Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

MAIS UM CAPÍTULO DE LUTA E RESISTÊNCIA DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNESP-FRANCA

Fora o ranço da monarquia da universidade pública! Fora a burocracia acadêmica que o legitima!

01 Sep 2012   |   comentários

Bertrand, herdeiro da família real brasileira, é líder de um movimento que prega abertamente que os grandes latifundiários brasileiros organizem milícias para atacar os movimentos sociais e camponeses que lutam pela reforma Agrária, além de fazer uma defesa fervorosa contra as comunidades quilombolas no interior do País. Já o jornalista Sepúlveda é membro do grupo Tradição, Família e Propriedade (TFP). – LEIA TAMBÉM Nota Do CDB-USP: Todo apoio aos (...)

Em 1934, militantes trotskistas e anarquistas, reunidos na frente única antifascista, conseguiram, inclusive comprometendo os militantes do PCB, organizar uma forte resistência contra o crescente avanço de grupos integralistas no Brasil. Num evento que ficou conhecido como a “revoada dos galinhas-verdes” esses militantes revolucionários conseguiram dissolver um ato dos integralistas na praça da Sé, em São Paulo, e definitivamente colocaram fim nas pretensões dessa excrescência de organização, que defendia os valores mais atrasados e obscuros.

Depois de 78 anos, em outro contexto histórico e em outras proporções, o movimento estudantil da UNESP Franca, na melhor tradição antifascista, conseguiu organizar um grande ato-debate contra a criminalização dos movimentos sociais que reuniu cerca de 200 pessoas na universidade, através de uma ampla frente democrática composta por grupos acadêmicos, organizações políticas e inúmeros estudantes independentes para repudiar a presença Bertrand de Orleans e Bragança e do jornalista José Carlos Sepúlveda, representantes de setores entusiastas do regime militar brasileiro e que pregam abertamente a violência no campo e a morte de trabalhadores rurais sem-terra. 

Bertrand, herdeiro da família real brasileira, é líder de um movimento que prega abertamente que os grandes latifundiários brasileiros organizem milícias para atacar os movimentos sociais e camponeses que lutam pela reforma Agrária, além de fazer uma defesa fervorosa contra as comunidades quilombolas no interior do País. Já o jornalista Sepúlveda é membro do grupo Tradição, Família e Propriedade (TFP), entidade homofóbica e machista, inimiga número um dos direitos humanos e defensora saudosa do regime militar. Ambos ganharam notoriedade realizarem uma campanha fervorosa contra a aprovação de uma emenda constitucional para punir os fazendeiros que se utilizam de trabalho escravo ainda hoje no Brasil.

Vieram à Franca, com o convite de um grupo de extrema direita e com o apoio da direção do campus, para despejar todo seu ódio contra todas as formas de organização operária e popular e fazer mais propaganda de suas ideias que pregam a violência contra os trabalhadores do campo. Como se já não ocupassem espaço e cargos demais nas universidades de todo o país, além da mídia, empresas, governo e etc, os defensores do latifúndio, da propriedade e da criminalização da pobreza foram convidados de honra da burocracia acadêmica e de um grupo que se autoproclama intelectual, apesar de suas ideias terem pouca ou quase nenhuma base científica.

Em um dia que, com certeza, ficará marcado na história da UNESP-Franca, o movimento estudantil, que já possui uma importante tradição de lutar lado a lado dos trabalhadores da cidade, mostra que continua ao lado deles, dos sem terra que lutam por reforma agrária, dos quilombolas, das mulheres, dos negros e dos homossexuais não se seduziram pelo falso discurso de “liberdade de expressão” defendido pelos conservadores. O que eles defendem não se trata de liberdade de expressão, mas sim liberdade para seguir ocupando os bancos da universidade pública para conspirar contra a própria população, para seguir despejando seus rios de preconceito, para colocar a universidade cada vez mais a serviço dos ricos e latifundiários contra os interesses da maioria da população. Liberdade de opressão, liberdade de violência, liberdade de exploração, da classe dominante sob a classe trabalhadora. Liberdade para a classe dominante continuar no poder e para os operários, miséria profunda e trabalho precário, além de falta de acesso à moradia, saúde, educação, cultura, lazer e etc.

O mesmo setor que hoje defende essa suposta “liberdade de expressão” não se indigna nenhum pouco com essa situação da classe operária. Não se indignou nenhum pouco quando estudantes racistas picharam na Unesp de Araraquara contra a presença de estudantes negros na universidade pública “sem cotas para os animais africanos”. Também não se indignou quando alunos da Unesp fizeram o asqueroso “Rodeio das Gordas”, aonde ‘montavam’ em mulheres que definiam fora do padrão de magreza. Muito menos se movimentaram para que esses estudantes fossem punidos pela violência que praticaram.

Ao contrário, o movimento estudantil que batalha para ser a voz da classe trabalhadora na universidade, até que estes ocupem todas suas cadeiras, é parte ativa de denunciar os casos de racismo, machismo e homofobia dentro e fora da universidade. É parte constante dos movimentos que acontecem em pró da classe trabalhadora e do povo oprimido – é parte do movimento pela estatização do transporte público, é parte das ações conjuntas com a juventude trabalhadora e da periferia que organiza seus debates, como no 1º Fórum da Consciência Jovem, é parte dos movimentos sociais que lutam pela reforma agrária, é parte da luta dos sapateiros historicamente em defesa dos seus direitos, em especial o de eleger seus representantes sindicais e contra a exploração do trabalho e sua jornada extenuante.

