Domingo 28 de Abril de 2024

Juventude

FRENTE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER PRATICADA NO RODEIO DAS GORDAS

O movimento estudantil da Unesp lança grande campanha contra a opressão

11 Nov 2010   |   comentários

por Daniel Bocalini, Evandro “Harry”, Cacau, Rene e Pedro – membros do Diretório Central de Estudantes da Unesp-Fatec e da LER-QI

A opressão que sofrem as mulheres, os homossexuais e o povo negro todos os dias ganhou notoriedade no país nas últimas semanas devido à onda de violência protagonizada por jovens de classe média e até pelo exército no Rio de Janeiro. No “mundo virtual”, essa “gente” se sente ainda mais livre e protagoniza campanhas reacionárias contra o povo nordestino e até diretamente fascistas. O elemento novo é que o que há de pior da sociedade, essa “poeira de humanidade”, coloca a cabeça de fora estimulada pelo clima obscurantista que marcou a campanha eleitoral de Dilma e Serra, que disputavam quem seria o maior inimigo dos direitos democráticos.

O ato de barbárie intitulado “rodeio das gordas” ocorrido nos jogos universitários organizados pelas atléticas, o INTERUNESP, está ligado a essa onda, sendo uma nova forma decrépita da opressão e humilhação, que exige uma resposta contundente da comunidade universitária e da sociedade. Como colocamos na nota pública do DCE (leia no blog http://dceunespfatec.blogspot.com), esta ação concentra a expressão de parte do que há de pior na universidade brasileira hoje: a decadência do projeto de universidade da burguesia, que tem um currículo, estrutura de poder e meios de sociabilidade voltadas para o mercado, para a competição, sem nenhum questionamento aos valores mais reacionários da sociedade nem em relação ao sofrimento das massas exploradas e oprimidas do país que nela não podem entrar devido ao filtro elitista e racista do vestibular.

É por isso que o DCE da UNESP-FATEC, composto por militantes da LER-QI, do Pão e Rosas e independentes, como parte do combativo movimento estudantil que vem se forjando nos últimos anos na UNESP, está impulsionando junto a entidades estudantis de base e diversos setores, uma grande campanha em repúdio ao “rodeio das gordas” e exigindo a expulsão dos idealizadores e executores desse ato execrável. Nosso objetivo é que essa campanha se aprofunde cada vez mais e vá além, transformando a Unesp num pólo irradiador da luta contra a opressão, que precisa ser duramente combatida pelo movimento estudantil, sindical, feminista, LGBTT e de direitos humanos. Somente uma ampla frente única que promova ações contundentes, pode fazer parar essa onda de ataques e humilhações. Nesse sentido, saudamos a Ordem dos Advogados do Brasil, as Católicas pelo Direito de Decidir, a ANEL, o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Sexualidade e todas as demais organizações, professoras/es, entidades, artistas, membros da Anistia Internacional, jornalistas e intelectuais que se pronunciaram contra esta brutalidade e chamamos a construir uma ampla campanha militante para punir os agressores e intimidar estes setores reacionários que estão agindo de forma cada vez mais aberta e impunemente.

A política da burocracia acadêmica: conivência com os agressores, intransigência com o movimento

Não é o primeiro caso de opressão na universidade que a burocracia acadêmica não responde. Inclusive, há poucos dias, estudantes de Botucatu agrediram homossexuais numa festa. Quando não omite ou se cala, a burocracia acadêmica chega a punir as vítimas (ver nota DCE). Não bastando, promove o Interunesp com dezenas de ônibus e divulgação no calendário oficial. Assim, mantém seus profundos laços com as atléticas que com suas festas e hinos são porta-vozes do machismo, homofobia e racismo nas universidades.

Uma expressão concreta da conivência com o caso, apesar de sua nota pública contrária, é que quis limitar o caso como um problema de Assis, que se restringe a dois estudantes, os quais se nega a divulgar os depoimentos e diz que o relatório da comissão criada e controlada por eles sairá apenas em 28 de dezembro, ou seja, quando todo o país está parado para as festas. Não poderia ser mais fiel no seu objetivo de fazer tudo “acabar em pizza”. A burocracia acadêmica virou a porta-voz do “direito de defesa” dos violentadores, mas quando é para punir os que na universidade lutam contra o projeto privatista e elitista que gera esse tipo de gente, e não permite que na universidade possam entrar ou permanecer estudantes negros, pobres, gordas, etc, a punição é sumária, como se demonstra na expulsão a alguns anos de 7 membros do movimento estudantil de Franca, nas sindicâncias contra lutadores como em Bauru, repressão que é parte de uma política das reitorias nas universidades estaduais paulistas (ver outros artigos neste jornal) para barrar a resistência aos planos tucanos de privatização, mercantilização do ensino, terceirização, demissões, etc.

Por isso, a partir do DCE, estamos defendendo a criação de uma Comissão de Investigação Independente, que envolva estudantes e entidades de luta contra a opressão, para fazer uma verdadeira apuração e punição. Exigimos que seja publicado os depoimentos dos 2 estudantes de Assis já denunciados, bem como a paralisação da universidade no dia 25/11, dia de luta contra a violência à mulher. Para nós, essa batalha é parte de uma luta por um novo projeto de universidade que passa por questionar a atual estrutura de poder. Basta de uma universidade gerida por uma pequena casta de professores coniventes com este tipo de barbaridade!

