Sexta 3 de Maio de 2024

Juventude

Sobre o “I Colóquio Marx e os marxismos” na USP

08 Aug 2007   |   comentários

Tivemos há poucas semanas a grata satisfação de saber que, ao lado do já tradicional Colóquio Marx Engels, promovido na Unicamp pelo Cemarx, e ao lado das diversas atividades programadas nas universidades e pelos partidos e organizações de esquerda em torno das comemorações dos 90 anos da Revolução Russa (infelizmente até agora não acompanhadas de iniciativas semelhantes a partir das organizações sindicais, mesmo ali onde estas são dirigidas por correntes que se reivindicam marxistas), o segundo semestre deste ano será aberto, na cidade de São Paulo, pela realização do I Colóquio dedicado ao marxismo na USP, primeira atividade do gênero acontecida em semelhante terreno há pelo menos vários anos.

Que nessa que é a maior e mais prestigiosa universidade brasileira, e que vem sendo tão bem guardada pelas classes dominantes paulistas (através da mediação da burocracia acadêmica conservadora) como um bastião da reação ideológica contra o marxismo ”” que justamente aí tenha lugar semelhante iniciativa, que bons ares sopra sobre a atmosfera ideológica nos meios acadêmicos e intelectuais paulistas e, por extensão, brasileiros! Basta dizer que ainda no recente conflito das estaduais paulistas, cujo epicentro foi a reitoria da USP ocupada pelos estudantes e, em seguida, funcionários da universidade, que ainda neste grande processo de luta o clima ideológico envolvendo importantes fatias de seus setores mais combativos, longe do marxismo, este impregnado de preconceitos autonomistas, semi- (ou pseudo-) anarquistas, e antimarxistas em geral ”” basta dizê-lo para verificar o descompasso existente entre o momento relativamente favorável ao ressurgir de lutas políticas contra o estado de coisas vigente, por um lado, e a consciência teórica de significativas parcelas dos próprios protagonistas de tais lutas ”” e para ressaltar, claro como a água, o valioso papel que pode cumprir a realização de evento como o colóquio, a despeito do reduzido de suas proporção e do relativo improviso em sua preparação. Estão os organizadores desde já de parabéns, e convidados a somar forças, assim como nós mesmos somamos agora e somaremos no futuro para que esta seja apenas uma primeira de uma série de iniciativas em sentido semelhante. Iniciativas as quais, desde que garantido certo nível de profundidade e de sistematicidade, oxalá possam contribuir para reverter aquele descompasso e aquele clima intelectual ”” resíduos ambos de um momento histórico passado particularmente marcado pelas derrotas e pelo retrocesso do proletariado em todo mundo.

Dito isso, passamos à consideração crítica sobre o tema escolhido para emoldurar tão importante reunião, a saber, “Marx e os marxismos” . Evidentemente, se tal se faz necessário, é porque longe de ser um termo sem maiores conseqüências, a expressão “marxismos” remete à atmosfera ideológica dominante (anti-marxista, lembremos).

Ou será que exageramos? Ora, o pluralismo relativista se mostrou e segue se mostrando como uma das mais arrasadoras da reação apologética imperialista sobre o senso comum das massas, com destaque para as camadas sociais médias formadores da parte de leão da chamada “opinião pública” ”” e com profundas repercussões sobre a intelectualidade, tanto acadêmica quanto militante, incluídas suas parcelas mais à esquerda. O plural usado indevidamente após o termo marxismo, no melhor dos casos um descuido dificilmente justificável (dado que o combate às condições acima descritas faz parte das tarefas de todo marxista conseqüente), no pior uma concessão aberta à idéia ”” antimarxista por excelência”” de que esta doutrina estaria aberta a diversas “interpretações” equivalentes entre si em legitimidade.

