Sexta 3 de Maio de 2024

Internacional

Sobre o aniversário da libertação de Auschwitz

28 Jan 2015 | Reproduzimos este artigo, publicado no La Verdad Obrera, (jornal do PTS, organização-irmã da LER-QI na Argentina), escrito quando se completavam 65 anos da libertação de Auschwitz, o maior campo de concentração usado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Qual o papel cumprido pelos monopólios e pela Igreja? Por que os países Aliados não denunciaram abertamente o genocídio durante a guerra? Entenda nesta nota.   |   comentários

Em 27 de janeiro se comemora o 65º aniversario da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau pelas tropas do Exército Vermelho, um dos capítulos mais horrorosos da história da humanidade como símbolo do genocídio perpetrado pelos nazistas.

Em 27 de janeiro se comemora o 65º aniversario da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau pelas tropas do Exército Vermelho, um dos capítulos mais horrorosos da história da humanidade como símbolo do genocídio perpetrado pelos nazistas.

Dos 6 milhões de judeus exterminados pelo regime nazista, mais de 1 milhão passou por Auschwitz, juntos a mais de 100 mil ciganos, homossexuais, deficientes e militantes comunistas e socialistas, que compartilharam o mesmo destino.
O grande pensador do Holocausto judeu, Primo Levi, apontava que Auschwitz representa a industrialização da morte a escalas inéditas, onde a vida humana não significava nada mais do que um número gravado no braço, à espera dos “banhos” das câmaras de gás tóxico, os fornos crematórios e as valas comuns. Essa aniquilação planificada incluía experimentos genéticos de esterilidade e eugenia (aperfeiçoamento da espécie humana mediante o critério racista de seleção) e até se servia dos cadáveres como matéria-prima para fornecer insumos à indústria. Quilômetros de cabelo humano foram compactados para a indústria têxtil. O ouro cravado nas dentaduras foi fundido para as reservas do Reich. As cinzas foram recicladas como fertilizantes.

Monopólios como IBM, Daimler Benz, IG Farben, Bayer, BMW, Krupp, Volkswagen, Siemens, etc. usaram o trabalho escravo para incrementar astronomicamente seus lucros. Efetivamente, os nazistas inauguraram oficialmente o extermínio metódico como regra da barbárie, tomando como antecedente o genocídio de 1,5 milhões de armênios em 1915 que fundou as bases do novo Estado turco. Mas Hitler superou os mais apocalípticos prognósticos das novelas de ficção, demonstrando o extremo a que podia chegar a natureza de um país imperialista, que buscava conquistar toda Europa para abrir novos mercados e estender a hegemonia de seus próprios interesses.

Sob o tétrico letreiro “arbeit macht frei” (o trabalho os libertará) que está na entrada do campo, o 65º aniversario congregou a dezenas de sobreviventes, ex-soldados soviéticos e diversas personalidades internacionais. Entre outras adesões, se destacou a enviada pelo papa Bento XVI, prestando condolências pelo “horror de crimes de uma crueldade sem precedentes”. Quanto cinismo! Este ex-integrante das juventudes hitleristas esconde o papel do papa Pio XII e do Vaticano, que deram seu apoio ao regime nazista, um antissemitismo latente que encontra expressão atualmente em Tadeusz Pieronek, o bispo de Cracóvia que afirmou descaradamente que “o Holocausto é uma invenção judaica”, sem desmerecer, desde já, aos bispos lefebvrianos da ultradireitista Comunidade São Pio X, entre eles Richard Williamson, que classificou como “mentiras a eliminação de 6 milhões de judeus, a existência de campos de concentração e câmaras de gás”. Se bem outros como Obama solicitaram “não esquecer jamais” a tragédia de Auschwitz, a realidade é que esqueceram a cumplicidade do mundo “livre e democrático” que abandonou os judeus nas mãos dos carrascos nazistas. Como declara o sobrevivente Jack Fuchs, “durante a guerra, os países Aliados sabiam muito bem da existência dos campos de concentração e de tudo que acontecia. Jamais bombardearam Auschwitz nem nenhum campo. Nem as linhas de trem que a eles conduziam. Auschwitz foi ignorado entre1941 e 1945. Voluntariamente ignorado. O objetivo dos países era ganhar a guerra” (Página12, 27/01/09). A fraude dos julgamentos de Nuremberg, onde foram condenados apenas 24 dirigentes nazistas, demonstrou o verdadeiro significado da consigna “nunca mais” na boca das potências vencedoras.