Mostrando que os latifundiários, empresários e toda a classe dominante hoje estão no comando das universidades, apoiada numa estrutura de poder que concentra as decisões nas mãos dos professores e afirmando da pior maneira que não há espaço para liberdade de expressão aos que questionam esse projeto de educação elitista, lançam mão do aparato repressivo e de manobras acadêmicas para suspender, expulsar, punir os estudantes e demitir funcionários. Na USP, pelas mãos do reitor João Grandino Rodas, exemplo para os diretores e burocracia acadêmica das outras universidades, foram 73 presos na luta contra a presença da polícia militar na universidade. Ainda na USP, expulsões, sindicâncias e processos administrativos estão em curso contra os que se põe a lutar. Na Unicamp e na Unesp, a repressão aos que se levantam também é regra, com vários exemplos de perseguição aos estudantes de distintos campi, e com ameaças constantes de sindicância aos que ousam se colocar em aliança com a classe operária.

E por mais surpreendente que pareça após a ação do movimento estudantil de Franca algumas organizações monarquistas e ruralistas mostraram a sua cara e estão exigindo punição aos estudantes que participaram do ato realizado por centenas de pessoas.

Esses grupelhos, que frequentemente habitam as redes sociais defendendo a perseguição aos homossexuais, que vociferam contra qualquer medida que envolva os direitos humanos e que reivindicam com orgulho o regime militar brasileiro, são os mesmos que agora pedem a cabeça dos estudantes de Franca.

Não podemos permitir qualquer punição aos estudantes da Unesp Franca que colocaram para fora esses senhores representantes do que há de pior na política brasileira. O movimento estudantil, sindical e grupos de direitos humanos de todo o país precisam se manifestar contra qualquer represália aos estudantes de Franca.

Para nós da LER-QI o movimento estudantil deu um grande exemplo para o conjunto do movimento estudantil brasileiro. Mostramos que nossa luta, ao contrário desses novos “pintinhos verdes” do CIVI, vai para além das redes sociais. Nossa luta é cotidiana, real e incansável. Nosso ato foi pelos operários sapateiros de Franca que acordam pela madrugada para se preparar para um longo e duro dia de trabalho. Nossa luta foi em defesa de nossos irmãos no campo que nas madrugadas frias ocupam terras para produzir alimento e viver dignamente. Nosso grito de repúdio foi pela liberdade para poder exercer nossa sexualidade da maneira como queremos sem ter que nos esconder. Nossa palavra de ordem é o eco do grito de resistência dos negros que lutam por sua sobrevivência há mais de quatro séculos.

A luta dessa “terça vermelha” é em homenagem a todos os heróis do povo brasileiro que tombaram. Nesse momento, lembramo-nos dos militantes tombados pela ditadura militar. Dos camponeses assassinados no massacre de eldorado dos Carajás, do massacre do Carandiru, do massacre da candelária, da invasão pela PM no Pinheirinho e tantos outros genocídios contra os trabalhadores e o povo pobre que são causados por grupos e setores que hoje cinicamente falam em liberdade de expressão. A luta dessa “terça vermelha” é em homenagem aos mineiros sul africanos em greve que morreram nas mãos da polícia assassina. É em nome da Primavera Árabe, dos mineiros da Espanha, da juventude chilena, canadense, grega e de toda a juventude que se coloca a luta contra a crise econômica mundial e pela construção de um mundo novo. A luta dessa “terça vermelha” é para se ligar aos trabalhadores em greve de Suape, de toda a construção civil e da greve do funcionalismo público que enfrenta a repressão e se levanta contra o governo de Dilma e do PT que tenta passar vários ataques à classe trabalhadora para proteger os lucros da patronal e a estabilidade da classe dominante. A luta dessa “terça vermelha” é pelas terceirizadas da USP, estudantes e demais trabalhadores dessa universidade que lutam contra a precarização do trabalho e do ensino.

A partir dessa luta e da assembleia massiva que foi construída no campus pós ato, com a reafirmação da nossa aliança com a classe operária e os movimentos sociais, é ainda mais necessária a articulação com as outras universidade em que estudantes e funcionários são reprimidos pelos governos federal e estadual através de seus representantes na burocracia acadêmica. É preciso que a Unesp se coloque a frente numa grande campanha nacional contra a repressão e que organize seu Ceeuf (Conselho de Entidades Estudantis da Unesp e Fatec) nessa perspectiva, para que unamos todos os lutadores dentro das universidades junto com sindicatos, entidades, grupos políticos, de direito humanos, etc para construir uma universidade a serviço dos trabalhadores e da população pobre. Para partir do questionamento da universidade de classe para o questionamento da sociedade de classes.

Somos fortes. Nossa disposição na luta em defesa dos trabalhadores é indestrutível. Podemos mudar a história e junto com os trabalhadores e povo pobre o faremos.

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