Segunda 6 de Maio de 2024

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PAC: o crescimento para todos... os burgueses

09 Feb 2007 | Para tentar “dividir o bolo” entre as alas da burguesia, e impedir que sua divisão facilite a mobilização do movimento de massas, Lula aplica uma tradicional receita: atacar os trabalhadores   |   comentários

A aplicação por parte de Lula de medidas económicas neoliberais ’ baseadas na valorização do real, na alta taxa de juros e nos superávits primários e metas de inflação ’ que contrariaram não só as expectativas da base social histórica de Lula e do PT no movimento operário e na intelectualidade, mas também de pesos pesados da burguesia, fez com que o crescimento da economia mundial beneficiasse de forma bastante desigual as diversas alas da burguesia brasileira. Alguns grandes burgueses, financeiros ou produtivos, nacionais e internacionais, estão satisfeitíssimos com o governo Lula e bateram recordes de lucro em 2006 [1], enquanto outros, não estão tão satisfeitos, pois amargam as conseqüências do baixo crescimento da economia.

Alguns grandes monopólios se beneficiam com a alta taxa de juros no Brasil, já que tomam seus empréstimos no exterior a um juro menor, se capitalizam no mercado de ações e com isso obtém vantagens em relação aos seus competidores que não conseguem empréstimos no estrangeiro. O real valorizado não tem prejudicado os exportadores de matéria prima, do agro-negócio e do aço principalmente, em vista da valorização de seus produtos no mercado mundial, além do que o real forte permite que setores monopólicos como, por exemplo, a Vale do Rio Doce, a Gerdau ou a Ambev, comprem inclusive empresas estrangeiras [2]. Esses setores, que investem no exterior e são capazes de produzir numa escala enorme com fábricas e investimentos dentro e fora do país, reduzindo seus custos, não se prejudicam tanto com o baixo crescimento, já que, como diz Rodolfo Riechert, sócio do banco Pactual, “Como o país não cresce, a solução é comprar o concorrente” .

Mas para tentar beneficiar e atender a todos os setores da burguesia, sem prejudicar os interesses de nenhum burguês, Lula avança num pacote de medidas de ataques aos trabalhadores. Congela o salário dos servidores públicos federais e limita o aumento do salário mínimo, o que significa um sinal para a patronal iniciar um processo de arrocho salarial nas negociações coletivas. Para o movimento de massas, é uma questão fundamental barrar estes ataques, que preparam o terreno para a aplicação das reformas da previdência e trabalhista. A CUT vai utilizar sua influencia sobre os trabalhadores para defender o governo e os interesses da burguesia. A Conlutas e a Intersindical devem arcar com a responsabilidade que lhes cabe, de dar uma resposta contundente ao pacote de Lula.

O PAC não será suficiente para agradar a todos

O objetivo fundamental das oito medidas provisórias e decretos e dos cinco projetos de lei que recebem o nome de PAC é realizar investimentos públicos que barateiem os custos de transporte e energia para o conjunto da indústria e com isso aumentar o crescimento do PIB e diminuir a brecha existente entre os setores burgueses, sem modificar a política macroeconómica.

Para avançar neste plano o governo Lula promete um investimento de cerca de 504 bilhões de reais em quatro anos em trezentas obras prioritárias. A proposta inicial é que 67,8 bilhão sejam financiados pelo orçamento do estado, enquanto 219,2 viriam das empresas estatais e 216,9 bilhões da iniciativa privada. Para atrair estes bilhões das grandes empresas o governo vai reduzir os impostos da construção civil, Tv digital, semicondu-tores, computadores e aço e promete, contradizendo as promessas de campanha, ampliar o número de conces-sões publicas para o setor privado sob a forma de PPPs (Parceria Público-Privada), leilões e concessões.

A divisão entre satisfeitos e insatis-feitos não acaba com o PAC, apesar de todos os esforços de Lula. Mesmo que as medidas em infra-estrutura atendam indiretamente a todos os setores, os grupos monopólicos da construção civil e do aço e os grandes bancos, que investem em ações e em títulos da divida, vão continuar sendo os principais beneficiados. Ressaltamos a posição de grandes empresários como Antonio Ermírio de Moraes, que opina que “na falta das reformas, só nos resta trabalhar em dobro e não esquecer o que é fundamental para chegar ao sucesso: qualidade nos produtos, seriedade no trabalho e humildade na conduta” . Ou do presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia, Luiz André Rico Vicente, que depois de reunião com o presidente saiu dizendo que “precisamos acabar com essa gente que só pensa em derrotismo” .

Lula ataca os trabalhadores. A burguesia pede mais

Ao contrário da posição positiva da maioria dos grandes monopólios, outros setores de peso da burguesia, apesar de não negarem “avanços” no PAC, o consi-deraram “tímido” . Os mesmos que exigem do governo uma maior redução de impostos, maior redução dos juros e uma desvalorização do real, são os que mais pressionam para incluir a Reforma da previdência como parte do PAC e iniciar o mais rápido possível a reforma Trabalhista. Todos concordam com estas medidas, mas para alguns elas são urgentíssimas.

Estes setores querem o mais rápido possível acabar com a aposentadoria por tempo de trabalho, aumentar a idade de aposentadoria, assim como desvincular os benefícios previdenciários do aumento do salário mínimo, para receber mais redução de impostos e mais empréstimos do governo federal e, com subsídios estatais, conseguir concorrer em melho-res condições com os grandes monopólios nacionais e internacionais.