Uma campanha que já deu importantes demonstrações de força

O primeiro campus a se mobilizar foi o de Assis, onde mais de 200 estudantes organizaram um ato, a partir da coragem de duas estudantes de denunciar 2 estudantes deste campus que fizeram parte dos mais de 50 que realizaram tal brutalidade.

A partir da denúncia, o movimento estudantil da Unesp assumiu para si, como parte da nossa luta por um novo movimento estudantil, a tarefa de organizar uma grande campanha contra a opressão. Em Bauru, as entidades se mobilizaram rapidamente e realizaram um ato contra a opressão que teve repercussão na imprensa local. Em Rio Preto, dezenas de ativistas realizaram no dia 11/11 um importante ato através do qual conseguimos ser recebidos pelo Fórum de Vice-Diretores onde exigimos que o mínimo que as diretorias devem fazer é conceder o mesmo número de ônibus que foram cedidos ao Interunesp para a realização do “I Festival Interunesp Contra a Opressão” que está sendo organizado pelo DCE (ver box nesta página). Em Franca o DCE fez uma intervenção na última Congregação, instância máxima na unidade, obrigando-a a votar uma nota de repúdio ao ocorrido no Interunesp e a também se comprometer com o transporte. Em vários outros campus também estão se espalhando os debates e ações.

No campus de Marília, que vem se destacando nacionalmente pelas lutas que o movimento estudantil vem protagonizando, foi onde as atividades mais romperam a rotina no campus. Os estudantes organizaram panfletagens, cartazes, exposições e, no dia 11/11 realizou-se o maior debate do ano na universidade chamado: Violência no Interunesp, reflexo da sociedade. O debate foi organizado pelo Pão e Rosas e contou com a participação de cerca de 200 pessoas. Antes do debate, foi apresentada uma música e uma peça em protesto, que emocionaram o plenário. Participaram da mesa as professoras Lúcia Morales (Antropologia) e Tânia Brabo (Pedagogia). No site da LER-QI temos artigos completos sobre as atividades.

A mobilização dos estudantes conseguiu arrancar uma negociação com a reitoria no último dia 17/11, na qual mais de 90 estudantes vieram dos campus São Vicente, Botucatu, Ourinhos, Rio Preto, Rio Claro, Franca e Marília para manifestar-se na porta da reitoria em São Paulo, recebendo apoio de estudantes da USP, Unicamp, PUC, Fundação Santo André e do Sintusp. A reitoria disse que não atenderia se tivesse ato e que a reunião seria de apenas 1 hora. Conseguimos impor uma negociação de 3 horas, com a manifestação na porta e que se discutisse tanto os pontos relacionados ao Interunesp, quanto à permanência estudantil, estrutura e representação discente (ver pauta no blog do DCE). Uma vez mais , resistimos frente à PM, com a população mais uma vez nos apoiando, que quis impedir nosso direito democrático de manifestação na rua. A reitoria mostrou novamente sua intransigência, fazendo defesa da sua política em todos os terrenos. Frente à pressão do movimento, depois de muita enrolação, arrancamos o mínimo: um compromisso da reitoria de soltar uma carta para as diretorias dos campus orientando a liberação de ônibus para o festival, assim como um aumento do atendimento da demanda de bolsas sócio-econômicas que hoje é de apenas 40% para 60% em 2011, assim como um compromisso de aumento gradual. Não podemos ter nenhuma ilusão de que essas promessas estão garantidas. Nossa tarefa é aprofundar a mobilização para arrancar essas e outras conquistas, que somente se efetivarão se mostramos novamente nossa força no festival e nas mobilizações.

Todos ao I Festival Interunesp Contra a Opressão nos dias 3 e 4 de dezembro na Unesp – Marília

Estamos colocando todos os nossos esforços para dar uma demonstração ainda mais contundente de força ainda neste ano, construindo este grande festival, para impedir a impunidade dos agressores, garantindo sua expulsão, e fortalecer a mobilização que vem crescendo não somente no movimento estudantil, mas também com professoras/es e setores de fora da universidade.

Pretendemos não somente dar um grande exemplo de como é possível festejar de maneira distinta da barbaridade destas festas organizadas pela maioria das atléticas, mas também transformar um festival num grande momento de encontro de todos os que querem se manifestar artística e politicamente contra a opressão. Queremos também que o festival seja um grande momento de encontro de todas/os estudantes que ficaram indignados com o ocorrido, para nos integrarmos social e politicamente desde uma perspectiva questionadora da universidade e da sociedade, na perspectiva da luta contra a opressão.

Queremos que esse festival se torne uma tradição da juventude questionadora e criativa, que seja um pólo aglutinador de artistas que transformam a realidade com a sua produção cotidiana e que, além de uma experiência marcante para os que puderem participar, seja uma referencia aos que observarem de longe, para que se inspirem, se fortaleçam e se levantem contra os opressores.

Vários artistas já começaram a confirmar sua participação, aderindo ao chamado do DCE, proporcionando um grande festival que vai combinar shows, peças teatrais, intervenções de artes plásticas, grafite, instalações e muita música. Lado a lado com estes artistas é que conformaremos um exército contra a opressão para fomentarmos a moral dos que, livres, varreremos feito poeira as possibilidades de outro “rodeio das gordas”! Venha construir o festival conosco! Entre em contato com o DCE: [email protected]

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