Sábado 4 de Maio de 2024

Partido

ATO EM HOMENAGEM A LEON TROTSKY

"O trotskismo como programa vivo para que os trabalhadores avancem a consciência da tomada do poder "

28 Sep 2010   |   comentários

Companheiras e companheiros, camaradas:

Finalizando este ato, queria voltar a falar sobre a importância histórica do legado de Trotsky hoje, e do significado especial que tem este ato que estamos realizando.

Quando falamos em Trotsky, quando homenageamos esse grande revolucionário, não estamos apenas fazendo justiça à sua enorme envergadura como teórico – capaz de prever, doze anos antes, a dinâmica fundamental que teria a revolução socialista na Rússia –, nem como agitador revolucionário – eleito presidente do Soviete de Petrogrado na revolução de 1905, com apenas 26 anos.

Também não nos limitamos a reivindicar o seu papel na vitória da maior revolução que o mundo já testemunhou – a Revolução Russa de Outubro de 1917, quando Trotsky, após assimilar a teoria de partido de Lênin, combateu a seu lado para a vitória.

Estamos também reivindicando, através de seu legado, a continuidade com o que de mais alto o movimento operário mundial conseguiu acumular em matéria de experiência e consciência revolucionária. Afinal, foi a Trotsky que coube, após a morte de Lênin em 1924, manter a continuidade revolucionária do marxismo. Foi ele quem combateu a reação stalinista, que usurpou o nome da revolução russa para favorecer uma camada privilegiada cada vez mais separada das massas, e cada vez mais violenta nos meios usados para defender seus privilégios de casta. Que organizou o combate à burocracia, desde os primeiros campos de concentração na URSS stalinizada, até os grandes combates às políticas traidoras com que os stalinistas afogaram os distintos processos revolucionários que antecederam a II Guerra Mundial, em países como a Alemanha ou a Espanha... E que lançou a IV Internacional, primeiro como ideia, após a capitulação do PC alemão diante de Hitler em 1933; e depois como organização independente em 1938, diante da iminência de uma nova guerra imperialista. Sem o papel estratégico que Trotsky desempenhou nesse período, até seu assassinato em 1940 – friamente calculado por Stalin como parte de seu plano para impedir novas revoluções proletárias vitoriosas no marco da II Guerra – sem o trabalho teórico, político e organizativo dirigido por ele, hoje estaríamos seguramente numa condição muito pior, sem guia para enfrentar os novos tempos que a crise capitalista está abrindo.

Mas eu também quero aproveitar esta ocasião para falar do significado especial que tem para nós da LER-QI, o fato de estarmos realizando aqui, neste sindicato, na Praça da República, um ato homenagear Trotsky e a IV Internacional , 70 anos depois de seu assassinato.

Não poderíamos terminar este ato sem lembrar que, aqui mesmo, a poucas quadras de onde estamos, o brado pela IV Internacional já ecoou entre a vanguarda de um movimento operário que iniciava um importante ascenso de lutas.

Por mais que esta história esteja hoje esquecida, temos que lembrar que a palavra de ordem pela construção da IV Internacional chegou a ser lançada publicamente aqui mesmo no centro de São Paulo, num ato de 1º de Maio na Praça da Sé, nos idos dos anos 1930, por militantes revolucionários que, na mesma época construíram com outras organizações operárias a Frente Única Antifascista, que combateu e dispersou os integralistas de armas na mão. Faz muitos anos que a LER-QI reencontrou a história daquela primeira geração de trotskistas, e reclamou o caráter revolucionário de sua atuação teórica e prática, considerando-se herdeira daquela tradição.

É certo que, nas décadas posteriores, aquela primeira direção se mostrou débil diante dos desafios postos pela realidade da II guerra mundial; e também é certo que as gerações seguintes de trotskistas brasileiros se formaram já em outra tradição, que se afastava do núcleo revolucionário deixado por Trotsky, como mencionaram os camaradas que me antecederam.

Mas a tradição iniciada por aqueles pioneiros trotskistas, como Mário Pedrosa, Lívio Xavier, Fulvio Abramo ou João da Costa Pimenta, também faz parte da continuidade revolucionária que é preciso resgatar, e que contribui para a formação das novas gerações de revolucionários como os que estamos aqui hoje.

Queria finalizar com algumas palavras sobre como o legado deixado por Leon Trotsky, sem perder nada de sua dimensão universal, possui uma força especial para o nosso país.

