May 2009   |   comentários

Essa semana o presidente Lula foi a público para defender os deputados e senadores dos escândalos que mais uma vez escancaram para todos verem a quantidade de obscenos privilégios que gozam nossos supostos “representantes” . Pra Lula é um absurdo que as pessoas fiquem revoltadas com a farra das passagens aéreas, pois acha muito justo que os parlamentares possam voar por ai com o dinheiro dos impostos pagos pelos trabalhadores e o povo. Ele mesmo, Lula, disse que fazia a mesma coisa quando era Deputado Federal! Mas a farra das passagens, nós sabemos, é só mais uma que vem a tona. Antes dela tivemos a farra dos cartões, o mensalão, os aumentos salariais recorrentes e tantos outros escândalos. O que impressiona dessa vez é a cara de pau. Até o senador Suplicy, o deputado Fernando Gabeira, e a dita socialista Heloísa Helena, tidos até então como uns dos poucos parlamentares “honestos” viajaram com verbas públicas. Fizeram isso, segundo eles declararam na maior cara de pau, por que “a norma permitia” . O tamanho da crise de legitimidade do Congresso está obrigando os parlamentares e discutir mais uma vez uma reforma política para tentar recuperar a sua imagem, atolada na fossa. Uma das principais propostas na pauta: financiamento público de campanha. Querem que a gente pague para eles roubarem! Nós socialistas que lutamos contra esta democracia para ricos, temos outra proposta: chega de parlamentares ricos comprados pelas patronais para defender seus direitos contra o povo. Que os mandatos dos parlamentares sejam revogáveis e que ganhem o mesmo que o salário médio de um trabalhador de uma estatal ou funcionário público.

No Brasil real, longe do mundo de privilégios do Congresso Nacional, o povo e os trabalhadores continuam vivendo (sobrevivendo!) nas piores condições. No Norte e no Nordeste, mais uma vez, as chuvas que se repetem todos os anos já afetaram 700 mil pessoas e mataram 29. Uma tragédia anunciada (será que já se esqueceram do que aconteceu em Santa Catarina poucos meses atrás), que poderia ser evitada com um mínimo de investimento em infra-estrutura e moradias decentes. Mas os mesmos que roubam nosso dinheiro em Brasília, não estão nem ai para as centenas de milhares de desabrigados e dezenas de mortos com as enchentes que poderiam ser evitadas. No sudeste “desenvolvido” , as montadoras de carros se beneficiam dos cortes de impostos concedidos pelo governo Lula, enquanto continuam demitindo os trabalhadores. A impressa comemora a alta das bolsas e a pequena recuperação das exportações, mas os 2 milhões de trabalhadores que perderam seu trabalho no último semestre continuam na rua da amargura. Enquanto o governo Lula compra e poupa dólares como um sinal de que pagará a enorme dívida externa que o povo não contraiu. Pelo não pagamento dessa fraudulenta dívida externa, dinheiro para por em pé um verdadeiro plano de obras públicas, para evitar as enchentes.

As centrais sindicais atreladas ao governo, em especial a CUT e a Força Sindical, realizaram grandes festas neste primeiro de maio. Não criticaram o governo Lula e não discutiram os problemas do país com os trabalhadores, porque sua política é de apoio e negociação com os patrões e com o governo. Querem mesmo é festejar, para fingir que tudo está bem e que a crise logo será superada. Mentira! Para superar de verdade essa crise, teremos é que superar esses burocratas vendidos que fazem o jogo dos capitalistas. Fora a burocracia sindical de nossas organizações. Assembléias resolutivas. Impulsionemos a recuperação de comissões internas e de fábrica e sindicatos para voltar-los a luta por nossos direitos.

Nem a esquerda que se coloca como oposição ao governo Lula consegue dar uma resposta à altura da situação. Muito pelo contrário (ver balanço do primeiro de maio da esquerda na página ao lado). O PSOL cada vez mais mostra que o que quer na verdade é conseguir um lugarzinho ao sol nas próximas eleições, e não dar uma resposta de verdade à crise capitalista. Fazem de tudo para conseguir o apoio da classe média e de setores burgueses que engordem os caixas de suas campanhas, como já fez a Gerdau em 2008, apoiando a campanha a Prefeitura de Porto Alegre da Deputada Federal Luciana Genro. Agora apóiam a Policia Federal como se essa estivesse realmente interessada em lutar contra a corrupção e chegam ao cúmulo de apoiar algumas das medidas repressivas do governo carioca contra a população dos morros no Rio de Janeiro. Chamamos os trabalhadores a dar as costas a esses partidos e dirigentes que falam de socialismo, mas na verdade praticam a colaboração de classes com os empresários. Pela independência política da classe trabalhadora!

Os trabalhadores precisam do seu próprio partido para derrotar aos capitalistas

O capitalismo é um sistema baseado no lucro, e não tem nenhuma saída a oferecer para essa crise que não seja essa: aumento por um lado do desemprego e por outro, da superexploração dos que conseguirem se manter empregados. A depender do governo Lula, da patronal, da CUT e da Força Sindical, é isso mesmo que vai acontecer. Ou os trabalhadores avançam na sua organização e capacidade de luta, superando as divisões entre desempregados e empregados, entre terceirizados e temporários e efetivos, e formam uma frente unitária de luta contra os patrões, ou eles passarão por cima de nós como um rolo compressor. Temos que levantar um programa capaz de atender aos interesses dos trabalhadores e de todo o povo pobre da cidade e do campo.

Para levar adiante essa luta, a combatividade e força de vontade que o movimento operário brasileiro já demonstrou em diversos momentos da sua história, e certamente vai demonstrar mais uma vez, é fundamental. Mas não é suficiente. Sem um partido capaz de representar a força e a unidade dos trabalhadores, de partir das lições de um século e meio de lutas contra a burguesia para aplicá-las a realidade atual, não seremos capazes de triunfar. Já no final da década de 70, os operários que combatiam a ditadura com greves e piquetes massivos chegaram a essa conclusão e apoiaram e votaram num congresso dos metalúrgicos a construção do PT. No entanto não conseguiram vencer a direção reformista de Lula, e o PT se transformou num partido de conciliação de classes com a burguesia. Quer dizer, não se preparou para tomar o poder e terminou como um partido a mais do sistema burguês.

Hoje em dia, o maior partido operário que reivindica a revolução operária e socialista para responder à atual crise capitalista, é o PSTU. Apesar de ser extremamente minoritário, poderia nesse momento dirigir um chamado à juventude e aos trabalhadores, que começam a tirar as suas próprias conclusões sobre o governo Lula, assim como as dezenas de organizações menores que também se reivindicam revolucionárias, para avançar na construção de um partido próprio dos trabalhadores, que ao contrário do PT, não passe para o lado dos capitalistas, aplicando efetivamente um programa e uma política revolucionária. Mas infelizmente, a perspectiva deste partido tem sido outra. Numa perspectiva eleitoralista, prefere se colar ao PSOL para tentar se projetar na sombra da figura de Heloísa Helena, como se isso fosse um atalho para “influenciar as massas” e para tanto, na prática, chega a abrir mão até dos mais elementares princípios de independência de classe.

Mantemos nosso chamado ao PSTU, que modifique sua política enquanto ainda é tempo, e encabece a construção de um partido revolucionário no Brasil, começando em primeiro lugar por abrir uma discussão sobre programa, métodos e estratégia política.

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