Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Para derrotar os empresários e seus políticos

Os trabalhadores precisam de um partido próprio

07 Jun 2007   |   comentários

Uma das maiores economias do mundo e um dos países mais ricos em recursos naturais, o Brasil (que junto com a Rússia, Ã ndia e China, conforma o BRIC, os novos destaques da economia mundial) é o pais das desigualdades, um dos que tem mais pobres na América Latina, um pais onde a diferença entre um punhado dos mais ricos e a maioria dos mais pobres segue sendo gigantesca. A sociedade capitalista no Brasil mostra claramente sua decadência. Muitos trabalhadores que produzem as riquezas do país são obrigados a morar nas favelas; os camponeses são expulsos das terras e perseguidos pelos bandos armados dos latifundiários, enquanto grandes porções de terra se mantêm improdutivas nas mãos dos especuladores. Temos crianças que vivem na mais completa miséria e são conhecidas mundialmente como os meninos de rua, sobre os quais se descarrega a brutalidade policial dia a dia. A maioria negra recebe os menores salários e vive nas piores condições, mostrando que o rascismo que a burguesia herdou dos velhos senhores de escravos pemanece mais vivo do que nunca.

Uma desigualdade social que vai se aprofundando também no que respeita à classe operária. Em 2002, último ano de FHC, mesmo com aquela crise económica os capitalistas ’ que repesentam algo como 1% da população nacional ’ se favoreceram e concentraram 54% da renda nacional, e os trabalhadores ’ a imensa maioria ’ ficaram com apenas 46%. No primeiro ano de Lula, os trabalhadores perderam ainda mais do que na época de FHC. A diferença entre a renda dos capitalistas e a dos trabalhadores foi a maior desde 1990, com os trabalhadores ficando com apenas 45,3%, enquanto os patrões abocanhavam 54,7%.

Nas últimas semanas, os Congressistas, ao mesmo tempo em que respondiam mais uma vez às acusações de corrupção, ainda tiveram suficiente cara de pau para aprovar mais um aumento salarial, de 28,5% para os próprios senadores, deputados, ministros, presidente e vice-presidente. Não bastasse isso, em um almoço servido na casa do senador e presidente do PSDB Tasso Jereissati, foi armado um grande acordão para manter Renan Calheiros na presidência do Senado, depois de ter sido descoberto que ele recebia dinheiro da construtora Mendes Júnior em troca de liberações de verba. Como convidados, importantes senadores representantes do PSDB e do DEM (ex. PFL), pela “oposição” , e senadores do PT e do PMDB, representando os governistas.

Todos os exploradores, ainda que disputem entre si a porção do lucro advindo da exploração dos trabalhadores e que estabeleçam diferentes níveis de relação com as empresas imperialistas, estão juntos quando se trata de conspirar contra os interesses dos trabalhadores e do povo pobre. Seja com Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique ou Lula, seja no governo do PT ou do PSDB, com militares e civis, são os mesmos grandes empresários, banqueiros, industriais e “investidores internacionais” que dão as cartas na política nacional. Apesar das disputas eleitorais, das disputas por cargos e emendas no orçamento, na realidade todos os grandes partidos do país podem ser considerados frações de um único “partido” dos exploradores.

Essa classe exploradora, a burguesia brasileira, é uma das mais importantes do continente, e ainda que trate de tirar vantagens pela sua posição privilegiada é uma classe completamente antinacional. Isso se demonstra no triste papel de agente do imperialismo norte-americano que cumpre, por exemplo enviando tropas ao Haití.

Essa é sua sociedade, esse é seu modelo de país, esse é seu sistema.

Os trabalhadores necessitam seu próprio partido para impor sua própia saída

Porém, no Brasil não existem só os empresários da Fiep e os grandes donos de terras. Assim como tem uma grande burguesia também tem um grande proletariado, que se colocou várias vezes no centro da vida política nacional.

Nosso movimento operário diversas vezes na sua história se rebelou contra o poder da burguesia e a opressão imperialista e se organizou em partido de massas. Na década de 60 os trabalhadores protagonizaram um ascenso revolucionário que chegou inclusive a produzir divisões nas forças armadas e ameaçar o poder da burguesia, mas finalmente acabou traído pelo Partido Comunista que se transformou no partido que dirigia a maioria dos trabalhadores ao longo das décadas de 40 e 50. O Partido Comunista se subordinou a Jango e negou-se a lutar pelo poder, se negando a formar grupos de auto-defesa contra a extrema-direita e a exigir a entrega de armas aos trabalhadores para combater o golpe.