Nós tivemos em nosso país a grande contradição de que, tendo uma das burguesias mais reacionárias, que se formou a partir de uma classe de senhores de escravos, de latifundiários escravistas, que se ligou desde cedo ao imperialismo e aprendeu a ser sócia menor deste na exploração do próprio povo – ao ponto de que hoje é sensível como o Brasil é, em toda a América Latina, um dos países onde menos existe um sentimento anti-ianque espontâneo nas massas – nós temos a contradição, então, de que num país como uma burguesia dessas, e que depois dos anos 1930, e ainda mais depois dos anos 1950, possuía uma classe operária relativamente poderosa... temos a contradição de que a visão etapista da revolução, que insistia sempre em procurar uma inexistente “burguesia progressista”, essa visão foi hegemônica na esquerda brasileira durante a maior parte do século vinte, em que o velho PCB stalinista, sob a figura um tanto mítica de Luis Carlos Prestes, foi a grande referência para as massas até depois do golpe de 64.

Aliás, por pelo menos duas vezes na nossa história, a insistência da direção stalinista da classe operária em apostar na conciliação de classes levou a golpes sinistros: uma vez com Getúlio Vargas, nos anos 1930, quando a política ao mesmo tempo conciliadora e aventureira da ANL deu as condições para a implantação do Estado Novo; outra vez com o golpe de 64, que decapitou o maior processo revolucionário da nossa história, onde se levantaram em massa os trabalhadores, os camponeses e a base das forças armadas.

Quando, especialmente depois do golpe de 64, a velha interpretação etapista entrou definitivamente em crise, a própria intelectualidade acadêmica se ocupou (inclusive os setores burgueses mais lúcidos, como um FHC) de incorporar as ferramentas teóricas deixadas por Trotsky em sua análise da Rússia – a teoria do desenvolvimento desigual e combinado – para buscar uma compreensão mais científica do passado e da formação brasileira.

Mas o que esses setores eram incapazes de levar adiante é o fato de que aquelas análises de Trotsky sobre a Rússia não paravam em declarar que o desenvolvimento do capitalismo é desigual e combinado – elas avançavam para mostrar que essa é a base para os saltos dialéticos, para a “vantagem do atraso”, para a compressão das etapas históricas, como se viu na revolução russa.

Assim como fizeram com Marx, os intelectuais burgueses e pequeno burgueses buscaram mutilar o pensamento de Trotsky, para usá-lo como um frio instrumento de análise da realidade brasileira. (E mesmo assim, mutilado até a caricatura, como esse pensamento se mostrou útil e vigoroso!)

Apenas os revolucionários proletários é que podemos restabelecer a integridade do legado de Trotsky, onde o desenvolvimento desigual e combinado se completa com a teoria da revolução permanente e com a síntese do Programa de transição.

Restabelecer a integridade do legado de Trotsky, elaborando de forma viva e criativa uma nova análise que veja o desenvolvimento desigual e combinado tal como efetivamente se dá hoje na realidade brasileira em conexão com o mundo que avança para uma nova etapa de crises, guerras e revoluções... Elaborando, por exemplo, sobre o desenvolvimento desigual e combinado da “reprimarização da economia” com a tecnologia de ponta... do trabalho escravo no campo com a pressão diplomática para ganhar o mercado de etanol nos EUA... e tantos outros exemplos

Apenas os revolucionários da classe operária é que podemos elaborar de forma viva a estratégia proletária independente que se desprende da teoria-programa da revolução permanente; que em nosso país significa pensar não só a hegemonia proletária na aliança de classe com o campesinato e com os pobres urbanos, mas também valorizar corretamente o papel histórico da “revolução negra” no interior da revolução proletária...

Apenas nós, e por isso nos cabe essa tarefa, é que podemos elaborar com sensibilidade e lucidez revolucionária o programa vivo para que os trabalhadores cheguem à consciência da necessidade de tomar o poder, superando o choque inevitável que virá entre a consciência gradualista que se formou nos últimos anos, e os duros golpes e desafios que a crise irá impor.

A FT, que se formou numa etapa defensiva, nadando contra a corrente, se prepara hoje para dar passos audazes na fusão com a vanguarda operária e juvenil, na confluência com os setores que avancem à esquerda em ruptura com as organizações que ainda não superaram a mentalidade do pós-guerra... E nessa perspectiva, se prepara para construir fortes partidos marxistas revolucionários e para contribuir na reconstrução do partido mundial da revolução socialista, que para nós é a IV Internacional de Leon Trotsky.

Viva Leon Trotsky!

Viva a IV Internacional!

Viva a classe operária e o comunismo!

Intervenção de Edison Salles, diretor da revista Iskra e dirigente da LER-QI

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