A ironia da história

A 65 anos de Auschwitz, os imperialismos vencedores impuseram uma visão enviesada do holocausto judeu em função de suas próprias necessidades. Naquele tempo, o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, fechou a fronteira “pois havia sido esgotada a cota de judeus”, forçando os refugiados que fugiam a voltar para a Europa, tal como aconteceu com milhares de judeus à bordo do cruzeiro São Luís, que não tiveram outra opção a não ser voltar aos seus países de origem, onde encontraram a morte nos campos de concentração. O cúmulo foi que Roosevelt reprimiu organizações operárias e populares que manifestavam sua solidariedade com os judeus em frente à embaixada alemã, segundo os interesses imediatos de uma burguesia imperialista “isolacionista”, que ainda não havia decidido por sua entrada na guerra. Do mesmo modo, Inglaterra e França também haviam fechado seus portos, enquanto celebravam com Hitler o acordo de Munique para “seguir vivendo tranquilos e felizes”, como declarou o primeiro ministro britânico Chamberlain.

Uma brincadeira criminosa contra os judeus que desde 1933 haviam sido privados da cidadania alemã pelas primeiras leis raciais de Nuremberg, ascendendo em 1938 ao pogrom [atentado contra os judeus] da Kristallnacht, quando as tropas de assalto e os gângsters nazistas produziram mais de 100 assassinatos, destruíram milhares de casas, negócios e templos, e deportaram compulsoriamente mais de 30.000 judeus aos campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen. A França proibiu a entrada de judeus para evitar que aparecessem “outros Herschel Grynszpan”, o jovem judeu polonês de 17 anos que feriu de morte em Paris o funcionário nazista Von Rath por vingança pela deportação de seus pais e de dezenas de milhares de judeus poloneses. Grynszpan foi defendido tenazmente por Leon Trotsky e pela Quarta Internacional, ainda que não compartilhassem o método do terrorismo individual, contra as calúnias da burocracia soviética e do PC francês, que o chamavam de “agente dos nazistas”.

Paradoxalmente, um mês antes do atentado, Stálin assinou um acordo de colaboração com Hitler, materializado no pacto Ribbentrop-Molotov, mediante o qual a Alemanha e a URSS anexavam e repartiam a Polônia, enquanto Stálin desarmava os soldados judeus poloneses para detê-los em campos de prisioneiros (Mark Dworzecki, Historia de la resistencia antinazi judía. Biblioteca Popular Judía del Congreso Judío Mundial). Foram estes elementos os que terminaram de convencer aos nazistas em 1942 para avançar decididamente para “a solução final da questão judaica”, com a perspectiva de eliminar os 11 milhões de judeus que viviam na Europa.

A ironia da historia é que as mesmas potências “democráticas” que abandonaram o destino dos judeus à arbitrariedade do monstro do nazismo, foram as que se valeram dos padecimentos inauditos desse povo oprimido para transformá-lo em um povo opressor guerreirista, mediante o estabelecimento do Estado de Israel, um Estado racista e colonialista apoiado sobre a expropriação e a limpeza étnica do povo palestino.

Um Estado financiado pelo imperialismo baseado em um exército de ocupação permanente para manter uma guerra eterna contra os povos árabes do Oriente Médio. Por isso a memória de Auschwitz vive em todos os povos oprimidos, e particularmente na resistência do povo palestino e seu legítimo direito à autodeterminação nacional.

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo