Domingo 5 de Maio de 2024

Questão negra

CLASSE TRABALHADORA, QUESTÃO NEGRA E OPRESSÃO RACIAL

Seminário do Sintusp: “A classe trabalhadora, a questão negra e a opressão racial” discute a necessidade de uma estratégia revolucionária para libertar os negros da opressão e da exploração

15 Nov 2012 | No dia 13/11 realizou-se no Sintusp o seminário “A classe trabalhadora, a questão negra e a opressão racial” com a presença de trabalhadores, estudantes e ativistas do movimento negro. Estiveram presentes Maria José Menezes, representando o Núcleo de Consciência Negra, fundado em 1987 e que está sob ataque da reitoria de Rodas e do governo, Wilson Silva representando o Quilombo Raça e Classe que atua na CSP-Conlutas e Pablito, diretor do Sintusp e militante da LER-QI.   |   comentários

Neste seminário, que ocorre em meio à maior crise econômica capitalista internacional desde 1929 e logo após a reeleição de Obama nos EUA, discutimos que ao contrário do que pensam inclusive setores do movimento negro, nem de longe isso significou uma melhora nas condições de vida dos negros, imigrantes e mulheres que votaram amplamente neste presidente, mas ao contrário, como estamos vendo na Europa, a solução buscada pelos capitalistas para manter seus lucros significa para os trabalhadores o aumento da opressão e da exploração e onde os negros, imigrantes, mulheres e jovens serão os primeiros setores atingidos, pagando pela crise com o aumento do desemprego, da miséria e do rebaixamento das condições de vida nos EUA e em outros países do mundo.

No Brasil, ainda que sequer represente o pleno atendimento de uma demanda mínima e elementar muito aquém das reivindicações histórias do movimento negro, a aprovação da lei que estabelece as cotas sociais e raciais pelo governo Dilma será comemorada na marcha oficial do dia 20 de novembro convocada por setores do movimento negro, pelo PT, PC do B, ao mesmo tempo em que os negros seguem sofrendo na condição de alvo prioritário em uma das maiores ofensivas repressivas da PM de São Paulo nos bairros, favelas e periferias a mando de Alckmin do PSDB.

Esta marcha ocorrem em meio à criação de um “convenio de cooperação” entre o Alckimin e o governo Dilma para levar a frente um suposto combate à criminalidade, uma verdadeira ocupação militar das favelas como São Remo e Paraisópolis, estendendo a São Paulo, com o apoio do prefeito Fernando Haddad, que se elegeu em aliança com Paulo Maluf, reconhecido pelo slogan “Rota na rua”, o que já ocorre no Rio de Janeiro onde as favelas foram militarizadas. Para aqueles que têm qualquer dúvida sobre o papel social da PM, confundindo-os inclusive com trabalhadores como os companheiros do PSTU que dirigem a CSP-Conlutas, esta mostra a cada manhã com um número novo de mortos, uma vez mais que seu motivo de existir é a manutenção da ordem social de exploração em que vivemos agindo como um braço armado a serviço de manter a “ordem” da propriedade privada dos meios de produção, dos interesses da classe dominante e da exploração, desemprego, do trabalho precário, milhares de mortes provocadas pelos acidentes de trabalho e da humilhação para a maioria do povo.

Ao contrário de uma democracia entre as raças, o que vimos durante o governo Lula, foi a ocupação militar do Haiti, um país negro, símbolo da única revolução escrava que a acabou com a escravidão e que hoje, depois de décadas de espoliação pela burguesia imperialista se tornou o pais mais pobre da América Latina, para não falar da imensa ascensão...do trabalho semi-escravo terceirizado e precarizado nas obras do PAC.

Mesmo institutos como o Núcleo de Estudos da Violência da USP, os analistas acadêmicos a serviço da classe dominante sabem e calculam que em um país tão profundamente desigual, em que a maior parte de seu povo vive em precárias condições de vida e de trabalho, em que os negros são parte dos setores mais explorados é inevitável que as contradições da sociedade de classes se expressem em explosões sociais e políticas, pois a resposta à repressão pode questionar diretamente o governo e o capitalismo. É por isso, que uma burguesia como a brasileira, espremida historicamente entre o imperialismo e a população negra, que compõem majoritariamente o proletariado brasileiro utiliza da repressão policial e a concessão de pequenas migalhas para conter esta imensa força social e o fantasma da revolução, pois têm consciência de que sem a repressão e o racismo, a luta do povo negro poderia passar ao questionamento do próprio capitalismo e à “desestabilização de regimes democráticos”.

