Terça 16 de Abril de 2024

Juventude

ATIVIDADE POLÍTICA E CULTURAL DA JUVENTUDE TRABALHADORA FRANCA-SP

“Dar um futuro a juventude, dar um futuro ao mundo”: mais de 400 pessoas participam do 1º fórum da consciência jovem

20 Jun 2012   |   comentários

Aeroporto, vê se me escuta, uma só classe uma só luta!

Foi assim, cantando o nome de um dos bairros operários mais populosos de Franca, cidade que tem como sua marca a indústria calçadista mais forte do país, com cerca de 30 mil sapateiros e sapateiras, que se iniciou o ato de encerramento do ‘1º Fórum da Consciência Jovem’ realizado entre os dias 30 de março e 03 de junho, pelo Coletivo Angá, grupo de jovens da periferia de Franca que uniu suas forças pra expressar através da arte e da cultura que a juventude precisa se organizar e cumprir o seu papel junto à classe trabalhadora para transformação radical da sociedade.

Neste fórum, aconteceram três debates no bairro, dois deles nos Centros Comunitários com a participação dos alunos da E.E Profº Sérgio Leça Teixeira e E.E Evaristo Fabrício e o último na Escola Estadual Lydia Rocha Alves, aonde cerca de cem alunos, junto com funcionários da escola e professores, debateram junto com o professor de Sociologia e militante da LER-QI, Jorge Requel, o papel da juventude na sociedade de classes frente à crise econômica e a luta por uma educação pública de qualidade, que passe por escolas aonde crianças e adolescentes tenham uma educação emancipadora, em que toda a comunidade possa decidir os rumos da escola, em que os grêmios estudantis cumpram seus papéis de entidades políticas e acima de tudo, o conhecimento esteja a serviço de libertar todo o povo pobre e trabalhador que sofre com as mazelas de um sistema econômico que joga a maioria da população mundial na miséria.

Foi debatido também, o acesso e permanência ao ensino superior público, como a necessidade do fim do vestibular e todo um programa de permanência estudantil que permita aos jovens trabalhadores e pobres entrarem e se manterem na universidade pública, produzindo conhecimento a serviço da classe que pertencem e lutando para resgatar a história de enfrentamento e combates, mas também de êxitos e vitórias que os trabalhadores já tiveram, que os últimos anos de neoliberalismo tentaram arrancar da classe trabalhadora.

A partir das greves das federais contra o sucateamento das universidades públicas, e também da luta contra a presença da polícia militar no campus da USP e a luta pelo fim da ’ditadura de ontem e hoje’ pra que possamos acertar as contas com o nosso passado e presente, a crescente repressão por parte dos governos estadual e federal, através de suas polícias, também foi parte do debate, destacado por uma das professoras presentes que saudou a luta dos estudantes da USP e desmascarou o papel que a mídia cumpre ao se aliar a reitoria, governos e toda classe dominante, e escondendo o real motivo de luta dos estudantes, por uma educação pública e de qualidade e emancipadora.

A situação dos professores também foi destacada, partindo da necessidade da aliança entre estudantes e professores pra barrar os ataques à educação pública que regida pelos planos internacionais que mercantilizam o ensino tem avançado na precarização dos professores, dividindo-os em categorias cada vez com menos direitos, com mais aulas durante o dia, com salas mais cheias sem expansão de verba e estrutura, dividindo efetivos e temporários, e principalmente, professores e alunos, pra que fique mais livre o caminho de implementação de uma educação privatizada e com seu conhecimento (e mão de obra) a serviço dos lucros das grandes empresas.

Um dos alunos secundaristas presente falou sobre a importância de todos se organizarem em comum, pra que a voz da juventude de esquerda, trabalhadora e pobre possa ecoar aos quatro cantos do mundo – e fazer valer todo o seu potencial de mudança do estado de coisas.

Ô Sapateiro pode lutar, a juventude está aqui pra te apoiar!

No último dia do Fórum, depois do ato, começou uma grande manifestação cultural na E.E Lydia Rocha Alves, aonde mais de 300 jovens, estudantes e moradores do bairro, passaram pela escola e viram apresentação de teatro, de músicas, de dança, oficina de grafite, entre outras formas de expressão e de combate a miséria da vida que nos é imposta.
As atividades ocorreram durante todo o domingo e foi saudada pelas organizações e coletivos que construíram o fórum e aproveitada por todos os presentes, que contagiaram o ambiente, mostrando o espírito de luta, o sentimento de paixão e revolução, típicos da juventude e necessários para humanidade inteira.

Thales, do Instituto Periférico, importante grupo de RAP da cidade e do Coletivo Angá, destacou através de suas músicas e falas a realidade da juventude trabalhadora, negra e pobre que se enfrenta com o preconceito, com a miséria econômica e social e que precisa resistir e construir um mundo sem exploração e opressão.

Tuanny falou pelo Coletivo Angá agradecendo a presença de todos e explicitando a felicidade do Fórum realizado e de retomar em suas mãos e na de todos presentes a possibilidade dos trabalhadores e jovens se organizarem nos bairros, se expressando através da arte e se fortalecerem neste importante combate ao sistema que vivemos.

