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Internacional

FRANÇA

Triunfo na Philips de Dreux

01 Mar 2010   |   comentários

Na sexta-feira, 26 de fevereiro, depois do meio-dia, após o anúncio da vitória dos trabalhadores da Philips contra o seu proprietário houve uma explosão de alegria. Embora a direção da Philips desde outubro do ano passado tenha anunciado o desmantelamento da fábrica, a demissão de 212 trabalhadores e tivesse começado um lock out na segunda-feira 15 de fevereiro, que impedia os trabalhadores de entrar e trabalhar, agora foi obrigada a reabrir e retomar a produção. Na segunda-feira 22 de fevereiro os trabalhadores retomaram seus postos recebendo aplausos e saudações de estudantes da periferia parisiense e dos professores em greve da Academia de Créteil, que viram para apoiar e felicitá-los. Podem-se ler as bandeiras "Ganhar contra os patrões é possível!" E "Philips Dreux, um exemplo para todos os trabalhadores!" É uma vitória importante para os trabalhadores que lutaram não por uma indenização, mas para manter seu emprego, contra as demissões e o fechamento da sua fábrica!

Espírito de luta e solidariedade

A estratégia jurídica e o trabalho dos advogados não foram as únicas questões que levaram a esta vitória, mas sim uma combinação de métodos e estratégias de luta dos próprios trabalhadores. Uma das chaves para a vitória foi a firmeza do sindicato CGT Philips Dreux em defender a manutenção de todos os empregos. Ele rejeitou qualquer negociação com o patrão, enquanto o lock-out não foi suspenso. O sindicato apelou aos trabalhadores que mobilizados combateram o bloqueio, indo todos os dias das 5:30h da manhã em frente à fábrica a se reunir em assembléia geral para decidir a estratégia a adotar. A esmagadora maioria dos trabalhadores respondeu ao chamado da CGT. Militantes combativos da CGT organizaram guardas 24 horas no local para impedir que a patronal esvaziasse a fábrica, levando suas máquinas, e sempre buscou a convergência com outras lutas. Um fato novo foi a presença de estudantes universitários, especialmente da Paris 8 Saint Denis, entre os quais desempenharam um papel proeminente os militantes e simpatizantes da FT, indo todas as manhãs em frente à fábrica para prestar o seu apoio aos trabalhadores . Esta solidariedade dos estudantes para com os trabalhadores fez muito para impedir o isolamento na luta e levantar a moral dos trabalhadores, que foram "eliminados como lenços descartáveis", e com total desrespeito da patronal.

Estatização sob controle operário!

Mas a luta dos trabalhadores da Philips ainda não acabou. O gerente da Philips Dreux, Richard Woods, teve que engolir suas palavras na quinta-feira antes da vitória, quando dizia que "não haveria produção em Dreux. O seu plano de fechamento da fábrica era tão obsceno, que a justiça teve dificuldades em não dar a razão aos trabalhadores. Para este resultado inesperado ajudaram a existência de um clima social conturbado, como evidenciado pela greve histórica de trabalhadores precários da gigante do setor mobiliário IKEA, a greve dos setores da educação e, de uma forma mais política, a greve de solidariedade dos trabalhadores nas refinarias da França (ver "Total: traição dos sindicatos”), sob um governo fraco que deve enfrentar um difícil teste eleitoral no próximo 14 de março.

No entanto, esse recuo dá tempo aos trabalhadores e lhes permite avançar em sua organização, tanto internamente quanto fora da fábrica, na coordenação com outros setores, não significa que os patrões não tentarão desferir novos ataques. Frente à perda de legitimidade da empresa, que deve cuidar da sua marca, pode-se supor que a gestão da Philips prepara um novo plano de demissões que atenda a todos os aspectos legais. Esta é a razão que faz com que os trabalhadores ameaçados de demissão não possam voltar a colocar o seu destino nas mãos da justiça. A única solução definitiva contra as demissões é a nacionalização da empresa sob controle operário. Os dez dias de produção sem patrões têm mostrado (ver "O exemplo do controle dos trabalhadores"). A nacionalização garante um plano de produção para os trabalhadores, ou seja, o fornecimento de matérias-primas, vendas e controle dos trabalhadores, permite que os próprios trabalhadores estejam seguros de emprego, e decidam coletivamente como devem se organizar.

O exemplo do controle dos trabalhadores

Para justificar o fechamento da fábrica o patrão reduz a taxa de produção e de não-fornecimento de matérias-primas, o que levou a atingir um nível de produção de apenas 10 aparelhos de televisão por dia em dezembro. Assim, em 5 de janeiro os trabalhadores decidem em assembléia por uma esmagadora maioria (147 a 5) assumir o controle da fábrica, de suas fontes e, assim, mostrar, contrariamente ao que os patrões queriam fazer acreditar, que a fábrica é produtiva.

Para abastecer a fábrica, os trabalhadores da Philips tiveram o apoio de trabalhadores do armazém onde ficam os componentes, que são provenientes a Hungria. Em um dia de trabalho produziram mais de 300 televisores! Mas, após 10 dias de produção sob gestão operária, a patronal apoiada pelo Ministério Público e da Justiça em colaboração com o sindicato pelego Force Ouvrière, perseguem dois trabalhadores para que retirem todas as televisões que estão armazenadas no local e as transportem a outro, e agentes de segurança retomam o controle da fábrica.

Uma história de desindustrialização comum em toda a França

Nos arredores da pequena cidade de Dreux, 70 km de Paris ficam as fábricas de televisão do grupo holandês Philips. Dos mais de 1300 trabalhadores, e especialmente trabalhadoras, porque, como em muitas outras fábricas elétricas mais trabalhadoras são mulheres, há apenas 212. A outra fábrica, que estava a poucas centenas de metros foi fechada em 2006. Desde meados dos anos 70, essas duas fábricas, localizadas em uma concentração industrial jovem que data da guerra, era essencialmente zona rural, e não havia toda a tecnologia e todos os componentes de televisores Philips. Gradualmente, a partir do final dos anos 90 essas fábricas foram se esvaziando, e a produção transferida aos poucos para países com uma mão-de-obra mais barata, como a Hungria e a Polônia, o que significou nos anos de 1997, 2003, 2008, ondas de demissões em massa. Assim, restaram apenas duas das cinco linhas de produção das fábricas, com atividade reduzida para montar os televisores. Muitos trabalhadores foram demitidos, entre os quais estão muitos ativistas das lutas anteriores, que continuam desempregados em uma região onde as fábricas fecham uma após a outra em meio à atual crise capitalista. Em setembro do ano passado, depois do trabalho não remunerado imposto aos trabalhadores por quase cinco meses em 2008 para "salvar" a fábrica, foram demitidos centenas deles ao mesmo tempo, e a direção da Philips anunciou que fecharia a fábrica.

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