Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

III Conferência nacional da Liga Estratégia Revolucionária

05 Feb 2006 | Foram quase três meses de pré-conferência que permitiram uma discussão aprofundada e democrática na base da organização sobre os mais diversos temas que estão expressos nas páginas dessa edição especial do Jornal Palavra Operária. Foram intensos debates que se desenvolveram ao longo de 4 dias, nos quais se partiu de uma caracterização da situação política e econômica mundial, latino-americana e especificamente brasileira para definir as tarefas da vanguarda operária e juvenil em nosso país. Em meio ao levantamento dos subúrbios franceses, discutimos a situação internacional, caracterizando a etapa, a crise de hegemonia do imperialismo norte-americano, os conflitos no Oriente Médio e o fenômeno dos governos chamados “progressistas” na América Latina e sobre qual deve ser a política dos revolucionários e nesse marco, discutimos a situação nacional. A III Conferência contou com a colaboração internacionalista do companheiro Emilio Albamonte, dirigente do PTS (Partido de Trabajadores Socialistas) da Argentina e da FT-QI (Fração Trotskista-Quarta Internacional, organização internacional da qual a LER-QI faz parte. Nesse artigo, queremos expressar os elementos essenciais do balanço político que fizemos da LER-QI, quais são as perspectivas que nos colocamos para o próximo período, assim como algumas resoluções importantes.   |   comentários

Nacional em 2005

O balanço de uma organização que tem como objetivo estratégico enraizar-se na classe operária e nas massas deve estar ligado ao programa e à política que levanta para cada situação, já que é esse elemento que pode fazer com que uma Liga ou um Partido possa se ligar a frações do movimento real, principalmente quando há fenómenos na luta de classes. Nesse sentido, caracterizamos que durante 2005 avançamos em conquistar um perfil político distintivo na esquerda respondendo aos problemas políticos nacionais mais de conjunto tanto a nível de massas quanto de vanguarda. Para além das diversas políticas parciais e por estrutura que levantamos, as políticas nacionais centrais que defendemos permitiram-nos conquistar o perfil de uma organização que, apesar de ainda obter modestas forças, levantou políticas corretas.

Durante todo o ano defendemos a construção de um pólo antiburocrático e antigovernista nacional que unificasse setores de vanguarda para lutar contra o governo e a burocracia desde um ponto de vista classista e democrático, lutando conseqüentemente como fração tanto na Conlutas e Conlute impulsionada pelo PSTU, quanto na Assembléia Popular impulsionada pelo PSOL, por isso corretamente. Infelizmente, a correção da política se mostrou pela negativa, já que ao não existir esse pólo, quem mais avançou com a crise nacional foram as forças burguesas sem se desenvolver processos de mobilização de vanguarda mais amplos “por baixo” .

A política de Partido Operário Independente dirigido pelos trabalhadores a partir dos seus sindicatos, como alternativa de massas à falência do PT, e como tática para a construção de um partido revolucionário de trabalhadores também se mostrou correta. Aqui mais uma vez, no âmbito político-partidário, tanto o PSOL quanto o PSTU mostraram como não podem se apresentar como alternativa real para os mais de 70 milhões de trabalhadores assalariados e os mais de 6 milhões de operários industriais no país, restringindo sua política a pequenos setores.

Para derrotar a reforma sindical, na conjuntura em que esse era o debate central nacional com 40% da CUT se colocando “contra essa reforma” (incluindo o próprio PCdoB) levantamos a política de Frente Única Operária (FUO). Infelizmente, o PSTU e o PSOL insistiam que aquilo já era uma FUO sem ter nenhuma política para se ligar à base dos sindicatos do PCdoB.

E por último, durante a crise política nacional, exigimos das organizações do movimento de massas que impusessem uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, mediante a força da mobilização, para acelerar a experiência das massas com essas direções, com a democracia burguesa, ligada à propaganda da estratégia soviética como organismo de poder das massas. Foi uma política afinada para responder com uma consigna democrática radical a situação complexa que se abriu combinando uma profunda crise política nas alturas e uma baixíssima conflitividade da luta de classes.

As tarefas da LER-QI e da FT-QI

A tarefa que nos colocamos de resgatar o leninismo não é fruto de particularidades nacionais, mas a resposta necessária por parte da FT no Brasil, Bolívia, Chile, México, Venezuela, Argentina e Europa, para colocar de pé uma alternativa aos projetos “humanizadores do capitalismo” , não só dos mais “neoliberais” como Lula ou Kirchner, mas também dos mais “reformistas” , como Chávez ou Evo Morales, que não querem questionar até o final a espoliação imperialista do continente, e só pedem ao grande capital industrial e agrário e aos latifundiários algumas pequenas concessões enquanto seguem colaborando para os fabulosos lucros baseados na exploração dos trabalhadores e camponeses.

