Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

NÃO PAGAREMOS PELA CRISE DOS CAPITALISTA

Nenhuma demissão de sapateiros!

29 Nov 2008   |   comentários

A crise começa a chegar em
Franca. Depois das demissões dos
trabalhadores das indústrias da
Zona Franca de Manaus, do anuncio
das férias coletivas das montadoras
de automóveis em todo país,
e das já prometidas demissões dos
bancários, fruto das ultimas fusões
de grandes bancos, chegou à vez
dos sapateiros de Franca engrossarem
o rol dos números de demissões
e de sentir no seu aviso prévio em
quem os capitalistas vão despejar
sua crise.

Enquanto Lula ainda anuncia
que o Brasil terá um dos melhores
natais em 2008, já não é o que podem
esperar diversos trabalhadores,
entre eles os sapateiros, que tem visto
seus salários serem comidos pela
alta dos alimentos e que agora são
ameaçados pela miséria e o desemprego.
As demissões que se iniciaram
nas bancas terceirizadas de
pesponto, caracterizada segundo os
próprios proprietários das bancas
como, “a pior crise que já viveram” ,
já chegaram às empresas de maior
porte, tendo como maior expressão
a Mariner que demitiu entre 50 e
60% do seu contingente de trabalhadores
de 800 sapateiros e reduziu
a sua produção de 8 mil para 2,5 mil
pares de calçado por dia.

Esse é só um exemplo inicial
do impacto da crise no setor de calçados
de Franca, que segundo o presidente
do SindiFranca (Sindicato
da Patronal), José Carlos Brigagão,
já sente “os aumentos nas taxas de
juros, nos preços de vários insumos
e na inadimplência; a redução
dos limites de crédito a exportadores
e o desaquecimento dos novos
negócios tanto no exterior quanto
no mercado interno” [1]. Só nos últimos
meses, ouve uma redução de
14,94% na exportação de calçados
em relação aos mesmos meses do
ano passado [2]. A Mariner teve uma
queda de 20,64% na exportação,
principalmente por que seu mercado
consumidor externo, assim
como grande parte das empresas
do setor, são EUA, Europa e à sia,
destinos que mais vêm sofrendo os
efeitos da crise. Uma onda de boatos
a respeito de mais demissões e
até fechamentos de fábricas de calçados
e o fantasma do desemprego
em massa assombra os trabalhadores
na cidade que nos últimos anos
viram várias fabricas grandes, como
a Samello e a HB, fecharem, jogando
milhares de trabalhadores na rua
ainda a espera de seus mínimos direitos.

Enquanto isso, o sindicato
dos sapateiros que deveria ser um
instrumento de organização combativo
para barrar tais demissões e
exigir que os patrões paguem pelas
suas crises, segue a política do governo
de negar a chegada da crise
e desarma os trabalhadores para a
luta, negociando as demissões em
portas fechadas com a patronal e
as tratando como naturais, tentando
ainda tranqüilizar os trabalhadores,
já que nas palavras do próprio presidente
Paulo Afonso: “Todo final
de ano temos milhares de pessoas
que são demitidas. No ano passado,
só em dezembro, fizemos 3,7 mil
rescisões no sindicato, fora aquelas
que não são homologadas no sindicato
porque o empregado teria
menos de oito meses de serviços na
empresa” [3].

Mais uma vez um sindicato
dirigido pela CUT/PT dá mostras
que está a serviço do governo e dos
patrões e que se faz necessário aos
trabalhadores para responder a crise
lutar também contra essas direções
burocratas e traidoras.

Enquanto os próprios trabalhadores
dizem “é a primeira vez que
acontece isto. Nunca havia presenciado
esta queda de produção e tantas
demissões como vai acontecer” [4],
o sindicato tenta argumentar que as
demissões são normais nessa época
de baixa da produção, como se esse
mecanismo de demissões sazonais
utilizado para livrar os patrões das
suas obrigações trabalhistas pudesse
ser considerado normal.

Os sapateiros não podem seguir
a orientação do sindicato, muito
menos da mídia burguesa e dos
empresários que afirmam que essas
demissões são normais e que a crise
ainda não chegou no setor, só sendo
possível confirmar tal fato a partir
da configuração da retomada da
produção no período entre fevereiro
e abril do próximo ano. Porém, até
lá os trabalhadores já estarão demitidos
e desarmados para combater
esse ataque.

Os sapateiros de Franca, que
nos últimos anos trabalharam em
ritmo alucinado na esteira em troca
de um piso salarial de R$ 520,00
por mês, sobrevivendo, na média,
com R$ 34,00 por dia [5], mas que na
maioria chegam e sobreviver com
R$ 18,00 por dia, e com seu trabalho
e suor enriqueceram como nunca
seus patrões e empresários não
podem pagar nem um centavo dessa
crise, quanto mais com seus empregos.
É mais do que necessário que
os trabalhadores se unam de forma
combativa, recuperem seu sindicato
como instrumento de luta e organizados
a partir das assembléia de
fabricas enfrentem com todas suas
forças esse primeiro de uma série de
ataques aos sapateiros.

. Nenhuma demissão de sapateiros!
. Que os empresários e patrões
paguem pelas suas crises!
. Assembléia dos trabalhadores
da Mariner já!
. Pela imediata abertura do livro
caixa das empresas que ameaçam
demitir.
. Pela punição às empresas que
demitem.
. Diminuição e divisão da jornada
de trabalho para que todos trabalhem,
sem redução de salários.
. Reajuste salarial para garantir o
minimo do Dieese.
. Ocupação das empresas que fechem
ou decretem falência, para
administrá-la sob controle operário.

Desde já, nós da LER-QI colocamos
nossas forças a serviço dos
trabalhadores da Mariner e de sua
luta contra a demissão e a miséria
que os capitalistas querem nos jogar.

Depoimentos

"A crise já afeta as grandes empresas, com altos números de demissões. Por isso, já não tenho a garantia que estarei trabalhando amanhã. O nosso sindicato parece que não se importa e nos deixa à mercê de condições precárias de trabalho e o patrão aproveita para reduzir nossos salários e com isso o custo de vida se torna cada vez mais alto."
L. sapateiro de Franca

"Sem dúvida, a crise chegou em Franca. NÃo podemos aceitar que os patrões depositem suas crises sobre nossas costas. Temos desde já que barrar as mesmas que aconteceram graças a um acordo dos patrões com a direção do sindicato petista. Estou entre os demitidos e acredito mais do que nunca que os trabalhadores necessitam se organizar politicamente e se preparar para os desafios que essa crise mundial nos coloca."
C. demitido da Mariner

[1Retirado do site da Assessoria de Comunicação
do SindiFranca. 05/11/2008.

[2Os dados foram fornecidos pela Secretaria
de Comércio Exterior (Secex) e retirados
do site da Assessoria de Comunicação do
SindiFranca. 21/08/2008.

[3Entrevista retirada do Jornal Comércio da
Franca . 19/11/2008.

[4Idem.

[5Dado apresentado pelo Ministério do
Trabalho e retirado do Jornal Comércio da
Franca. 27/11/2008.

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