Domingo 28 de Abril de 2024

Mulher

A TERCEIRIZAÇÃO DO TRABALHO NA PUC-SP

Fundação São Paulo, Dirceu de Mello e Higilimp: escravistas do século XXI

17 May 2009 | “Acho interessante.” Reitor Dirceu de Mello, sobre a terceirização do trabalho, na Audiência Pública em 28 de abril deste ano   |   comentários

O último PUCViva publicou a carta de trabalhadoras terceirizadas da limpeza denunciando as condições de trabalho às quais são submetidas pela PUC-SP e pela empresa terceirizadora Higilimp, condições que vão desde comer em meio à baratas até não receberem vale refeição e vale alimentação. Àqueles que consideram que a terceirização do trabalho é apenas uma maneira de “otimizar” , “facilitar” ou “repassar a terceiros a realização de uma atividade” é necessário esclarecer que essa prática, que se aprofundou desde a década de 1990 com o que é conhecido como neoliberalismo, é uma das formas mais profundas de superexplorar trabalhadores e ao mesmo tempo dividi-los em diferentes categorias de trabalho.

A essa prática, empresários e empreendedores gostam de chamar de terceirização, mas é preciso dizer os fatos como eles são. A terceirização é a forma dissimulada da escravidão [1] no século XXI que condena trabalhadores a condições humilhantes de trabalho, sem os direitos conquistados historicamente pela classe trabalhadora e sem a possibilidade de se organizar politicamente. Por isso, enquanto reina a paz na PUC-SP, numa universidade de “excelência” , supostamente com “diálogo amplo e democrático” , com uma história de luta contra a ditadura, mulheres e homens vivem em condições insalubres e com um salário de miséria, sendo, em suas próprias palavras “tratados como cachorro” . E, quando se tratam das mulheres, sabemos que a situação é ainda pior, pois são elas as que seguem trabalhando em casa, com as tarefas domésticas, trabalhando, portanto, mais de 60 horas por semana.

Essa situação é sustentada pelos mantenedores da PUC-SP, Dom Odilo Scherer e sua Fundação São Paulo e o novo Reitor Dirceu de Mello, que na última Audiência Pública disse “achar interessante” o trabalho terceirizado. Provavelmente todos eles vão querer se “safar” dizendo que é culpa da empresa terceirizadora, a Higilimp, que lucra horrores com essa situação. Dirão que vão exigir a troca das supervisoras e encarregadas, por “pessoas mais dignas” . Poderão inclusive dizer que vão trocar de empresa terceirizada, procurar uma que seja mais “humana” com seus funcionários... dirão por fim que vão tomar as “devidas providências” . Mas não serão capazes de assumir que são eles os principais responsáveis por essa situação, pois são os que sustentam uma estrutura de universidade anti-democrática, onde a comunidade não tem voz, onde não sabemos pra onde vai o dinheiro das mensalidades nem porque foi criada essa crise, e tampouco podemos, a grande maioria, sequer conhecer os “segredos” da administração da universidade, que deve esconder relações escandalosas entre burocracia universitária, empresários das terceirizadas, banqueiros, fornecedores e governantes.

E, mais uma vez, cai a máscara da Igreja. Agora é preciso perguntar: porque a Igreja não faz campanha em defesa da vida dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas? Aonde estão os professores da Teologia que tanto dizem “defender a vida” nesse momento? Bom, talvez a Igreja não considere que é um atentado contra a vida que pessoas sigam comendo bolo mofado e tomando café com sujeira. Sustentam uma instituição (Vaticano) que segue sendo possuidora de um património calculado em mais de 700 bilhões de euros enquanto a fome aumenta, populações sofrem com a falta de planos de obras públicas diante de enchentes, e são construídos muros nas favelas pra esconder o povo pobre e negro...

Aos escravistas do século XXI, que dissimulam e escondem as péssimas condições de trabalho dos terceirizados dentro da Universidade, é preciso repudiar. Isso passa pela luta incansável na defesa dos mesmos direitos e salários e da efetivação de todos os trabalhadores e trabalhadoras terceirizados da PUC-SP, com a possibilidade de se organizarem sindical e politicamente como funcionários da PUC-SP que são, lutando dessa forma pela unidade das fileiras operárias.

Os estudantes devem se levantar contra essa situação, pois enquanto produzem conhecimento, há barbárie capitalista dentro da universidade, e por isso mesmo há que questionar esse conhecimento que produzimos. Se não está ligado a uma transformação desta sociedade, serve apenas para perpetuar essa mesma ordem. Os funcionários efetivos e professores devem tomar pra si essa luta. Que os 3 setores desta universidade se coloquem de pé numa grande mobilização em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizados que denunciaram suas condições de trabalho, pois assim se fortalecerá a unidade dos trabalhadores puquianos, preparando melhores condições para lutar contra as medidas capitalistas da direção universitária e da Igreja “mantenedora” nesse momento de crise!

Nos colocamos desde já na defesa incondicional destes trabalhadores e trabalhadoras mais explorados, para divulgar amplamente suas humilhantes condições de trabalho, para denunciar seus escravistas civis e clericais, e nos colocando a disposição para tudo que precisarem.

Este artigo foi publicado no jornal PUCViva nº 699. Diana Assunção é estudante de História da PUC-SP e trabalhadora da USP. Integra o grupo de mulheres Pão e Rosas (LER-QI e independentes) onde impulsiona a campanha “A terceirização escraviza, humilha, divide.. pela efetivação de todos os trabalhadores terceirizados!”

[1A Igreja Católica, desde meados do século XVI, passou a conceituar a escravidão como um “mal necessário” , colaborando com os colonos portugueses para garantir a mão-de-obra indígena escravizada, fundamental para a economia da época. Como as propriedades e rendas da Igreja estavam vinculadas à “normalidade” da economia colonial escravista, portanto, as autoridades eclesiásticas brasileiras passaram a admitir a “guerra justa” , isto é, a escravização dos índios acusados de “recusa à conversão” (catequese) e “práticas de atos hostis contra os portugueses” . Quando a escravização dos índios se tornou inviável economicamente, a Igreja Católica continuou se alinhando com os opressoes colonialistas, fundamentando-se no conceito de escravidão como mal necessário (para os interesses dos colonizadores e do clero). No século XVIII, as missões jesuítas detinham engenhos de açúcar, criatórios de gato, serrarias e outros bens, além de se tornar o principal proprietário urbano nas principais cidades. A escravidão negra foi tanto necessária como funcional para a formação da Igreja Católica e o acúmulo de propriedades.

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