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Internacional

Os ataques do Governo alemão à greve dos maquinistas

14 Nov 2014   |   comentários

Na Alemanha, centro imperialista visto por muitos como o “vencedor” da crise, acontecem poucas greves que tenham se tornado um verdadeiro assunto de Estado. As direções burocráticas dos sindicatos fazem todo o necessário para que as lutas operárias não fiquem fora de controle.

Na Alemanha, centro imperialista visto por muitos como o “vencedor” da crise, acontecem poucas greves que tenham se tornado um verdadeiro assunto de Estado. As direções burocráticas dos sindicatos fazem todo o necessário para que as lutas operárias não fiquem fora de controle. Mas a atual greve de maquinistas e as respostas por parte do governo, dos partidos do regime e dos meios de comunicação, mostram que algo está mudando na luta de classes na Alemanha.

A entrada dos condutores de trem em greve, organizados no Sindicato de Condutores de trens Alemães (GDL, de acordo com as siglas em alemão), se deve em parte à competição entre dois sindicatos: o GDL e o Sindicato de Ferroviários e de Transporte (EVG, de acordo com as siglas em alemão).

O EVG forma parte de um grande aparato burocrático da Confederação Alemã de Sindicatos (DGB, de acordo com as siglas em alemão) enquanto o GDL se encontra por fora do mesmo, ainda que em termos gerais não seja menos burocrático.
No passado, o GDL costumava representar apenas os condutores de trens, mas recentemente está buscando representar o conjunto dos trabalhadores da ex empresa estatal Deutsche Bahn (Ferrovia Alemã, DB), o que está causando fortes tensões com o EVG. Não só porque estão competindo diretamente pelas filiações, mas também porque questiona a lógica atualmente conciliadora dos sindicatos da DGB. Enquanto isso, tanto a empresa DB alimenta o fogo, se negando a negociar com o GDL sobre um acordo coletivo que abrangeria mais profissões que apenas os condutores de trens.

Por enquanto, o GDL tem, neste conflito, organizado várias “greves de alerta” e duas paralisações completas, a última de três dias que terminou no sábado passado. Inicialmente, essa paralisação havia sido anunciada para durar cinco dias, coincidindo com os atos de Estado pelo 25º aniversário da queda do Muro de Berlin em 9/11 e sendo a greve mais longa da história da categoria.

Houve uma campanha midiática feroz contra o GDL na qual tomou parte o conjunto da imprensa burguesa, o governo alemão, todos os partidos do regime (inclusive figuras públicas do Partido da esquerda, o Die Link, ainda que com um discurso mais ambíguo) e grande parte dos sindicatos da DGB. Como resposta, o dirigente do GDL, Horst Weselsky, acabou com a greve ao final de três dias em um “gesto de conciliação”, como disse, para que os festejos do dia 9/11 não fossem comprometidos.

Ainda assim, se esperam mais jornadas de greve, porque o conflito está longe de chegar a uma solução.

A greve do GDL sai fora da lógica comum de greves na Alemanha fundamentalmente por duas razões. Por um lado, a versão burocráticas da consigna de “sindicato único” levou a que comumente haja apenas um sindicato por categoria, sem a menor discussão política ou estratégica em seu seio. No caso do sindicato GDL, que se encontra por fora da Confederação DGB, o sindicato EVG é um competidor direto, e por isso a própria DGB também se colocou como parte da campanha midiática contra a greve. Mas essa competência também leva a que o GDL se mostre como ator ofensivo e combativo para não perder filiados.

Por outro lado, o conflito se coloca no marco de uma discussão na classe dominante alemã que começou ao ano de 2012 quando a Corte Suprema alemã renunciou ao princípio de que em uma empresa só poderia valer uma filiação coletiva.
Desde então, sindicatos por fora da Confederação DGB tem feito tudo o que é possível para estender sua área de influência. Em geral são sindicatos menores e submetidos a mais pressão pela base. Tendo que legitimar sua existência por fora da DGB, esses sindicatos se apresentam como muito mais combativos.

Em sua última greve (em 2007), o sindicato GDL exigiu um aumento salarial de 30%, conseguindo finalmente os 11%, taxa altíssima comparada com os resultados usuais de lutas salariais na Alemanha. Esse nível mais alto de combatividade está cada vez mais questionando as práticas de conciliação de classes que a burocracia sindical da DGB se acostumou a ter.

Por isso o governo alemão lançou um projeto de restabelecer pela lei o princípio de “uma empresa, uma filiação”, na prática cortando o direito de greve daqueles sindicatos que se encontram fora do convênio. Essa questão está se tornando cada vez mais urgente para a burguesia alemã devido aos insipientes sinais de que a crise econômica está finalmente chegando à Alemanha.

A campanha midiática contra a greve do GDL mostra que não se trata somente de um conflito sindical, mas de um conflito político que coloca em questão a estratégia de conciliação de classes dos aparatos sindicais. Se trata de um ataque preventivo para erradicar os sinais de um insipiente aumento dos conflitos trabalhistas na Alemanha. O resultado final da greve – qualquer que seja – será, portanto, um sinal para toda a classe operária na Alemanha. Se é possível lutar e ganhar, ou se com outro resultado, a campanha “por cima” e o papel nefasto das direções sindicais conciliadores da DGB inibiram o ascenso da luta operária neste centro imperialista.

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