Segunda 29 de Abril de 2024

Movimento Operário

REPRESSÃO POLICIAL

Mais uma chacina policial em São Paulo

10 Aug 2012   |   comentários

Quase um ano depois de uma grande luta levada a frente pelos estudantes da USP, cujo saldo foi o questionamento aberto da atuação da polícia de SP, que depois seguiu reprimindo como em sua atuação na Luz (“Cracolândia”) e no Pinheirinho, acompanhamos recentemente uma escalada sem precedentes da violência policial no Estado de São Paulo. Segundo dados da própria Ouvidoria da Polícia, 36 pessoas foram mortas por mês pela PM entre fevereiro e abril de 2012. Em maio, o índice saltou para 52 casos (alta de 44%). O batalhão da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), a unidade de elite da polícia paulista criada nos anos mais sombrios da ditadura, aumentou seu índice de letalidade em 78% em um período aproximado de cinco anos, entre 2007 e 2011. A Rota matou 46 pessoas que teriam supostamente resistido à prisão em 2007. Nos anos seguintes o número foi se elevando até atingir 82 mortes em 2011. Neste ano, em apenas um caso, a Rota assassinou, sem qualquer chance de defesa, seis pessoas na zona leste de São Paulo.

Durante o mês de junho de 2012 os dados já apontavam dezenas de jovens mortos pela polícia. Há inclusive relatos de vários toques de recolher realizados pela polícia em alguns bairros da periferia. A população foi impedida de sair das suas casas pelos policiais. Esses dados, que nos últimos meses estiveram mais altos do que nunca, apenas mostram uma parte (sabemos que o número de mortes e torturas causadas pela PM é bem maior do que os dados oficiais) do cotidiano dessa instituição. E mais, segundo recente pesquisa do instituto “sou da paz”, 93% das mortes causadas pela polícia ocorrem na periferia. Fica mais do que claro que são os trabalhadores, sobretudo os mais pobres e precarizados, que moram nos bairros periféricos, os que mais sofrem com a brutal violência da polícia. Ainda assim, até mesmo setores da classe média alta tem sido vítima da violência policial dos últimos dias, como foi o recente caso do publicitário Ricardo Aquino, que foi morto com dois tiros à queima roupa pela polícia paulista.

A crise da PM paulista tem ganhado a mídia, e a USP não se insere somente no debate frente ao conflito ainda aberto, em que centenas de estudantes críticos lutam pela retirada da PM da Universidade. A burocracia acadêmica e seu grupo de intelectuais deixam a cada dia mais claro que seu projeto em nada tem a ver com a “proteção” dos estudantes ou com os grandes problemas sociais, mas sim com a “proteção” da ordem social capitalista: a constituição de um novo currículo da PM sendo estudado em comum por coronéis e intelectuais da USP, como foi noticiado pela mídia paulista nos últimos dias. É a tentativa de humanizar a repressão e apaziguar os conflitos, deixando claro que a entrada da PM na USP é parte de um acordo estratégico em que se busca colaborar com o projeto de reformas internas dessa instituição que vem sendo bastante questionada.

Sabemos que a cara truculenta dessa instituição herdeira da ditadura militar brasileira, não se trata de um problema pontual em São Paulo, mas sim é parte de um aparato repressivo nacional e necessário para os grandes capitalistas e seus governantes de nosso país. Se em São Paulo qualquer tentativa do petismo de questionar a “truculência tucana” não se sustenta com uma aliança entre Hadadd e Maluf, nacionalmente vimos na repressão de Jirau e Suape, nos projetos das UPPs, e em todos os recentes projetos de Dilma, que é a mesma prática de utilização da instituição policial para conter e mascarar os problemas sociais desse sistema miserável. Com seu falso rosto “democrático” ou com suas chacinas sem máscaras, seguiremos vendo, como sempre foi na história desse país, o povo trabalhador, em primeiro lugar a juventude negra, sendo reprimida por essa instituição a nível nacional. Em tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas, a tendência é que esse cenário se aprofunde frente à crise capitalista mundial.

Defender a juventude negra, e lutar ao seu lado, é tarefa central da esquerda brasileira para desmascarar e enfrentar esse aparato repressivo que segue vigente e fortalecido com Dilma. Nem UPPs sociais e nem a utópica proposta de uma polícia mais democrática e bem remunerada resolverão o problema da violência policial em nosso país.

Os trabalhadores e a juventude só podem confiar em suas próprias forças: cada piquete, cada greve, cada mobilização e luta na periferia e nas ocupações urbanas devem incentivar a consciência e organização necessária de que a auto-organização será aspecto central na luta também pela dissolução da polícia, uma condição para colocar fim ao genocídio da juventude negra!

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