A recomposição da classe trabalhadora em vários países do continente como Argentina, Bolívia e Brasil, permite colocar mais ofensivamente a necessidade de colocar de pé poderosos partidos de trabalhadores revolucionários e internacionalistas. Partidos que se enfrentem com a social-democracia e o stalinismo que se tornaram aplicadores diretos dos planos do imperialismo e se apresentem como alternativa ao centrismo de direita que participa diretamente de governos capitalistas como o SU (DS-PT) ou impulsiona a construção de partidos “anti-neoliberais” eleitoralistas-reformistas como o PSOL, e com o centrismo de centro, como o PSTU que fala de revolução mas leva uma política reformista na prática. Partidos que superem a concepção superestruturalista e taticista da esquerda que só vê sua construção pela via da superestrutura e dos aparatos, seja pela via parlamentar no caso do PSOL ou pela via dos sindicatos no caso do PSTU, ambos para seguir existindo no marco do regime democrático burguês, que é oposta pelo vértice à concepção leninista de partido. Partidos que preparem seriamente aos setores avançados para levar adiante o único método eficaz para terminar com o saque imperialista e a degradação que provoca a exploração capitalista: a revolução operária e socialista pela via da derrubada revolucionária do Estado burguês pela classe operária organizada em organismos de auto-organização e com um partido da vanguarda revolucionária.

Ou seja, nossa tarefa não é construir “um partido qualquer para uma revolução qualquer” , mas sim uma tarefa inédita no Brasil, salvo uma exceção parcial no trotskismo dos 30, que é a de construir uma organização leninista com uma estratégia para a revolução brasileira.

Lutamos por resgatar o verdadeiro leninismo

Queremos socializar com os leitores do Palavra Operária alguns dos elementos fundamentais do que significa para nós uma “organização leninista” , já que quando se fala na esquerda de leninismo não se vai além de negações da negação do verdadeiro leninismo ou reivindicações de forma grosseiramente deturpadas (seja na sua versão “light” ou dogmática).

Queremos nos consolidar como uma organização com profundas raízes programáticas nacionais, pautadas em um profundo conhecimento da realidade nacional e da história revolucionária da nossa classe, que longe de ser “pacífica” foi sujeito em grandes processos revolucionários. Para isso, vamos elaborar nossas teses fundacionais com um balanço do ascenso operário que se iniciou com o fim do Estado Novo e foi derrotado com o golpe de 1964 e do ascenso operário que se iniciou na década de 70 e foi desviado com a transição pactuada para a Nova República. Modestamente, acreditamos que essas teses poderão ser importante não só para a LER-QI, mas uma contribuição para recompor a história da nossa classe que a esquerda se nega a fazer por porque seria falar dos seus próprios erros.

Nos dedicaremos a construir uma “máquina de propaganda ideológica” , tanto do ponto de vista interno dando centralidade para a formação dos militantes e de uma geração de intelectuais marxistas revolucionários para armar o grupo para a atuação concreta na luta de classes, quanto do ponto de vista externo com atividades públicas, debates estratégicos com a esquerda, círculos marxistas, etc.

Aprofundaremos nossa concepção e prática de formar militantes que sejam não somente lutadores abnegados (que é essencial) mas que estejam preparados teórica, política, programática, ideológica e taticamente para responder aos problemas mais importantes da realidade nacional e internacional e da luta pela revolução. Temos uma concepção distinta da direção do PSTU que secundariza a formação dos militantes, beirando uma concepção meramente utilitária de que o militante é aquele que defende a política do jornal, o vende participa das reuniões e cotiza.

Queremos revolucionar também a relação com os setores independentes com os quais temos relação, combatendo o pragmatismo característico da esquerda, buscando uma relação orgânica através do convencimento político profundo, acordos políticos, frentes únicas, etc. Sem esse elemento, qualquer “capacidade de mobilização” se dará (como é hoje) pela via de uma figura, um caudilho.

Que encare a centralidade da classe operária e a necessidade de se ligar a ela não de um ponto de vista tático ou sindicalista, mas que compreenda que essa é a única classe, pelo papel que ocupa na produção capitalista, que pode cumprir um papel de direção sob o conjunto das outras classes. É por isso que desde a nossa II Conferência giramos a organização para o movimento operário, que a partir desta III vamos aprofundar, apontando para uma construção profunda e dedicação de mais forças.

Uma organização leninista deve ser internacionalista em um sentido amplo e concreto e não como uma consigna vazia como faz o centrismo que se limita a escrever artigos nos jornais e meros discursos. Trotsky caracterizava que “todo centrista vê como algo natural a construção de um partido nacional, mas não dedica o mesmo esforço e recursos a suas tarefas de caráter internacional” . O verdadeiro internacionalismo passa por compreender a situação nacional a partir de uma análise da situação internacional, passando pelo internacionalismo militante que reflete sobre os processos internacionais como se estivesse em cada país para pensar um programa e levar à frente campanhas ativas de solidariedade, até a dedicação de forças para a construção de uma organização internacional. Encaramos a construção da LER-QI como parte da construção da FT-QI e da luta conseqüente pela reconstrução da 4° Internacional, superando o nacional-trotskismo característico de todo o trotskismo desde o pós-2ª guerra. Entendemos como um sistema de análise e ação o fato de sermos parte da classe operária mundial.

Sabemos que enfrentamos um problema estratégico que é o de construir essa organização leninista em uma etapa onde predomina enormemente as ilusões reformistas e o sentimento apolítico entre os operários e estudantes. Mas a experiência com a luta de classes e as direções atuais criará as oportunidades para que essa discussão se torne concreta.

Rumo ao I Congresso da LER-QI

A conferência expressou que nos consolidamos como uma Liga de propaganda e ação e que houve um avanço do grupo de conjunto. No primeiro semestre, além de lançar uma nova Casa Socialista de cultura e política na USP junto com o lançamento da Revista Estratégia Internacional Brasil n° 02, realizaremos o I Congresso da LER-QI para materializar esse avanço e traçar novas perspectivas para a Liga.

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