Dú do Ponto de Cultura “Pedra no Sapato” e militante histórico do Hip Hop também saudou a iniciativa, destacando a importância na unidade de ação e reflexão da juventude. Saudou os estudantes da USP dizendo que a polícia que hoje reprime os estudantes é a mesma que cotidianamente reprime a juventude negra e pobre nas periferias e se disponibilizou pra futuras ações conjuntas.

L, sapateiro da cidade e militante da LER-QI, a partir de uma fala bastante emocionante, relatou a situação dos sapateiros, que há anos vêm sofrendo com o arrocho salarial, as péssimas condições de trabalho, a expansão do trabalho precário nas bancas de pespontos terceirizadas e mais recentemente o banco de horas, legitimado pelo ‘novo sindicato’ dos sapateiros, que nada mais é do que um golpe judicial, de patrões e sindicalistas, que se aliaram pra colocar como representante dos trabalhadores oficialmente, um sindicato que não foi eleito pelos sapateiros, que não lança mão dos mecanismos de democracia operária, como assembleias, comitês de fábricas e nem dos seus métodos históricos de luta, como greves, piquetes, como forma de preparação da burguesia pra enfrentar a crise econômica e seus desdobramentos, que desde 2008 já vem atingindo o setor de alguma forma e tende a se aprofundar.

Aliança revolucionária é da juventude com a classe operária

Quando o Coletivo Angá convidou nós da LER-QI para construirmos conjuntamente o ‘1º Fórum da Consciência Jovem’, discutimos toda a falta de acesso à cultura e lazer que enfrenta a juventude de Franca que não pode desfrutar de bibliotecas, cinemas, teatros, espaços públicos e coletivos (e de maneira geral, a juventude trabalhadora e pobre de todo o país) e de como algumas pequenas iniciativas relacionadas a isso, ficavam reduzidas ao público jovem do centro da cidade e com isso, distante dos milhares de jovens sapateiros, estudantes, que moram nas periferias e nos bairros operários da cidade.

Esse cenário na verdade, é parte de uma realidade em que governos municipal, estadual e federal que defendem a manutenção do sistema econômico em que vivemos, retiram da classe trabalhadora todo e qualquer direito de se desenvolver plenamente, seja como poetas, estudantes, professores, desenhistas, músicos, ou em qualquer profissão que o processo do nosso trabalho não esteja alienado e o fruto dele comercializado em base a regras do mercado.

Nos impedem o direito de ir e vir, com os grandes monopólios das empresas de ônibus, como no caso da Empresa São José, com licitações corruptas e principal financiadora da campanha eleitoral do atual prefeito do PSDB, negando o direito ao passe livre para todos, e mantendo uma das passagens mais caras do país.

Nos impedem de ter acesso à saúde pública de qualidade, deixando nossas famílias em eternas filas de unidades básicas de saúde e nos prontos socorros, com infinitos, tristes e revoltantes casos de companheiros e companheiras que morrem nessa espera, às vezes dentro dos hospitais ou em suas casas, sem serem atendidos ou depois de serem liberados mesmo em más condições de saúde, por falta de leitos ou de exames que diagnostiquem os reais casos de doenças, como foram os casos de muitos trabalhadores e pobres que morreram na fila ou depois de liberados erroneamente no pronto socorro “Dr. Janjão”.

Nos impedem de ter acesso a moradia, com aluguéis cada vez mais caros, mesmo com muitas casas vazias, por conta da especulação imobiliária, e ainda por cima, começam um processo de desocupação das casas construídas em áreas públicas, passando o trator por cima de casas e planos de vida de moradores pobres e trabalhadores, usando como exemplo para a cidade o desumano caso do Pinheirinho, onde milhares de trabalhadores foram arrancados de suas moradias pela polícia militar, que deixou feridos e mortos a mando do governo do estado de São Paulo garantindo os interesses de um especulador corrupto da região.

Enfim, combinam a privatização de todos os nossos direitos com cada vez mais horas de trabalho nas fábricas, no comércio e serviços, para que junto com o rebaixamento do nosso salário, nos impeçam de desenvolver, de sonhar e de viver.

É por isso que decidimos que basta desse sistema de poucos e que a mudança que precisamos só se dará com a força e radicalidade da juventude aliada com a experiência e potencial transformador da classe operária. Em Franca é a juventude trabalhadora, os estudantes e sapateiros que voltarão a se colocar às ruas contra um por um desses ataques, mas também pra construir um mundo novo, em que a maioria da população seja livre, solidária e realmente humana.

Convocando a juventude a se aliar aos sapateiros e quebrar a passividade de Franca, o 1º Fórum da Consciência Jovem terminou marcando o início de uma nova etapa, aonde inspirados nos estudantes do Chile, Canadá, Espanha, México, Grécia, nos lutadores da USP e das greves federais, nos mineiros de Asturias, dos operários da construção civil, mas sobretudo na própria história dos trabalhadores de Franca, a juventude que se uniu segue em frente e convida a todos estudantes e trabalhadores a irem às ruas e tomarem o futuro da humanidade em suas mãos, enfrentando a crise econômica e construindo uma grande corrente de lutadores que seja capaz de colocar Franca, uma importante cidade operária, a serviço da transformação radical da sociedade. É nessa perspectiva que nos colocamos!

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