Palavra Operária

No próximo dia 20 de outubro, a experiência de 7 anos de gestão operária na antiga fábrica Zanon, hoje FaSinPat (Fábrica Sem Patrões), localizada em Neuquén na Argentina, volta a ser ameaçada pela justiça
burguesa. O Sindicato Ceramista de Neuquén (SOECN) lançou uma campanha internacional em defesa desta gestão operária e pela expropriação definitiva da fábrica, sem indenização, estatizando-a sob controle
operário. A campanha aqui no Brasil teve início com a adesão do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), que a aprovou numa plenária aberta com dezenas de diretores de base e que se comprometeu a levá-la
para a Conlutas, e começa a ganhar a adesão de algumas figuras importantes do meio intelectual como o teólogo Leonardo Boff e os professores Rago, Sonia Campaner Miguel Ferrari, Pedro Fassoni Arruda, Vera
Lúcia Vieira e Lúcio Flávio da PUC , Maria Orlando da Unesp, Claudia Mazzei Nogueira da UFSC , Ruy Braga da USP e Ricardo Antunes da Unicamp. Nós da LER -QI reforçamos o chamado a todas as organizações e
partidos de esquerda, de direitos humanos, intelectuais e figuras renomadas, entidades sindicais e estudantis, principalmente a Conlutas e a Conlute a impulsionar esta campanha.

7 anos de gestão operária

Algumas das experiências e conquistas em Zanon

Quando os operários de Zanon ocuparam a fábrica em defesa de seus empregos no final de 2001, em plena crise capitalista da Argentina, não imaginaram que esta ação marcaria para sempre a história do movimento operário. Como disse Raúl Godoy, trabalhador da fábrica e dirigente do PTS, “nossa luta em Zanon se resignifica. São lembranças do futuro. Hoje a crise está começando e os trabalhadores temos que nos preparar” .

A defesa da gestão operária ganha importância diferente neste cenário de crise capitalista. A burguesia cria sua riqueza a partir da exploração dos trabalhadores e descarrega suas crises nas costas destes mesmos trabalhadores. “As bandeiras de Zanon são um verdadeiro programa para os trabalhadores frente aos ataques que virão. O rechaço conseqüente contra os ataques; a convicção que a crise tem que ser paga pelos empresários que a provocaram e não os trabalhadores; a necessidade de abrir os livros de contabilidade se os patrões alegam crise; a coordenação efetiva; a unidade das fileiras operárias; e se há demissões ou fechamento de fábrica impor a produção sobre controle operário” [1].

Defender Zanon é levantar um programa operário para os futuros conflitos que se aproximam. Neste sentido, damos uma batalha por ampliar esta campanha no Brasil e difundir para as antigas e novas gerações de trabalhadores e estudantes as experiências e lições desta fábrica em Neuquén. Logo abaixo, enumeramos algumas destas conquistas, mas convidamos a todos a conhecer os textos que estão em nosso site e o filme Fasinpat que estamos lançando.

A independência de classe e a conquista de um sindicato classista

“O SOECN se orienta e baseia sua prática na luta de classes e sobre os princípios do sindicalismo classista, conservando sua independência do Estado e suas instituições, do governo e todas as organizações patronais. O SOECN reconhece que a classe operária não tem fronteiras.
Somos irmãos dos trabalhadores e os povos oprimidos da América Latina e o mundo (...) O SOECN leva uma luta conseqüente pelos legítimos interesses da classe trabalhadora e em aliança com os setores populares buscando elevar a consciência de classe dos trabalhadores e conquistar uma sociedade sem exploradores nem explorados.” (Estatuto do Sindicato Ceramista de Neuquén)

Assembléia soberana e a luta contra a burocracia sindical

Se os dirigentes não cumprem com seu mandato, são substituídos por outros companheiros na assembléia. Nela há liberdade para todas as opiniões e tendências que não defendam aos empresários. Os dirigentes ganham o mesmo salário que qualquer trabalhador e precisam trabalhar, salvo se uma assembléia geral determine liberá-los para tomar tarefas de tempo integral, em cujo caso não podem ficar mais de um mandato sem trabalhar. Só podem ser reeleitos uma vez, depois devem voltar à base.

Democracia Industrial

A partir das “Normas de Convivência de Zanon sob controle operário” , se garantiu a participação de cada companheiro no manejo da fábrica. Em cada setor os companheiros elegem um coordenador que é revogável. As questões sobre a gestão operária se entrecruzam com o apoio a outros conflitos, a discussão política, o que sucede do portão para fora. A instância máxima de resolução é a assembléia geral ou “jornada” , como eles a chamam: uma vez por mês se pára a produção e todos os operários, dos três turnos, se reúnem durante várias horas para debater e tomar as decisões mais importantes.

Unidade operária e coordenação

Desde a comissão interna luta-se pela unificação das fileiras operárias. Isso levou a por em pé a Coordenadora Regional do Alto Valle, que agrupava a juntas internas e delegados combativos, privados e estatais, piqueteiros e partidos de esquerda, convertida durante muito tempo num pólo alternativo à burocracia sindical da região. Os ceramistas têm como bandeira a coordenação operária, não só a nível regional senão também nacional.

O pacto operário-estudantil

Junto à comunidade universitária (estudantes e professores) se firmou um acordo que se tem efetivado na defesa da educação pública e da gestão operária. Este pacto operário-universitário tem permitido nutrir a gestão operária com médicos, psicólogos, contadores e outros profissionais provenientes da Universidade Nacional de Comahue, que tem posto seus conhecimentos a serviço dos trabalhadores.

Números da gestão operária

90 % de diminuição dos acidentes de trabalho
210 postos de trabalho criados
1.000 metros quadrados de cerâmicas doados por mês
370.000 metros quadrados produzido por mês

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