Por tudo isso, é que ao contrário da idéia absurda de que debater a questão negra seria dividir a classe trabalhadora, é necessário entender que através da opressão racial a própria burguesia aumenta muitíssimo a exploração sobre os negros e, por esta via à classe trabalhadora como um todo, pois é rebaixando os salários e atacando as condições de vida dos setores mais explorados desta classe que a burguesia consegue rebaixar, dividir e enfraquecer a enorme classe trabalhadora brasileira, a expressão mais direta desta divisão ocorre na naturalização de que existam trabalhadores de 1ª. e 2ª. categoria, efetivos, temporários, terceirizados, e desempregados onde, como foi mostrado, se concentram a ampla maioria dos negros.

A única forma de responder a esta divisão imposta pelos patrões, pelo governo e corroborada até hoje pelas centrais sindicais, é levantar uma politica que unifique as fileiras da classe trabalhadora e que os sindicatos e organizações da classe operária assumam a defesa da equiparação dos direitos e salários para todos os trabalhadores terceirizados e precarizados, a divisão da jornada de trabalho sem redução dos salários e a unidade das fileiras operárias, assumindo para si a demanda dos setores mais explorados para derrotar os capitalistas e libertar o conjunto dos trabalhadores das correntes do trabalho assalariado. Isso significa que a perspectiva de atender as principais necessidades dos negros não pode existir por fora, como defendem setores do movimento negro, mas como uma tarefa fundamental da própria classe trabalhadora brasileira.

No que se refere às cotas raciais, que são uma justa demanda dos negros diante de uma educação superior tão elitista, debatemos que tal como foram formuladas até hoje pelo Estado não respondem às necessidades da maioria esmagadora dos negros que seguem vivendo em condições de miséria e, portanto, consideramos equivocado que o movimento negro concentrado todas as suas forças na luta pelas chamadas ações afirmativas e em uma estratégia de pressão ao governo para a implementação das cotas raciais nas universidades. Partimos de que as cotas raciais são demandas mínimas do povo negro que devem estar ligadas a um programa que levante o fim do vestibular, mais verbas para a educação e para que a utilização desta seja democraticamente decidida pelos estudantes, professores e trabalhadores a partir de organismos democráticos e de uma Estatuinte Livre e Soberana que dissolva o poder de organismos reacionários como o Conselho Universitário e a reitoria. Por outro lado esta demanda não pode estar desassociada e a estatização das universidades privadas, tampouco pode solucionar o problema do acesso à educação da maioria da juventude que está segregada do lado de fora das universidades brasileiras.

Em vários países a resposta da burguesia à crise já aponta com o aumento da exploração, do desemprego, das leis anti-imigração, fechando suas fronteiras nacionais, dividindo os trabalhadores e semeando o ódio entre nativos e estrangeiros para manter a dominação imperialista sobre as semi-colônias. Quando os negros se levantam contra sua exploração a história e fatos recentes como a greve dos mineiros na África do Sul, em que o governo e a policia promoveram o maior massacre desde o apartheid, demonstram que a burguesia responderá da forma mais reacionária com a guerra civil e brutal repressão. Esta greve demonstra que nesta época de decadência do capitalismo, as saídas reformistas não podem libertar os negros e tampouco acabar com o racismo e a miséria, e que a perspectiva em que precisamos nos preparar á para o confronto entre duas perspectivas estratégicas: a barbárie capitalista ou a revolução operária, socialista e internacional, a única perspectiva que pode dar uma saída progressista à barbárie capitalista.

Em países como o Brasil, que têm uma burguesia nascida no campo e submissa ao imperialismo as saídas reformistas apresentadas por partidos como o PSOL, que fala em socialismo e na prática faz coro com o PT e Dilma pedindo cooperação entre as policias para aprofundar a repressão policial, ou Marcelo Freixo que pede UPP´s “sociais” e em Belém fazem uma frente eleitoral com o apoio do PT e PDT, para não falar em Macapá que se elegeram com o apoio do PSDB, PPS e DEM, com sua campanha financiada pelas empresas estão ainda mais fadadas à falência e exige dos negros que compõem a maior parte da imensa classe trabalhadora brasileira uma estratégia fundamentada na independência de classe, na sua auto-organização para colocar de joelhos a classe dominante. Exige que os explorados, oprimidos e humilhados devem ser os maiores interessados em preparar a derrota do capitalismo e da burguesia imperialista através de uma saída operária e socialista que exproprie os capitalistas, contra a ditadura dos ricos imponha um governo operário e popular que planifique a produção a serviço dos interesses da classe trabalhadora e do povo pobre, assumindo um lugar destacado na revolução brasileira, pois como dizia Leon Trotsky, aqueles que mais sofreram com o velho são os que lutarão com mais força e abnegação pelo novo.

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