No entanto, se enganam aqueles que acreditam que a divergência de Lula com estes setores é que o governo não quer atacar os trabalhadores e nem avançar nas medidas de privatização. A aprovação do super-simples ano passado já significou o inicio da flexibilização dos direitos trabalhistas. A aprovação da lei das PPPs, defendida por Lula, significou um avanço nas medidas de privatização e abriu caminho para grandes crimes como o do metró de São Paulo (ver matéria nesta edição).

Para levantar os mais de 60 bilhões de investimento público sem prejudicar o pagamento bilionário de juros da divida Lula vai atacar diretamente os trabalhadores. O governo pretende investir 5 bilhões no mínimo e 11 bilhões do máximo do Fundo de Garantia em investimentos conside-rados de risco. O governo pretende também impor limites ao aumento do salário mínimo, atrelando este ao aumento do PIB, o que vai significar um enorme confisco aos trabalhadores. O PAC já inicia a segunda reforma da previdência ao limitar o valor do auxilio-doença. Além disso, o governo vai atacar brutalmente os servidores públicos. O governo pretende impor um limite de gastos com a folha salarial do funcionalismo de 1,5% a mais do que inflação. Isso, porém, não significa aumento salarial, pelo contrário. O limite de aumento de 1,5% da folha de pagamentos acima da inflação será suficiente para cobrir, no máximo, as despesas com benefícios como o qüinqüênio e a sexta-parte. Isso quer dizer que nos próximos anos o funcionalismo terá aumentos de salário abaixo da inflação. Lula quer fazer o país crescer, mas quem paga a conta são os trabalhadores.

Dividir para reinar

O que está por trás das diferenças entre o governo Lula e setores monopólicos da burguesia brasileira por um lado e os setores “insatisfeitos” por outro, não é a necessidade ou não de atacar os trabalhadores. Isso não está em discussão. O que muda é como pretendem realizar estes ataques. Os setores burgueses que estão atrás na corrida por lucros, querem avançar nos ataques o mais rápido possível. Dependem disso para sobreviver frente à concorrência dos setores monopólicos. A tática de Lula e dos seus principais aliados burgueses, no entanto, é outra.

Pretendem avançar com as mesmas medidas, mas de forma mais lenta, atacando e derrotando primeiro os servidores públicos para depois avançar com a segunda reforma da previdência ’ a partir do grupo de trabalho criado pelo PAC ’ e com a reforma trabalhista. Com isso esperam manter a estabilidade política do país e evitar uma mobilização que unifique o conjunto do movimento operário.

O privatismo de Lula e a luta para barrar o PAC

Depois de transformar o discurso contra as privatizações numa bandeira de campanha em 2006, na primeira medida concreta do seu governo, Lula avança em uma série de medidas privatistas. Todo o PAC está orientado no sentido de atacar os trabalhadores e avançar na entrega de setores economicos estratégicos para o país aos grandes monopólios nacionais e internacionais.

“O PAC marca um esforço do governo em retomar a capacidade orientadora do Estado na questão do desenvolvimento brasileiro, especialmente no tocante ao incremento da taxa do investimento público e privado. Neste sentido, ele é positivo e merece ser saudado como tal, na medida em que abandona um discurso das vantagens do livre mercado e das políticas liberais, até pouco tempo predominante” [3]. Assim, o presidente da CUT marca sua posição de apoio ao PAC e de traição aos interesses dos trabalhadores.

Para desmasacar as mentiras do governo Lula, apoiadas e disseminadas pela CUT, cabe a Conlutas e a Intersindical organizar uma grande campanha na base de todos os sindicatos da CUT, exigindo medidas concretas de luta e desmascarando esses dirigentes sindicais pro-patronais e governistas.

Dizer, como faz a CUT, que é indispensável aumentar a taxa de investimento na economia, reivindicar como uma demanda em prol do crescimento a redução dos juros, e apoiar a aprovação das PPPs como fizeram o PT e o PCdoB no Congresso Nacional, significa transformar o movimento operário em massa de manobra para um setor da burguesia brasileira aumentar seus lucros.

É mais do que necessário impulsionar o movimento operário brasileiro para barrar o PAC. A Conlutas e a Intersindical deveriam levantar imediatamente uma grande campanha, na base de cada sindicato da CUT e da Força Sindical, exigindo medidas concretas de luta. É necessário imediatamente cercar de solidariedade a luta do funcionalismo publico de Alagoas e utiliza-la como um exemplo para todo o funcionalismo publico do país. A crise financeira dos estados abre a possibilidade de que mobilizações como está se desenvolvam em outras partes do país, a exemplo da luta que está sendo preparada pelas universidades de São Paulo contra o ataque de Serra, que possam se unificar com o funcionalismo publico federal. Todas as forças da Conlutas e da Intersindical devem ser postas a serviço de preparar concretamente esse caminho. O encontro nacional unificado que está sendo convocado para organizar a luta contra as reformas, deve ser convocado com a perspectiva imediata de unificar o funcionalismo estadual com o funcionalismo federal, preparando um grande mobilização nacional do setor contra os ataques combinados do governo federal e dos governos estaduais.

[1Em 2006 os grandes monopólios internacionais que exploram os trabalhadores brasileiros enviaram 16,354 bilhões de dólares em remessas de lucros para o exterior. Em 2002 haviam enviado 5,2 bilhões. As grandes empresas que têm ações na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) aumentaram seu lucro de 22 bilhões de reais em 2002, para 81 bilhões em 2006, um aumento de quase 400%.

[2A Vale do Rio Doce, por exemplo, comprou uma empresa canadense, a Inco, por 18 bilhões de dólares com dinheiro emprestado no exterior e o Itaú comprou a operação brasileira do Bankboston por 2,2 bilhões de dólares.

[3“O PAC e o desenvolvimento nacional“. Artigo do presidente nacional da CUT, Artur Henrique.

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