Sexta 3 de Maio de 2024

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Caso RCTV Venezuela

PSTU se alinha com Chavez... e fica contra Trotsky

07 Jun 2007 | Nenhum apoio à medida bonapartista de Chavez. Só a luta anticapitalista da classe trabalhadora em aliança com o povo pobre pode conquistar e garantir as liberdades democráticas.   |   comentários

O caso da RCTV, na Venezuela, em que Chavez não renovou a concessão da empresa de comunicação repercutiu em vários países. Aqui no Brasil, há posicionamentos de todo tipo. Todos falam em defesa das liberdades de imprensa e expressão. No Brasil, o paraíso dos monopólios privados de comunicação, onde Rede Globo, Bandeirantes, SBT e Record manipulam a informação num jogo capitalista regido por negociatas e corrupção em troca de concessões, a imprensa, e muito menos o Senado federal ’ antro de corruptos e onde as concessões de rádio e TV são liberadas ’ pode falar em liberdade de imprensa.

O PT, em nota de 4/06 de sua Secretaria de Relações Internacionais, coloca-se a favor da medida de Chavez e “em defesa da liberdade de expressão em geral, particularmente da liberdade de imprensa, motivo pelo qual nos opomos ao monopólio da comunicação por grandes empresas, que se utilizam de concessões públicas para a defesa dos interesses privados de uma minoria” . Este partido, que se tornou governo e agente direto dos “interesses privados de uma minoria” ’ os capitalistas ’, enlameado nos escândalos de corrupção, hipocritamente diz opor-se “ao monopólio da comunicação por grandes empresas” , escondendo suas negociatas com a Rede Globo e a Record (Igreja Universal) durante o governo Lula. Como o PT pode falar em “liberdade de expressão” sendo parte do governo Lula que propõe acabar com a principal forma de expressão política da classe trabalhadora (a maioria), ou seja, o direito de greve?

O mais espantoso foi ver que o PSTU, um partido que se diz trotskista e anti-chavista, está lado a lado com o PT ao colocar-se a reboque do governo Chavez, defendendo essa medida bonapartista. Com isso, colocou-se contra os ensinamentos de Trotsky (ver artigo Liberdade de Imprensa e Classe Operária). Valério Arcary, dirigente do PSTU e principal intelectual, em palestra na Ocupação da USP sobre “Socialismo no século XXI, Reforma ou Revolução” , declarou-se a favor da medida de Chavez contra a RCTV. Em nota no site do PSTU, seu correspondente na Venezuela, considera a medida “algo progressivo” e deixa claro que “se Lula resolvesse retirar a concessão do malufista Silvio Santos [...] seria uma medida importante que deveria ser aplaudida” , mas faltaria “acabar também com o sinal da Rede Globo” . Ou seja, o PSTU não apenas alinha-se com Chavez como propõe que medidas bonapartistas deste tipo seriam progressivas em qualquer governo burguês, inclusive o de Lula. Isso nada tem a ver com os ensinamentos de Trotsky nem com os interesses políticos da classe operária no combate à exploração capitalista, pois nesse sistema explorador não haverá liberdade de imprensa que não seja liberdade para a burguesia impor sua ideologia e atacar a classe operária e o povo pobre, e as medidas bonapartistas dos governos estarão à disposição dos capitalistas contra a liberdade de expressão das organizações operárias e populares (sindicatos, entidades estudantis, movimentos sociais) e os partidos de esquerda.

Neste governo Lula, a despeito da demagogia do PT, o que mais temos visto é a Polícia Federal fechando as rádios comunitárias e livres ’ ofensivamente chamadas rádios “piratas” ’, enquanto os grandes monopólios de comunicação e empresários ganham concessões de rádio e TV em todo o país, e os sindicatos, entidades estudantis e populares seguem amordaçados.

Por tudo isso não pudemos deixar sem resposta a intervenção de Valério Arcary, na USP, diante de vários estudantes em luta, que ouviam desse intelectual e dirigente do PSTU a defesa da medida bonapartista de Chavez e a acusação de que o "movimento estudantil da Venezuela é contra-revolucionário", rompendo os princípios do marxismo revolucionário em não se alinhar a reboque de nenhum governo burguês, sem contar o erro teórico de não compreender que o movimento estudantil é policlassista, e por isso sempre se divide em várias frações, que na verdade se alinham ou à classe operária ou á burguesia, e os revolucionários devem atuar nesse movimento para ligar-se a um setor que possa avançar suas relações com a classe operária, combatendo a influência burguesa entre os estudantes.

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