Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

EXPLOSÃO EM INDÚSTRIA EM PAULÍNIA

Três operários assassinados pelo lucro

07 Nov 2010   |   comentários

Na manhã da última quarta-feira, 4 de novembro, ocorreu um grave acidente na Fênix Lubrificantes, indústria petroquímica de Paulínia. Uma explosão seguida de incêndio no setor de clarificação de óleo tirou a vida na hora de um jovem de 25 anos, Valdemir Cabral. Além dele, mais 2 trabalhadores, Cristiano Barbosa de 37 anos e Nicolau Luis Drosdoki, de 44 anos, ficaram gravemente feridos com as queimaduras e faleceram nessa quinta e sexta-feira. Deixamos aqui nossa solidariedade aos familiares e companheiros de trabalho da Fenix.

Além da tristeza e preocupação que a notícia traz a qualquer trabalhador e trabalhadora, raiva e indignação surgem à tona. Valdemir, Cristiano e Nicolau não foram os primeiros, e infelizmente não serão os últimos que perderemos enquanto esse modo de produção - superexploração capitalista para garantir o lucro para uma minoria de parasitas às custas do suor e da vida dos trabalhadores - se mantiver de pé. Porém, longe de “mais alguns” na lista fria de contabilidade dos grandes empresários, em que os números se dividem nas tabelas entre o lucro extraído com a exploração e a quantidade recorrente de trabalhadores acidentados, mutilados e mortos, para nós são companheiros que morrem assassinados pelo lucro. Independente dos resultados da perícia, os culpados pela morte de Valdemir são os donos da Fenix, que chegou em 1997 a ser fechada após um grande incêndio e reabriu novamente, matando quase 15 anos depois três operários.

Fenix, exploração e negligência com a vida que levaram à morte

Já havia ocorrido três acidentes recentes na planta, e nada mudou nos
procedimentos de segurança. A empresa tem um histórico de perseguição aos trabalhadores que buscavam se organizar contra essas condições, demitindo cipeiros, como denuncia o Sindicato dos Químicos [1]. Se a falha foi no equipamento, ou em algum procedimento de segurança não realizado (que com a pressão das metas de produtividade, duplas tarefas e ritmos exaustivos, nada mais são do que resultado da negligência patronal, e não da falha ou
responsabilidade individual de um trabalhador, como busca fazer crer os
empresários para se eximirem da culpa), alertamos mais uma vez: os donos da Fenix são os responsáveis diretos pela morte de três trabalhadores e devem pagar judicial e materialmente pelo que fizeram.

A vida de três que representa a realidade de milhões: o Brasil que não apareceu nas eleições

Em uma realidade marcada pelo trabalho precário, muitas vezes sem treinamento adequado, sem equipamentos de proteção, ou com ritmos alucinantes de produção que botam em risco a vida de distintas formas. Longe de exceção, a morte desses três companheiros é a expressão mais trágica da realidade de milhões de trabalhadores em todo o nosso país. Contratados muitas vezes por agências de empregos, com metade do salário pela mesma função, submetendo-se a condições humilhantes com o “sonho” da efetivação, sem direitos elementares, e a cada semestre uma nova demissão após tanto lucro deixado para os patrões, e tudo passa como se fosse natural, apenas o “término de contrato”.

São esses os empregos criados nos últimos anos, dos quais o governo Lula tanto se vangloria, enquanto os capitalistas encheram os bolsos de lucros bilionários. Lula manteve e aprofundou o processo de terceirização e precarização do trabalho iniciado em governos anteriores e expandido pelo governo neoliberal de FHC (e no estado de SP, pelas décadas de PSDB à frente do governo), conquistando grandes aliados financeiros para seu governo e para a eleição de Dilma, ao custo do silêncio pela morte de trabalhadores como estes. No Brasil de Lula, do corte da cana, da limpeza terceirizada das Universidades, das carvoarias, do emprego temporário nas escolas e no telemarketing, das indústrias em que o lucro prevalece sobre a vida, do ritmo alucinante da produção capitalista, a morte é uma constante em nosso país. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, foram mais de 20.000 mortos por acidente de trabalho durante o governo Lula, uma média de 2.500 por ano (208 por mês). Para além do fato desse número ser maior, já que muitos casos são encobertos, como em locais em que o trabalho escravo ainda é mantido em nosso território, ocupamos a 4ª posição no ranking dos países com mais mortes por acidente de trabalho no mundo, atrás apenas de China, EUA e Rússia.