Mas novamente, no final da década de 70, os trabalhadores que se levantavam primero contra a opressão nas fábricas foram se colocando contra a ditadura militar, e enxergaram a necessidade de construir um novo partido: o Partido de Trabalhadores. E conseguiram. Em um combativo congresso metalúrgico votaram a necessidade do partido, que em pouco tempo se converteria no Partido de Trabalhadores mais importante da América Latina. Porém, esta primeira experiência do jovem e concentrado proletariado do ABC nascia com uma debilidade: a base operária e a vanguarda classista foram divididas nos dois processos que deram origem ao PT e a CUT. O grupo de Lula, desde o início fez de tudo para que os trabalhadores que davam suas vidas nas grandes greves de finais da década de 70 não tivessem peso nem controlassem o próprio partido que estavam criando. Não é à-toa que a CUT, que foi criada depois do PT, não tivesse nenhuma relação orgânica com este. Nessa divisão entre sindicato e partido coube aos trabalhadores e seus sindicatos combativos organizar as greves por salário e demais reivindicações, e à cúpula do PT, “fazer política” . Lula e seus aliados na direção do PT (os setores mais conciliadores e menos combativos) prepararam conscientemente essa divisão para ter as mãos livres no comando do partido, e manter o ascenso operário subordinado à política de “transição pactuada” , negociada entre as direções burguesas do MDB e com setores militares e da Arena. Tanto é assim que entre as reivindicações políticas não estava “a queda da dictadura” e sim eleições gerais, libertade de expresão e anistia “livre, geral e irrestrita” ; isto é, defediam anistiar tanto os presos políticos como os torturadores do regime militar. Defendiam um programa democrático burgues, com o objetivo de se conformar como ala esquerda da democracia dos ricos que estava sendo montado através de um pacto entre a burguesia democratica e setores do exército para substituir a ditadura militar. Ao mesmo tempo que mantinha um perfil classista, que nas eleições para governador em 82 se expressou na consigna “trabalhador vota em trabalhador” . Hoje o PT, que nasceu do esforço de centenas de milhares de trabalhadores para participar da vida política, se transformou em mais um partido a serviço dos exploradores. Por isso a classe operária está novamente frente à necessidade de pór em pé um novo partido que defenda seus intereses até o final, e para isso tem que tirar as lições de suas experiências anteriores.

Mas como está a classe operária hoje? Ao contrário do que aconteceu em 2005, no momento em que explodiam denúncias de corrupção, os trabalhadores não estão calados. Em todo o país setores do funcionalismo publico, do movimento de trabalhadores sem terra e do operariado industrial estão em luta por suas reivindicações e contra os ataques do governo federal e dos governos estaduais, com a greve dos estudantes e funcionários das universidades que enfrentam o decretos do governo de Serra se constituindo como a vanguarda do processo.

Mas ainda que estas lutas sejam necessárias, e inclusive se tornem políticas, como a dos universitários, quando elas acabam o poder segue nas mesmas mãos.
Para derrotar a união que os partidos da burguesia conformam contra nós, precisamos construir um grande partido operário, um instrumento político para a luta dos trabalhadores, que leve até o fim a tarefa de unificar politicamente a maioria da classe operária, para que esta possa dirigir o conjunto dos explorados numa luta comum para terminar com o poder dos exploradores. E as lições da experiência do PT nos ensinam que esse partido não pode se manter nos marcos da democracia burguesa (uma verdadeira ditadura do capital) e nem se adaptar à política dos setores burgueses oposicionistas, se quiser ser capaz de levar até o fim a luta contra a exploração capitalista e por um governo dos trabalhadores, camponeses e povo pobre.

Nós da LER-QI, lutamos pela construção de um partido revolucionário que seja parte da reconstrução da IV Internacional.Sabemos que esse partido, do qual a classe operária necessita não será resultado do mero crescimento evolutivo nem da LER-QI nem mesmo do PSTU.

Por isso, chamamos os trabalhadores a construir seu propio partido. Nós lutaremos em seu interior para que adote desde o início um programa capaz de levar a luta dos trabalhadores à conquista do poder.

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