Se aceitamos que à continuação da morte de seu fundador a concepção filosófica e histórica inaugurada por Karl Marx teria advindo uma “pluralidade de marxismos” , teríamos então uma negação completa da famosa visão de Lênin que a descrevia como “todo-poderosa, precisamente por ser una” , em favor de uma hermenêutica em que umas e outras “interpretações” do marxismo constituíram cada qual “um marxismo” próprio, e os diversos “marxismos” assim constituídos estariam plenos de disposição para a convivência pacífica (e inócua do ponto de vista do combate contra a exploração e a alienação da humanidade), uns ao lado dos outros. Tanto é assim, e com isso queremos ressaltar a isenção de “sectarismo” em nossa crítica, que semelhante vocabulário (“marxismos” ) não sobreveio diretamente após a morte de Marx ou de seu companheiro Engels, e nem muito menos. Tal maneira de expressão ganhou destaque, precisamente, em meio ao clima ideológico das duas últimas décadas do século que passou, clima de reação ideológica, de dissolução (relativista e irracionalista) de todas as certezas e de toda a busca sincera pela verdade, tempos em que o ceticismo e o cinismo intelectual prosperaram com os benfazejos nomes de “pluralismo” , “multiculturalismo” , etc.

Nossa intervenção no evento a partir da LER-QI, estará voltada a contribuir para que o elemento oposto possa ganhar destaque no curso de desenvolvimento do próprio evento. Por meio de uma nova geração de intelectuais marxistas em formação, atuaremos com comunicações sobre a história do marxismo e das organizações operárias no Brasil (duas) e na América Latina; sobre aspectos da colaboração revolucionária entre os fundadores do marxismo; sobre as vicissitudes que esta teve na pena de setores intelectuais ’os “marxistas ocidentais” - desligados do movimento operário (num momento em que a luta para dele não desligar-se pagava-se muitas vezes com a vida, como mostra a história do movimento trotskista e seu combate ao stalinismo então imperante em todo o mundo); sobre o marxismo contemporâneo na figura da corrente francesa que vem tentando se colocar novamente do ponto de vista teórico problemas da estratégia da revolução, bem como os erros contidos em tal colocação; entre outros trabalhos. Buscaremos assim dar conta, na medida de nossas forças ainda iniciais, dos diversos ângulos e temas abordados ao longo dos cinco dias do evento. Além disso, e sobretudo, buscaremos contribuir para a demonstração de que o corpo teórico do marxismo é de fato uno e integral, o que implica mais, e não menos, riqueza de conteúdo e possibilidades de aplicações.

Mais ainda, buscaremos ””tentando compensar a modéstia de nossas forças com a concentrações de esforços”” dar também nesse terreno um combate para forjar uma intelectualidade marxista militante e uma vanguarda operária consciente e capaz de usar as armas teóricas que nossa tradição nos legou através de mais de século e meio de lutas e de sofrimentos. Aqui, como em todos os demais terrenos, não esperamos obter êxitos imediatos ou no curto prazo ”” porém estamos convictos de que o cultivo de tais sementes não terá sido em vão, quando a mudança no estado de ânimo dos trabalhadores brasileiros puder se encontrar com os pequenos frutos de nosso trabalho militante tenaz e paciente.

A juventude da LER-QI nas mesas

O MARXISMO DAS INTERNACIONAIS
07 de agosto, terça-feira (14h) - Luiz Roberto Lauand (PUC-SP)
08 de agosto, quarta-feira (9h30) - Edison Urbano da Silva (PUC-SP)

MARXISMO OCIDENTAL
08 de agosto, quarta-feira (14h) - Natália Alfonso (PUC-SP)

MARXISMO NA AMÉRICA LATINA
10 de agosto, sexta-feira (9h30) - Daniel Tupinambá (USP), Bernardo
José da Câmara (IF-USP) e Simone Ishibashi (PUC-SP)

MARXISMO CONTEMPORÂNEO
10 de agosto, sexta-feira (14h) - Clarissa de Menezes (PUC-SP)

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