Sábado 27 de Abril de 2024

Internacional

O IMPERIALISMO E O ENFRENTAMENTO ENTRE AS DUAS CORÉIAS

O que há detrás das tensões militares?

26 Nov 2010   |   comentários

O enfrentamento na ilha Yeonpyeong em 23 de novembro foi o mais grave em uma longa história de choques fronteiriços entre ambos os Estados. A ilha está na região limítrofe entre as duas Coréias e na região já houve 3 incidentes desde 1999. A Coréia do Sul tem ali uma base militar e realizava manobras quando estourou a troca de tiros. A maior parte da imprensa apresenta os fatos como uma provocação norte-coreana, mas segundo o analista Rafael Poch: “Os sul-coreanos dispararam contra o que a Coréia do Norte apresenta como ‘suas águas territoriais’, sobre as 13:00. O bombardeio norte-coreano, justificado por Pyongyang como ‘resposta à provocação sul-coreana’ começou às 14:34 e acabou às 14:55. (...) os sul-coreanos responderam bombardeando a costa norte-coreana. Uma segunda ofensiva norte-coreana foi disparada às 15:10, seguida de uma resposta sul-coreana...” Pelo lado Sul houve 4 mortos e uns 25 feridos militares e civis, além de fortes danos materiais. Não se sabem as baixas e os danos no Norte.

O presidente sul-coreano Lee Myung-bak ameaçou responder com uma “forte represália” qualificando o sucedido como uma “clara violação do armistício” de 1953 pela Coréia do Norte.

Os EUA, que tem 28.500 homens instalados em bases no Sul, respaldaram Seul e enviaram um porta-aviões nuclear, ratificando o exercício aeronaval conjunto a ser iniciado em 28/11. Obama e Lee afirmaram que “ainda que estas manobras estavam programadas, demonstram a fortaleza de nossa aliança. Terão o caráter dissuasivo e defensivo”, para indicar que não optaram por agora por um ataque militar.

A China, por sua vez, que apóia a Coréia do Norte, exortou “fortemente a ambas as partes a que conservem a calma e a moderação, e a que tenham negociações o mais rápido possível para impedir que incidentes similares ocorram novamente”.

Escalada de incidentes

Com este episódio se torna extremamente tensa a relação entre o Sul e o Norte. A Coréia do Sul está desferindo represálias comerciais, e reforçou a concentração militar, apelando ao Conselho de Segurança da ONU, enquanto a Coréia do Norte respondeu com a interrupção de comunicações, denunciando o Tratado de Não Agressão de 1991.

Detrás destes incidentes estão a tentativa do imperialismo e seu aliado, o regime de Seul de impor o desmantelamento do programa nuclear da Coréia do Norte, e eventualmente obter uma plena capitulação de seus governantes, assim como as pressões do regime do Norte para a reabertura de negociações.

A política da Coréia do Norte

O regime de Pyongyang está em xeque pelas dificuldades econômicas e o bloqueio ianque, ao mesmo tempo em que utiliza o modesto o poder nuclear recentemente obtido como segurança contra uma eventual agressão imperialista e como cartada para uma negociação.

Há alguns dias um cientista norte-americano visitou suas modernas instalações de enriquecimento de urânio, autorizada pelo governo norte-coreano que visava uma demonstração de forças. As dificuldades de Washington ocupado em múltiplas frentes internacionais e que pareceu se mostrar cauteloso no apoio a Seul em ocasião do incidente naval de março, alentaram a Coréia do Norte a dar respostas mais duras nos incidentes recentes.

Além disso, um objetivo interno deste posicionamento parece ser facilitar a transição de poder, pois o presidente Kim Jong-Il deseja consolidar como “herdeiro” seu filho menos Kim Jong-Um e um clima de patriotismo marcado pela tensão entre as Coréias que o ajudaria a alinhar o Exército e o Partido detrás de seu projeto.

A Coréia e a geopolítica ianque em tempos de crise capitalista

As repercussões da crise coreana se fizeram sentir em nível internacional: junto com a crise da Irlanda empurraram uma nova queda das bolsas do mundo, e golpearam as potências implicadas nesta conflituosa e estrategicamente importante região.

Após o fracasso da reunião do G-20 em Seul, em que pese as críticas da Europa e da China, Obama manteve uma política de desvalorização do dólar que alenta guerras comerciais e monetárias internacionais; as tensões entre a China e os EUA estão também aumentando.

Conter a China é para Washington um aspecto importante dentro de seu “grande jogo” geopolítico: defender sua decadente hegemonia mundial contra potenciais desafios de “potências emergentes”. A Península coreana tem um importante lugar nesta estratégia. Para Washington resulta “funcional” a elevada tensão regional, digna dos tempos da “guerra fria”. Contando com a Coréia do Sul como um aliado chave frente à China, que apóia a Coréia do Norte, o alto nível de confronto lhe permite justificar sua presença militar nesta parte da Ásia, manter o Japão alinhado detrás de sua estratégia. Por tudo isso, não tem muito interesse em desativar uma tensão que enquanto desgasta a Pyongyang impede Seul de dirigir uma reunificação para se erguer como uma potência capitalista com maiores ambições próprias e preocupa a China. De fato, Washington está utilizando a crise atual para pressionar a China.

A situação pode terminar em guerra?

Não parece ser a perspectiva imediata, ainda que não se pode descartar que novos choques militares iniciem uma escalada de resultados imprevisíveis. Os interesse em jogo são muito importantes e envolvem as relações de força entre a China e os EUA. Os EUA estão demasiadamente comprometidos no Afeganistão e no Iraque para abrir uma outra frente de semelhante importância. Por isso, é possível que a tensão se mantenha com altos e baixos indefinidamente ou termine lançando por terra a reabertura das conversações.

Contra o imperialismo, suas sanções e ameaças

O imperialismo não deixará de aproveitar a situação para intensificar sua agressiva política em relação à Coréia do Norte. Chamamos a enfrentar a política de sanções e represálias que os Estados Unidos e seus aliados impulsionam, assim como qualquer ataque contra a República Popular da Coréia.

O primeiro requisito para a paz na península é a imediata retirada das forças norte-americanas. Fora o imperialismo ianque da região!

O imperialismo utiliza os traços mais repulsivos da ditadura dos Kim para encobrir seus fins com demagogia democrática e de “não proliferação nuclear” (cínico critério que não aplica a seus aliados como Israel nem à sua própria condição de superpotência atômica). Mas os trabalhadores e os povos do mundo devemos nos posicionar pela defesa da Coréia do Norte contra qualquer agressão imperialista.

Os socialistas sustentamos o direito democrático do povo coreano à reunificação nacional e afirmamos que a mesma pode ser resolvida de maneira progressiva com a conquista de uma Coréia Unida, Operária e Socialista.

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