No Brasil do Pré-Sal, o país potência de Lula e agora de Dilma, enquanto grandes empresários lucram milhões com o apoio do BNDES e do governo, sobra para a juventude promessas sobre o seu futuro com as riquezas do pré-sal, enquanto na prática jovens de 25 anos como Valdemir morrem em petroquímicas. Os governantes são também diretamente responsáveis por essas mortes, já que são eles os que isentam de impostos, fazem empréstimos e aprovam leis que permitem essas condições de trabalho. Não podemos nos enganar pela hipocrisia e lágrimas de crocodilo dos políticos em momentos como este, como vimos no Chile, em que o presidente saiu à cena para se aproveitar da desgraça dos mineiros soterrados, tentando construir um cenário de “fatalidade” onde o que existe é um cenário de mortes diárias em condições absurdas de trabalho [2].

É preciso dizer também que tamanha brutalidade só é possível de ser mantida com a passividade e complacência da burocracia sindical governista (CUT, Força Sindical, CTB, etc.), que sustenta governos como o de Lula que implementam e mantêm leis que permitam que condições de trabalho que levem essas brutalidades ainda possam existir. Além disso, essa mesma burocracia é quem naturaliza a terceirização e a divisão dos trabalhadores, virando as costas aos trabalhadores com os menores salários e reforçando a divisão dos trabalhadores, acordando com as empresas constantes demissões. Encaram a brutalidade contra a vida operária em situações como essa como “mais uma fatalidade”, mantendo-se passivos frente a estes acontecimentos, quando muito fazendo açõe simbólicas, não organizando grandes campanhas que lutem pela punição e politizem e preparem a classe para grandes enfrentamentos contra os empresários e governos. Afinal, isso seria questionar sua própria prática política, aliados e fontes de financiamento.

Colocar de pé uma grande campanha pelo fim da precarização do trabalho

Necessitamos dar um exemplo na Região Metropolitana de Campinas (RMC) nesse momento. Saudamos a paralisação organizada pelo Sindicato dos Químicos de Campinas na última sexta-feira, mas é preciso que o Sindicato encabece uma grande campanha contra a precarização das condições de trabalho, em conjunto com demais sindicatos, organizações políticas, ativistas e entidades estudantis de nossa região.

Articular isso em conjunto com os trabalhadores da Fenix desde já é fator fundamental para organizar as medidas de forças como atos, piquetes e panfletagens para escancarar e tornar público esse fato, para tornar real a punição dos responsáveis.

É necessário por de pé uma comissão independente para apuração dos fatos, com representantes do Sindicato e trabalhadores da Fenix eleitos na base, que controle as obras para determinar realmente quando a planta pode voltar a funcionar. Não aceitamos a segurança do patrão que mata trabalhadores!

Colocar de pé uma grande campanha contra à precarização do trabalho em cada local de trabalho, organizando ativamente os trabalhadores e a juventude por essa luta é a melhor homenagem que podemos prestar a esses companheiros. Colocamos, desde já, todas as forças possíveis da LER-QI à disposição dessa tarefa.

- Punição aos donos da Fenix! Basta de mortes de trabalhadores!

 Confisco dos lucros da empresa para indenização das famílias e obras na fábrica, determinadas e controladas pelos trabalhadores!

 Por uma ampla campanha contra a precarização do trabalho!

[2Um exemplo bem claro disso é o que aconteceu no Chile, dias após o resgate. Logo em seguida à todo o show com a retirada dos mineiros e as declarações hipócritas do presidente Piñera, morreu um operário em uma outra mina da região. Dias após, funcionários da mesma mina em que trabalhavam os mineiros soterrados iniciaram uma greve e ato em frente à mina, reivindicando o salário atrasado; logicamente, ambas as notícias ocuparam os rodapés da Folha de São Paulo e demais jornais brasileiros, enquanto os grandes meios repetiam incansavelmente Piñera e Evo Morales, presidente da Bolívia, recebendo os operários soterrados.

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