Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

Espanha

Os trabalhadores respondem ao ataque de Zapatero

10 Oct 2004   |   comentários

O Estado espanhol está sendo convulsionado pela luta dos trabalhadores dos estaleiros de Izar. Milhares de operários, sem serem convocados pelos “grandes chefes” sindicais, rechaçaram o plano de fechamento e demissões de Rodríguez Zapatero e da SEPI (Sociedade Estatal de Participações Industriais) [1], promovendo fortes combates contra a policia e a unidade de ação com a comunidade. Em 14/9 iniciou uma paralisação total durante 2 horas, estendendo-se às mobilizações, os enfrentamentos, bloqueios de rua e greves. No fechamento desta edição, “acontecia o terceiro dia de paralisação nos centros de toda Espanha com uma resposta massiva (...) tanto que, em San Fernando (Cádiz), toda a região manteve a greve geral” [2]. O governo e os dirigentes dos sindicatos, como a CCOO e a UGT [3], tentam pactuar uma trégua.

Os trabalhadores vêm lutando desde 14/09; mediante barricadas, protagonizando batalhas campais com a policia, respondendo com atiradeiras e defendendo-se com escudos nas oficinas. Em todas as regiões em que estão os estaleiros estatais há luta. Em Cádiz (Andalucía) - um fato histórico para a cidade - mais de 25.000 pessoas bloquearam a ponte que liga à península. Em Ferrol (Galicia), 3.000 trabalhadores resolveram após uma assembléia geral sair às ruas e rechaçar o fechamento das empresas. Em Sestao (Euskadi - País Basco), os operários da La Naval (1.172 operários) bloquearam estradas e as vias férreas, enfrentando a policia. Em Gijón (Asturias) centenas de operários marcharam contra o fechamento, e os estudantes se uniram às mobilizações. Em Manises (Valencia), Cartagena (Murcia) e Sevilha, a luta também percorre fábricas e ruas.

História e presente

Na Espanha quando se fala de estaleiros imediatamente se recorda das reestruturações do setor e a resistência operária. Desde 1977 vêm se “reestruturando” suas plantas industriais, passando de 40.000 operários a 11.000. Izar, a empresa que os agrupa, resultou da fusão em 2000 dos estaleiros militares e civis. Hoje, a SEPI coloca que a contratação de barcos em 2002 diminuiu 28% em relação a 2001; que os estaleiros espanhóis não podem competir com os coreanos de custos inferiores; e que a União Européia exige que o Estado devolva as ajudas ilegais [4]. Propõem dividir a indústria militar (que seria rentável) da industria civil para fechá-la ou vendê-la a um sócio capitalista e privatizá-la. Este tipo de proposta está à altura da pouca vontade e capacidade da burguesia espanhola, acostumada ao lucro rápido do turismo, ao amparo do Estado e ao roubo sistemático na América Latina.

A UE contra os operários da Espanha

“Há que respeitar a legalidade da UE!” , diz Zapatero e a SEPI, que não fazem outra coisa senão promover o ataque contra a classe operária como fizeram com a indústria pesqueira ou a indústria pesada do País Vasco. As burguesias da França e da Alemanha rompem os acordos da UE quando não lhes convêm, como se vê com o Pacto Fiscal [5]. Mas o governo exige que os trabalhadores os respeitemos. A UE proíbe que os Estados subvencionem as indústrias públicas. E no Governo de Aznar lhe deram uns 1100 milhões de euros. Agora a partir da UE pedem que os estaleiros devolvam esta quantidade. Esta é a UE que eles querem: a das multinacionais; a Europa do capital; a Europa imperialista. Sua “salvação” são as demissões e fechamentos. Na Espanha já houve privatização dos estaleiros, e agora só há um terço de trabalhadores e houve fechamentos, como os Estaleiros Euskalduna de Bilbao em 1984. A entrada na UE tem acelerado o processo, uma vez que se desindustrializaram localidades e regiões. Em Euskadi, o emprego industrial se reduziu de 45% da mão de obra em 1985 a 27% na atualidade [6]. Os trabalhadores já conhecem os métodos com que a burguesia espanhola resolve “os problemas” . Seja com governos de direita (Partido Popular de Aznar) ou de “esquerda” (PSOE) ambos descarregam sobre as costas dos trabalhadores. Os dirigentes da CCOO e UGT tratam de mostrar que Zapatero quer ajudar os trabalhadores: nada mais distante da realidade.

O governo e os sindicatos

O governo de Zapatero não faz outra coisa que continuar com o ajuste neoliberal de Aznar e seu antecessor Felipe González. Todos estes governos cumprem com os pactos feitos na UE. Para reduzir o déficit público têm privatizado e fechado fábricas. Enquanto isso, as reservas do Estado vão se esvaziando pela redução de impostos às empresas e aos ricos. A UE neoliberal e os governos da Espanha têm se encarregando durante os últimos 20 anos de arrancar as conquistas da classe operária. Os dirigentes dos sindicatos frente esta situação têm entregado uma atrás da outra. Chamando de vitórias as derrotas, entregam as conquistas. Eles se integraram ao plano neoliberal, e são uma casta enriquecida que só trata de favorecer os interesses do grande capital. Os dirigentes de sindicatos como CCOO que surgiram da luta da base operária contra o franquismo, são hoje em dia, marionetes dos governos e dos patrões.Os trabalhadores de Izar têm mostrado com sua luta que se pode superar a política desta nova burocracia sindical. Mas para terminar de superá-los se fará cada vez mais necessário derrubar esses dirigentes e pór novos dirigentes combativos, impor-lhes a greve geral de apoio em todo o Estado. Conquistar uma organização democrática para a luta baseada nas assembléias de fábrica, como as que estão fazendo. Desta maneira poderão encarar uma luta até o final contra o plano da SEPI e defender a indústria e seus postos de trabalho.

Guillermo Ferraro, de Barcelona

[1A SEPI é o organismo do Estado que administra empresas públicas. Durante estes anos privatizou, despediu e precarizou o trabalho. Na América Latina foi parte da rapina, como no caso das Aerolíneas Argentinas.

[2Diario El Mundo (Madrid), 30/09/04.

[3Comissões Operárias (CCOO) e União Geral de Trabalhadores (UGT).

[4Trata-se de subvenções que recebeu o Estado espanhol da UE sob Aznar, que chegam a uns 1.100 euros.

[5O Pacto de Estabilidade consiste em que cada nação não deve ter mais de 3% de déficit fiscal. Portugal o superou e foi castigado. A Alemanha, França e Itália o superaram substancialmente e não aconteceu nada. Agora foi mudado para favorecer a Alemanha e a França.

[6Segundo dados do Instituto Vasco de Estatística, Eustat, citado pelo jornal El País em sua edição de 19/09/04.

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